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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

ANÁLISE: UFC 137 - Diaz VS Penn


Como um gol no último minuto, Diaz e Penn salvam esse UFC 137 de ser o evento mais desnecessário e irrelevante do ano. Poderiam dividir os méritos com Cerrone e Siver caso a direção do UFC não tivesse optado por colocar dois dos maiores lutadores do mundo no card preliminar. Entendo que a última luta transmitida antes do evento pago deve ser boa e motivante para induzir os compradores ainda relutantes a aderirem ao pay par view, mas nunca à custa da sangria do card principal. Levemos em conta que aqui no Brasil temos uma transmissão estelar do canal Combate com todas as lutas, mas nos EUA e resto do mundo, a realidade é bem diferente. Um fã que assine o pay per view do main card, mas não seja assinante da SpikeTV, simplesmente não assistiu 50% do melhor do que o UFC tinha a oferecer nessa noite.

Nick Diaz VS BJ Penn

Quando Diaz flexionou os bíceps, se abrindo como uma naja, escurecendo BJ sob sua sombra imponente e desrespeitosa no dia da pesagem, a luta já estava meio ganha. O veneno que Nick destila no olhar já corria nas veias de Penn quando se encontraram no octagon. Semi paralisado, intimidado, o ex campeão do UFC ofereceu muita resistência e raça, mas pouco perigo ao campeão do Strikeforce.

BJ Penn é bipolar. Tem algum disjuntor em alguma parte de seu espírito que arma e desarma sem aviso. O mesmo pode ser um dos atletas mais perigosos de todos os tempos, capaz de tirar Sherk, Sanchez, Florian, Hughes pra nada. Derrubar e dominar com autoridade o indômito Jon Fitch. Ou ficar estéril, de olhar perdido e duvidoso. Não conseguir mais impor seu jogo contra esse mesmo Fitch, 1 minuto depois de ter feito com ele o que queria, ser completamente dominado por Edgar, contra quem havia feito uma luta extremamente dura meses antes ou ser esmagado que nem papel molhado por GSP sem esboçar nenhuma reação. É o melhor do mundo ou um qualquer. Azar ou sorte de quem está do outro lado, já que o mistério do que o transforma ninguém desvendou.

Penn só ganhou 3 de suas últimas 8 lutas. Por menos que isso muito lutador já foi cortado. Não defendo a remoção de uma lenda como essa do UFC por más performances, até porque só compete contra atletas de alto nível, mas é fato que sua carreira está no último e descendente arco. Não fosse uma pessoa tão intensa, de discurso e carisma tão fortes, com tantos fãs que insistem em acreditar que agora ele vai voltar a ser como antes; como acreditaram em Couture, Hughes, Crocop, Fedor, Sakuraba e outros; Já não despertaria real interesse pelas habilidades que vem apresentando. BJ parece entrar para lutar com a cabeça em outro lugar, com os pensamentos no Hawai, na esposa e filhas. Não acho errado, não o culpo. Depois de anos fazendo tanto pelo esporte, se colocando em risco, cada vez mais o que lutou para construir parece ficar para trás nos meses da luta. O sonho de ser campeão, e a preparação que era o caminho duro e necessário para o maior momento, vira o sonho de manter a família e curtir as glórias merecidas. Antes o sonho estava na frente, no fim do caminho para o dia do combate. Agora, a cada dia de treino, o sonho vai ficando mais longe, lá atrás, em casa. No dia do UFC, dentro do octagon, está o mais distante que pode estar de tudo que realmente preza e ama agora. Grande parte de seu coração está não está ali. Apesar do espancamento, BJ vai voltar a lutar, seja pelo contrato, seja porque veio a esse planeta para isso. Mas sua declaração ao microfone, sangrando e amarrotado, de que essa era a última, que não queria que sua filha o visse dessa maneira, soou mais sincera do que qualquer uma de suas recentes performances.

Começou o combate bem, fazendo frente ao ainda jovem, maldoso e tenaz Diaz. Mas a cada soco lembrava de outras coisas, de porque não queria mais isso tudo. E desistiu. Continuou de pé, como um homem ciente de sua moral e responsabilidade, como um verdadeiro campeão que carrega o cinturão invisível em todos os momentos, e deixou seu corpo abalroar. Pelos fãs, pelo que diz que é, pelo que sabe que já foi, pela sua família, respeito ao adversário e tantas coisas que compõe um atleta íntegro. Entregou sua carne ao abutre e desligou o sentimento. Foi eviscerado, violentamente e sem piedade, morrendo no deserto, estirado e fitando o sol, mas não sentiu dor. Só ossos e nervos como testemunhas. BJ agüentou até o final uma luta que já parecia saber o resultado no dia da assinatura do contrato.

Diaz não tem essa. Não tem pena, não tem medinho, não tem olhinho cheio de água, não foi a lenda que BJ é e não está nem aí. Se guarda sentimentos positivos, esconde bem porque não consigo encontrar em nenhum lugar. Se tem medo, não aparenta. Parece recheado de má intenção, de ódio, frustração, revolta. Diaz arranca um pedaço quando dá bom dia. Não tem respeito, não faz show para câmera, não faz cara de mau para as fotos. Se não fosse lutador, seria bandido ou alguma coisa do gênero. É o anti herói. Não gosta de dar autógrafo, não quer ser exemplo, não quer ser capa de revista, não é bonito, não treina para ficar sarado, não fala coisas legais depois da luta. Diaz veio para confundir. É puro em sua intenção única de desmantelar o adversário.

Seus olhos todos pretos encravados fundo na cara, sua coluna torta, seu queixo proeminente, seu cabelo ruim, sua boca suja, sua índole péssima. São características do homem que veio a esse planeta com a missão de salvar o MMA espancando Georges St. Pierre.

Nick Diaz, que migrou da vagabundagem para o MMA por falta de opção, sente que esse é seu destino. Vencer Pierre, destronar o campeão que quer transformar MMA em aula de matemática, mostrar que esse esporte é visceral, feito de mais do que apenas vitórias e análises de cartel. E GSP vai apanhar e sangrar na ponta dos cotovelos de Diaz. Eventualmente retomará o cinturão, é um lutador melhor, mas já terá sido manchado e o MMA salvo. Diaz sente que é seu destino, está ali para ele pegar tranquilamente e mesmo assim quer na marra. E foi pra cima de Penn como quem vê o futuro. E sem medo de levar diretos de um dos melhores boxers do esporte, agüentou e atacou. O masoquismo de Diaz é sua arma secreta. Gosta de apanhar, só respeita a dor, um marginal de espírito. E apanhou, fechou a cara, e continuou. Sem vergonha de contra golpes limpos que só entram porque a guarda é falha, sem medo de perder com um cruzado no queixo, sem pensar nas novas cicatrizes. Imprensou Penn nas grades e o esmagou como um tsunami contra um recife de corais. Fez como ninguém havia feito, venceu a luta mais importante de sua vida e nem ligou. Sob aplausos não curtiu a glória durante nem um segundo, desgraçado esnobou todo mundo, e clamou por GSP. Quase um messias.

Diaz se tornou um dos maiores do mundo brutal e lentamente. Sangra em quase toda luta, aceita a troca franca, aceita o jogo de chão. Não tem tempo bom. É um lutador doído, amado em segredo. Quando tiramos a mídia, o show de luzes, o marketing, os discursos decorados, a falsa modéstia, a estratégia medrosa, a amarração, a hipocrisia e a luta para pontuar, sobra no meio do octagon apenas Diaz. Cru, real, direto. A célula mãe do que nos faz amar esse esporte, sem maquiagens. Luta pra ganhar, sempre, em qualquer lugar, sem cagaço, sem mi-mi-mi.

Penn merece um lutador pouco menos talentoso para poder se aposentar com vitória. Se ele não quer mais essa vida, não tem porque ser exposto para os novos e ainda desinformados fãs confundirem seu pior momento com o grandioso competidor que foi. E Diaz espera, de braço cruzado, emburrado e fumegando ira, o seu destino ser completado.

Cheik Kongo VS Matt Mitrione

Cerrone e Siver estarem no card preliminar e esse ser o co-main event parece pegadinha. Kongo pode perder mil vezes que enquanto não perder a nacionalidade francesa, continuará no UFC com pompa de top 10. Mitrione poderia ter se tornado um bom lutador caso tivesse começado a carreira 10 anos antes. E num combate que tinha tudo para ser movimentado, por um não temer jamais ser cortado e outro por não levar a carreira muito a sério, o que vimos foi uma briga por migalhas. Pareciam que estavam contando quem dava mais socos de raspão e torcendo para o número bater com a contagem dos árbitros laterais. Sem agressividade, sem tentativa de vitória, apenas ficaram ali. Os dois com tanto medo de perder uma coisa que nenhum deles realmente tem. Credibilidade.

Kongo venceu por pontos, mas não foi pra frente e Mitrione perdeu, mas não andou para trás. Uma luta estática e irrelevante entre dois atletas que se jamais lutassem de novo só iríamos perceber quando aparecessem, com 40 anos, no programa do David Letterman especial com ex lutadores.

Roy Nelson VS Mirko Crocop

Depois de aparecer mais gordo do que o normal, contra Frank Mir, e mal conseguir segurar a guarda alta sem respirar pela boca, Roy foi intimado por Dana White a perder peso. Aquela não era a forma e preparo físico de um atleta profissional, de acordo com ele. Concordamos. O interessante é ouvir o narrador americano Joe Rogan tentando nos convencer de que agora Roy estava em forma, submetido a um treinamento intenso e determinado a lutar pelo cinturão. Nelson não estava em forma nesse UFC 137, estava menos obeso. Diminuiu as chances de ter um micro enfarto fulminante no meio do octagon em 20%, e só começou a perder o gás no meio do primeiro round, quando antes perdia subindo os três degraus da escadinha que levam ao octagon. Roy Nelson não é atleta nem lutador. É um cara pesado, faixa preta de jiu-jitsu e que apanha sem reclamar.

Venceu Crocop e comemorou com sua característica cara de pau. Sem a menor vergonha, declarou aparentemente sem ironia, que havia vencido uma lenda e que era uma das vitórias mais importantes de sua carreira. Não acho bom para o MMA atletas que já fizeram tanto, como é o caso de Mirko, ser usado como boi de piranha para forjar uma subida de cartel de atletas mais novos e sem muito talento. Roy venceu o mesmo homem Mirko Crocop, que barbarizou o mundo anos atrás, mas não venceu o mesmo lutador. São coisas diferentes. E aparentemente, mídia e fãs parecem concordar com isso já que a luta pouco impacto teve em seu ranqueamento ou base de fãs. Uma combate contra Kongo seria apropriado, apesar de irrelevante.

As últimas quatro derrotas de Mirko foram por nocaute ou nocaute técnico. E isso sem contar o nocaute assombroso contra Napão. O que falta para esse homem perceber que sua carreira acabou? Quando um dos maiores trocadores de todos os tempos é nocauteado sequencialmente, é hora de deixar pra lá. Quando Sakuraba foi finalizado por Jason Miller, sua carreira chegou ao fim definitivo, apesar de ainda continuar lutando. Um zumbi do MMA. Esses caras do Pride não desistem, não querem parar. Isso é lindo. Que continuem, se desejarem. Mas é fato que por saúde ou razão, deveriam tomar outro caminho.

Crocop foi um dos maiores, mas hoje em dia, não é mais nada. Sua lenda, sua marca, vai ficar pra sempre. Seus chutes ainda não nocautear tanta gente em nossa imaginação, mas na vida real, no dia a dia duro que é o MMA de altíssimo nível, ele não tem mais espaço. Arrisco afirmar que poderia ser nocauteado por Struve ou Browne.

Donald Cerrone VS Dennis Siver

Deixo aqui a ausência de minhas palavras em protesto a colocação de um dos maiores lutadores do planeta no card preliminar por meros e rasteiros interesses comerciais.

Um comentário:

  1. Sou muito fã do Nick Diaz e adorei tudo o que vc falou. Define bem ele. Fiquei até emocionada haha

    Parabéns!

    Team Diaz All Day!

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