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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

ANÁLISE: UFC 138 - Munoz VS Leben


Em minhas análises não tenho como escrever sobre todas as lutas, o que seria meu sonho. Um dia, com apoio financeiro ideal, talvez eleve minhas criticas pós evento ao nível que sempre quis. Com todas as lutas comentadas para cada um ler o que quiser. Quantos atletas iniciantes se beneficiariam de ter suas lutas imortalizadas de alguma maneira, quantos fãs se divertiriam com o passatempo de ter tanto mais texto para ler em dias sem nada para fazer. Mas, no momento, não tem como ser assim. O que faço então é sempre cortar as menos importantes do card principal ou a de lutadores que considero irrelevantes. Costumeiramente dois desses são Leben e Munoz. Não falo deles, não faço questão de escrever sobre suas performances e me parece que poucos tem algum interesse em vê-los lutar ao vivo, quanto mais ler alguma coisa. Por dardo envenenado da zarabatana do destino fui atingido na jugular, paralisado em meu direito de optar e forçado a escrever sobre esses dois num main event de UFC. Só assim mesmo. Tombo meio morto sobre o teclado, me arrasto para as letras, passo zunindo para longe do meu melhor, sem motivação ou inspiração, martelo minha própria mão na cruz para arrumar o que dizer da pior luta principal desde que a Zuffa adquiriu o Ultimate Fighting Championship.

Mark Munoz VS Chris Leben

Dá para farejar o cheiro do desespero de Dana White para fabricar algum desafiante ao cinturão de Anderson Silva. O que tem a sua disposição são atletas derrotados e desmantelados pelo campeão, mas que insistem em afirmar merecer uma nova chance, ou outros medianos e sem chance real alguma. Desse parto aflito e indesejado, nasce Leben VS Munoz. Uma luta comum, de meio de card, aquele momento todo especial em que a namorada vai ao banheiro e nós preparamos a pipoca. Ou ela vai ao banheiro e depois prepara a pipoca enquanto nós ficamos no twitter. Tanto faz. Essa luta, esse rejunte de tijolo, esse pedaço de alguma coisa, é o grande combate do UFC 138.
Luta principal deve ir além de ser a mais importante do card, deve ser relevante para o MMA naquele momento. Usar os holofotes para nos convencer de que dois lutadores esforçados, porém comuns, são TOP de sua categoria é olhar nos olhos e mentir. Não importa o vencedor, as lutas interessantes que cada um deles poderia vir a fazer depois seriam pela nossa diversão, não por almejarem algo maior em suas carreiras no UFC. Munoz VS Sonnen seria uma boa luta, Leben VS Belfort também. Pelo show, não em main event e muito menos com o discurso de poderem lutar pelo cinturão. Entendo a posição complicada de Dana White e o matchmaker Joe Silva. Os fãs demandam um adversário a altura para Anderson, mas esse atleta não existe no peso. Tem gente talentosa, mas já sucumbiram uma vez e não fizeram nada demais depois para merecer outra chance. O relógio não para, Anderson está envelhecendo, tem lutas que precisam ser feitas por contrato e nenhum claro contender. É uma situação delicada, eu sei, mas não me interessa. Leben VS Munoz não podem ser evento principal.

Munoz é um lutador esforçado, um cara aparentemente gente boa e o grande representante da terra de Pacquiao, Filipinas. Seu valor mercadológico é imensurável caso se torne campeão ou consiga real destaque, mas seu peso como atleta é leve, apesar de lutar no médio. Só tem duas derrotas, mas foram contundentes e emblemáticas. Nocauteado com um chute na cabeça por Matt Hammil que nunca tinha dado um chute alto em sua carreira profissional, e completamente dominado por Okami, apesar de que para quem só olha o cartel no Sherdog sem ter visto a luta, dar a impressão de que perdeu por pouco. Suas vitórias foram sobre lutadores medianos e sem contundência. Um atleta pode mostrar que é especial lutando contra adversários medíocres, desde que os desmantele, destrua, use cada segundo do combate para demonstrar coisas incríveis e superioridade, a exemplo de Renan Barão. Não é o caso de Munoz. Alguns nocautes depois de apanhar e ser dominado por adversários sem muito talento, como foi contra Grove, ou vitórias arrastadas por pontos, mais recentemente contra Maia. Um lutador mais empolgante falando do que lutando. Displicente, com um boxe extremamente obtuso, um bom wrestling, bom gás, e só. Suficiente para lutar no UFC e dar alguns shows, mas jamais desafiar o campeão.

Leben tem coração e queixo para lhe proteger de sua guarda esburacada de primeiro mês na escolinha de boxe, e alcance atrofiado. Parte pra cima, pra decidir, e só não proporciona melhores shows porque carrega em torno de si uma aura de irrelevância constante. O que faz ou deixa de fazer não parece sacudir nem um farelo de poeira no mundo do MMA. Até sua vitória sobre Wanderlei gerou mais comentários sobre a carreira do brasileiro do que o futuro do vencedor. Leben é um trabalhador do esporte. O Gary Goodridge dos tempos modernos. Vai sempre estar ali, aparece no fundo de foto que nem em filme de terror japonês, mas nunca será realmente lembrado. Já teve sua chance contra Anderson e foi humilhado. Leben apanhou, em pé, de Bisping, como um amador apanha de um profissional. Para os que não assistiram terem idéia de como os comentários de que ele teria talento para disputar o cinturão são uma fraude da mídia do UFC.

Esses dois colidiram sem brilho no UFC 138. Pedra contra pedra sem fagulha. O que era para ser um show violento de trocação, uma luta visceral entre dois lutadores sem relevância em busca de um sentido na carreira, foi uma demonstração desprezível de tática sobre emoção. É o b a bá mais batido do esporte. Dois lutadores que adoram trocar, mas nenhum tem real vantagem na área, então o wrestler derruba e controla. Tudo bem. Problema de Leben que nunca treinou defesa de queda, mérito de Munoz que lutou para ganhar e que se dane o espetáculo. Se GSP pode fazer isso durante anos e ser considerado um dos melhores do mundo, porque seria diferente com ele? Foi, fez, derrubou, cortou Leben com alguma cotovelada ou soco, e a luta foi interrompida ao final do segundo round.

Ao contrário do que alguns comentaristas afirmaram, não foi por decisão médica a interrupção da luta. Leben declarou não estar conseguindo ver de um dos olhos. Quando o juiz pergunta: “quer continuar?” e o atleta diz: “até quero, mas estou cego de um olho”, ele está desistindo da luta. É um código não escrito entre lutadores. Quando realmente querem seguir em frente, escondem a lesão, mentem sobre a dor. Leben contou sobre sua dificuldade para forçar o médico a parar e não ser dada derrota por desistência, e sim interrupção médica. Acho normal que ele não quisesse continuar e acabar cego. É um esporte, não uma batalha até a morte. Mas foi Leben que pediu para parar por conta da eficácia dos golpes de Munoz.

Munhoz fez o que acha que deveria fazer. Amontoou mais uma vitória e continua em frente. Um lutador que vai estar sempre mais pronto para agarrar as oportunidades que passam do que fazê-las aparecerem. Anderson esterilizou o peso, esturricou a floresta, ordenou o holocausto do peso médio. Uns poucos sobraram por entre os escombros. Mark é um desses. Com luta marcada contra Sonnen no UFC on FOX 2 pelo direito de desafiar Anderson Silva, se encontra no momento mais alto de sua carreira, porque de Sonnen não passará.

Renan Barão VS Brad Pickett

Barão e Pickett tem carreiras quase siamesas. Os dois perderam pouco, venceram muitas lutas sobre adversários sem expressão, mas de modo contundente e dinâmico. Toda luta em que um dos dois esteve envolvido foi interessante de assistir. Coragem, resistência e perseverança são qualidades que os dois compartilham, mas Barão luta na velocidade da luz. E é nessa curva do talento que vem pegando tantos adversários do galo, o peso mais veloz do UFC. Quase todos os lutadores são atletas perfeitos, habilidosos em todas as áreas, sempre cheios de gás, queixo e ímpeto para vencer lutas a 100 por hora. É o talento, a genialidade, que separa os tubarões das vítimas a serem abatidas.

Pickett fez estrago e deu show por onde passou. Marcou história no Cage Rage, sempre foi competitivo no dificílimo WEC e continua mantendo o padrão de ataque e comprometimento até hoje. Foi pra cima de Barão, como fez em toda a carreira, sem timidez, sem passo para trás. Atacou e atacou até que acabou perdendo rápido, como se perde numa luta entre atletas desse nível quando dispostos a se exporem. Pickett corta a gordura do combate, o papo furado, se é para perder que perca rápido, se é para ganhar vai tentar fazer logo. É isso que faz e faz muito bem. Ainda vai ter boas e interessantes lutas na carreira, mas está um nível evolutivo abaixo de Cruz, Faber e Renan.

É intrigante porque o excelente Barão demorou tanto para entrar no WEC, de onde migrou para o UFC. Tendo apenas perdido sua luta de estréia e já colecionando 27 vitórias aos 24 anos de vida, é um dos maiores lutadores do mundo, independente de peso. Poucos saberem disso mostra como foi importante o UFC introduzir para a grande mídia os pesos galo e pena, e o impacto que traria se incorporasse o peso mosca e a categoria feminina. O UFC é para o mundo do MMA o que a Globo é para o Brasil.
Barão é um dos 10 melhores lutadores P4P do planeta, muito mais merecedor de se dilapidar contra Cruz do que Faber, que tem carteirinha VIP para disputas de cinturão. Com Cruz e Faber como técnicos do novo TUF, Renan ainda terá que esperar um pouco e maltratar mais alguns adversários. Ele contra o super veloz Demetrious Johnson não só forçaria sua entrada na festa de granfino dominada por Faber e o pessoal da Alpha Male, como teria que ser gravada e assistida em câmera lenta para podermos ver alguma coisa.

Thiago Alves VS Papy Abedi

Thiago vinha de 3 derrotas nas últimas 4 lutas. Só uma vitória contra o invicto Papy Abedi poderia salvar sua carreira no UFC. Fato que encontraria casa no Bellator, Strikeforce ou qualquer outro bom evento disposto a se beneficiar de um atleta extremamente carismático e com estilo de luta agressivo. Mas é no maior dos eventos que ainda quer figurar, e partiu para cima, para definir o melhor rumo de sua carreira. Entrou bem preparado, focado, obstinado, mas lutou mal e o resultado poderia ter sido bem diferente não estivessem os pequenos deuses do MMA olhando por ele naquele dia.

O cartel invicto e cheio de nocautes de Papy Abedi dá a falsa impressão de se tratar de um futuro grande lutador. Na verdade é um trocador bem disposto, viril, e não muito mais. Sem maiores recursos do que ficar em pé, intimidar o adversário com seu excesso de fibras musculares e trocar até um cair, é um atleta sem grandes pretensões no evento. Deveria ter sido presa fácil para o Pitbull, mas não foi.
Thiago só quer trocar, fato. Mas depois de ter dificuldades em pé com Rick Story, as mesmas se manifestaram contra Papy. Costumeiramente reclamava tanto dos atletas temerem seus punhos e fazerem o clássico “se ele soca eu derrubo”. Mas atualmente até no boxe ele anda tendo bastante dificuldade.

Venceu por finalização uma luta franca que poderia ter ido para qualquer lado. Por mais que ame muay thai, foi jiu-jitsu que o salvou, aplicando um estrangulamento instintivo, ao invés de sucumbir ao desejo sempre sedento de dar mais e mais socos.
Os dois vão seguir a carreira no UFC com altos, baixos e muitos médios. Não irão muito longe e não ficarão muito para trás. Ainda veremos grandes lutas dos dois e diremos muito que suas carreiras estão perto do fim. Fato é que todo evento precisa de atletas francos e explosivos como Alves e Abedi.

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