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segunda-feira, 20 de maio de 2013

RESMUNGANDO de MMA com Nico Anfarri ( Belfort, Wanderlei e mídia nacional )

Nesse UFC on FX 8 ou UFC Jaraguá 1 ou UFC no COMBATE 2 o eterno fenômeno roubou o show dentro e fora do octagon. Belfort está o mais próximo de imbatível que um ser de carne e osso pode estar. Top 10 P4P 10 anos atrás e TOP 10 P4P hoje em dia. E tem gente que acha que "o único desafio de Anderson" é Jon Jones. Ah! Vão plantar batata! A questão que realmente vale o debate é quanto de suas performances recentes vem de seu talento estelar e quanto vem de uma seringa. Sou contra o uso de TRT, mas nenhum hormônio ajuda a acertar os chutes que Belfort acertou na cabeça de Rockhold e Bisping. Achar que o excesso de músculos e hormônios tem mérito técnico num chute desses é como colocar a culpa de um assassinato na faca. Sonnen também faz uso de TRT e se tentar um chute rodado rompe o ligamento. Fato que não é a testosterona que rebate a bola em baseball ou chuta alguém na cabeça, mas com certeza manda a bola mais longe ou alguém para a lona mais rápido. Quando questionado sobre o uso na coletiva pós luta foi extremamente agressivo com os jornalistas e fugiu da resposta. Resposta que ele não deu porque é muito clara. Será que aos 35 anos Belfort se submeteria a um tratamento que levantaria questões e dúvidas sobre sua carreira se não fosse ajudá-lo a vencer lutas?

RAPIDINHAS:

Wanderlei falou que quer "sugar o sangue" de Sonnen. Se eu fosse Sonnen só assinaria contrato se estiver claro que ninguém pode sugar nada meu.

A imprensa americana noticiou que Roy Nelson iria substituir Hunt caso ele não pudesse lutar. A nacional afirmou que Roy Nelson lutaria contra Cigano. Na tentativa de dar um furo de reportagem a mídia brasileira deu mais uma reportagem furada.

Brandon vera voltará a lutar entre os pesados. Alguém se importa?

segunda-feira, 11 de março de 2013

CRÔNICA 19 - PIERRE PRECISA PERDER

Georges St.Pierre só tem duas derrotas em 24 lutas, não perde desde 2007, se impõe sobre adversários de alto nível com a facilidade característica dos acima da média, tem uma excelente aparência, história de vida inspiradora de rapaz que chegou a trabalhar como gari e agora é uma estrela, fala bem, tem discurso sem maneirismos ou a eventual falácia que ainda estigmatiza o MMA, exalta seus adversários tanto na glória quando na queda e é responsável, quase que exclusivamente, pelo esporte ter virado febre num dos maiores países do mundo e sua terra natal, Canadá. St. Pierre é perfeito e por isso tem que perder.

Até sua derrota para Serra em 2007 Pierre era um dos lutadores mais empolgantes do mundo. Um atleta dinâmico e agressivo que usava seu excesso de possibilidades e técnicas para aceitar a emoção do combate. Um apaixonado pelo sonho de ser e se manter campeão. Ser destemido é característica do verdadeiro apaixonado e suas lutas mostravam desejo pelo esporte, eram o ápice de meses de treinamento, era aquilo que ele realmente queria, o melhor dia de sua vida. Atualmente a luta parece ser conseqüência natural de sua posição, um momento inevitável que faz parte do processo de ser lutador. Coisa mecânica. A paixão deu lugar a rotina e mesmice. Suas lutas se tornaram burocráticas, um bom-dia de caixa de supermercado.

St.Pierre luta com a calculadora na mão. O maior matemático do MMA. No marketing ele é faixa preta de jiu-jitsu, mas na prática não conseguiu finalizar o striker Dan Hardy em 25 minutos de luta de solo, mesmo sendo fantástico em wrestling segurou quase toda a luta em pé contra Koscheck e nos maltratou com a mais sacal demonstração de como dar jabs de esquerda num olho com o osso orbital quebrado. Tento não ser mesquinho, mas se é fato que é o campeão inquestionável de seu peso, também é fato que é faz lutas amarradas e sem brilho desde 2008.

Ídolos definem tendências, aparecem em noticiários, são imitados e MMA é muito maior do que Pierre faz parecer. Imaginem uma categoria apenas com Andersons, por exemplo. Mas e se fossem apenas vários St.Pierres? Quanto tempo para os fãs mudarem de canal para assistir ginástica olímpica ou ressuscitarem o boxe? Enquanto uns nos prendem na poltrona, St.Pierre nos levanta para ir ao banheiro ou beber água. É tão talentoso que só tem luta se ele quiser, e não quer. Quer é nos convencer que MMA é um somatório infinito de mais e mais técnicas, treino, preparação, sem emoção e risco na equação. Menos espetáculo e mais didática.

A diplomacia de um campeão é medida dentro do octagon e não em ternos Armani. O maior embaixador que o esporte já teve é russo, não fala inglês e divulgou MMA com o rosto cortado e nariz quebrado. Discurso feito com a boca e punhos fechados. As aulas de aritmética de Pierre já são vaiadas até no Canadá. Cada main event de UFC é um dos momentos esportivos mais importantes e influentes do planeta, é quando leigos que assistem pela primeira vez verão mais outras milhares ou nunca mais. Qual de nós aqui teria se apaixonado por MMA se a primeira luta que víssemos fosse Pierre VS Koscheck ou Hardy ou Alves ou Shields? E essas foram as primeiras e últimas de milhares de possíveis fãs. Pierre Vs Clay Guida numa luta sem rounds e limite de tempo poderia ser evento principal na entrada do inferno.

Para ser um dos melhores só precisa de vitórias, mas para ser uma lenda precisa de nossos aplausos. E isso ele não tem. Falta aquele olho vermelho com litros de sangue pra despejar por um sonho. Se vitórias e mais vitórias apagaram essa chama, St.Pierre então precisa perder. Um pequeno passo para trás e mil para frente. Pierre precisa apanhar de Nick Diaz. Não só perder, mas uma surra, coisa quase masoquista, ver sua cara amassada e ensangüentada. Ter a derrota rasgada no seu ego para eternidade, ouvir que sempre foi amarrão e nunca realmente tão bom. Serão calamitosas mentiras, palavras enxaguadas com paixão pelo fã, mas vai magoar e ele vai ser forçado a fazer alguma coisa. Lembrar que não nunca foi gênio, que sua real beleza está na perseverança, vai ter que voltar a carregar a cruz, começar quase do zero, repensar a carreira, em subir de peso, achar que somos ingratos, usar vingança como combustível, derramar sangue, voltar a vencer de modo contundente, ser aplaudido e em glória perceber que em MMA as linhas são sempre tortas.

St.Pierre precisa perder . Sabe que é nosso desejo quase secreto e isso corrói seu espírito de bom moço. Precisa arrancar as asas, jogar fora a auréola, se lançar por entre as nuvens na ponta do cotovelo de Diaz. Martelar o prego na mão. Quebrar a vitrine. Só na marra, espatifado e rastejando em seus próprios cacos vai entender a diferença entre os melhores e os maiores, os famosos e as lendas. Porque choramos a derrota de alguns e vibramos com a de outros. Georges St.Pierre precisa perder para poder renascer.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

CRÔNICA 18 - SEU ÚLTIMO DIA NA TERRA (publicada na Revista tatame 198)

Se hoje fosse o último dia na terra e esse o último texto que você lesse, se não desse mais tempo para voltar atrás nem pedir desculpas. Se o que você é nessa vida tivesse o ponto final agora, carregaria mais arrependimento ou orgulho? Se a revanche entre Anderson e Sonnen fosse a última luta de MMA que tivesse visto você deixaria essa existência levemente mais satisfeito, ou mudaria de dimensão sentindo que depois de todos esses anos o final da história deveria ter sido diferente?

Essa não teria como ser uma luta normal. E não me refiro ao acontecido dentro do octagon. Pois todos são limitados pelas leis da física. Alguns perambulam constantemente na fina linha que arranha o impossível, outros marcham no terreno vasto do comum, mas todos são regidos pelas mesmas limitações humanas. Lutadores fantásticos tem performances desprezíveis e ordinários se envolvem em lutas do ano. MMA é assim, mas essa não teria como ser. Dois anos de ofensa ao adversário, povo e família, por mais que fosse marketing se tornou verdade após a milésima vez. Uma luta colocando em choque conceitos tão disparatados que, por mais que os dois lutassem demais, dessem show, um sairia humilhado. Não haveria mérito a ser extraído da derrota. Quando o combate transcende o esporte e cai no campo da moral e ética, o resultado define mais do que o vencedor, mostra quem está certo.

Sonnen foi despudorado nas ofensas a Anderson. Derrubou o respeito, montou no bom senso e nocauteou sua paciência dias antes do combate. Sonnen lutou sua luta fora do octagon e ao levar Anderson a acerta-lo com uma ombrada na pesagem, ao leva-lo a quebrar sua película impenetrável de frieza, ao fazê-lo também agir com falta de respeito, por mais que no ultimo segundo, Sonnen sentiu que o fez quase como ele. Acuou o campeão até que desse um passo atrás para o mundo mortal. Sonnen queria, mais do que ser campeão como alardeava, provar que seu adversário era de carne e osso, homem comum. Já que Sonnen nunca teria dia de Anderson, fez Anderson ter dia de Sonnen. E nesse momento, um micro segundo após o golpe, eles foram iguais. E em sua mente maquiavélica sentiu que o plano funcionou. Poderia até cair de maduro e entregar a luta a vera, porque seu argumento havia sido provado. Sonnen venceu a guerra de palavras.

Sonnen é cria bizarra de Anderson. Um lutador mediano que teve na indiferença constante a suas bravatas ingrediente para transforma-las em desafio. O silêncio tem várias formas e o desinteresse do campeão, para alguns era medo, para outros prepotência. E a descrença de tantos fãs e daqueles que torcem contra quem sempre ganha, foram energia suficiente para quebrar aquele triângulo deveria mantê-lo preso para sempre e trazer a criatura de volta a vida. E Sonnen que foi longe demais, não foi longe o suficiente ao tombar novamente aos pés de seu criador. De tanto que falou, tinha obrigação de apanhar que nem homem, mas entregou antes. De sangrar até desmaiar, mas se contentou com um corte. De reagir até não sobrar mais nada, mas virou de ladinho. Pode dizer o que quiser agora, todos serão indiferentes. Anderson estava certo.

Desde que entrou no UFC foram 15 lutas e apenas 2 por decisão. Todos dormiram ou pediram para parar e essa não foi exceção. Um lutador comum derrubou o melhor de todos os tempos, segurou por alguns minutos, depois sofreu um nocaute técnico. Pronto. O que realmente tiramos dessa luta depende do que levamos para ela. Eu sou um homem imperfeito, um aglomerado de defeitos e algumas qualidades, mas encontrei uma mulher que me ama tanto quanto a amo, fiz as pazes com meus pais antes do fim e vi todas as lutas de Anderson Silva. Optei por vibrar com o incrível e buscar o melhor pra mim desde moleque. Anderson representa o sucesso do talento, o descompromisso com a mediocridade, o que há de melhor no esporte que amamos, ainda é campeão e até os que torceram contra, secretamente, respiraram aliviados. Se esse fosse meu último dia, sairia daqui feliz.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

BLOQUINHO DO NICO - 1

VIROU MODA!

Virou moda! O STRIKEFORCE Melendez VS HEaly foi cancelado. Sim. Todo evento foi cancelado. A luta principal cair é sempre péssimo, mas os fãs e quem paga pelo produto sabem que é culpa do acaso ou do atleta. Fica a seu critério assistir ao resto do card ou pedir o dinheiro de volta. Mas quando o evento é cancelado, somos privados de nosso poder de escolha. Para muitos a graça seria ver o evento ao vivo pela primeira vez, com a esposa, amigos e etc. A experiência com todo o show, a estadia naquela cidade, todo o fim de semana que cercaria o dia da luta. Melendez poderia ser apenas a cereja do bolo para muitos. Um card ser cancelado quebra a confiança na empresa, na marca, no esporte. Vai além da lesão do atleta, parece que todo o sistema que mantém o MMA está com uma falha fatal. Nunca há garantia de que um lutador vai realmente chegar no dia da luta e poder lutar, mas agora não temos certeza também se vai ter o evento inteiro? Retrocesso perigoso de alguns passos atrás para um esporte de mal deu seus primeiros passos pra frente.

MAIS UM LESIONADO

Mir se machucou e não vai poder lutar contra Cormier. Já perceberam que quanto mais importante é a luta, maior o percentual de lesão dos envolvidos? São poucos os que se lesionam em cards preliminares. Quem está no topo ganha tão bem, tem tantos patrocínios baseados na esparolação de um dia serem campeões ou subirem do ranking, que é melhor adiar uma luta por conta do pé inchado ou dedinho dolorido, e ganhar mais 3 meses de patrocínio forte sobre a justificativa de se tratar de um TOP contender, do que entrar, lutar, perder, e ter complicações comerciais depois. MMA se tornou um negócio mais rápido do que deveria. Saudade de Sakuraba que lutava com cirrose hepática. Cito uma frase de um dos maiores campeões de todos os tempos, Chuck Liddel: “lutador profissional nunca está 100%. Sempre temos alguma lesão. Quem espera estar perfeito para lutar não é lutador. É uma mocinha”.

MELHOR DO QUE SER SURDO

Quinton Jackson, que após ser dominado e finalizado por Jon Jones sem a menor dificuldade e declarar para Dana White (podemos ver a cena e ouvi-lo falando no vídeo pós luta, nos bastidores) que Jones era um campeão legítimo, um garoto talentoso demais. Agora ressurge com a barriga cheia de acarajé por conta de suas férias remuneradas aqui no Brasil, e diz que ele pode vencer Jones, que o garoto é falso e que tem vários buracos em seu jogo. Se quem domina e vence é limitado, imagina aquele que foi dominado e perdeu? Saber ficar calado é uma arte que poucos dominam no MMA.

INDECISO

Guga Noblat havia dito que o único no peso médio a poder vencer Anderson Silva era Hector Lombard. Depois de ser derrotado melancolicamente pelo limitado Tim Boetsch, Guga afirma que o “único” a poder vencer Anderson é Cris Weidman, e que o campeão o está evitando. Num mundo de tantos únicos, fica fácil esquecermos quem realmente fez por onde ser chamado assim.

BELFORT

Belfort adora ser chato depois das lutas. Flerta com o discurso humilde e com a falsa modéstia como poucos. Dizer que afrouxou o Braço de Jones foi uma das declarações mais cafajestes da década. Que lhe atirem todas as pedras virtuais, dessa vez ele merece, só não vamos esquecer que um lutador tem que ser avaliado, prioritariamente, pelo que faz dentro do octagon. Lá as lendas nascem e terminam, e lá ele quase venceu de um atleta que ninguém nem chegou perto de colocar em risco estalando seu braço e danificando o nervo de seu bíceps, agüentou mais cotoveladas na cara do que qualquer adversário e fez a luta que muitos acharam que ia ser mole, um show. Fale o que ele quiser falar, na hora da luta, faz anos que Belfort faz o que esperamos de um grande lutador. Depois...Bem, depois é só dar MUTE quando ele estiver dando entrevista.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

CRÔNICA 17 - SHOGUN VERMELHO (publicada na Revista Tatame 197)

Depois de uma estréia triunfal no UFC, Glover Teixeira foi oferecido como adversário para Maurício Shogun, que negou a luta. Dana White veio a público expor as minúcias de sua conversa com o lutador o que levou fãs a baterem palmas para sua sinceridade e apontarem o brasileiro como amarelão. Teria sido Dana sincero ou antiético, e principalmente, das várias cores metafóricas que o ex campeão pode ter, amarelo é uma delas?

Não me entendam mal. Sou um homem sincero. Desprezo meias verdades, mas se a minha mulher perguntar se gostei do seu vestido no dia do nosso casamento, vou dizer que sim mesmo que ache feio, e quem questionar minha sinceridade, nunca amou. Se sou dono de uma empresa e conto para qualquer cliente quais funcionários acho ruins, o mais incompetente acaba sendo eu. Que pago seus salários e me escondo atrás de uma vagabunda sinceridade para disfarçar incompetência como gestor. Encobrir um erro não é encobrir um crime. Por isso em política é diferente. Político que dedura os outros está sendo sincero (mesmo que por motivos escusos) já que apenas a má intenção rege o comportamento daqueles que depois de eleitos por nós, se locupletam da situação para benefício próprio em detrimento do povo. Num esporte, numa empresa particular, um funcionário errar, faltar, ser menos competente, não é crime. O diretor expor essa situação mostra falta de ética profissional e dificuldade na administração de valores. O esquecimento de que independente da posição hierárquica, deve haver respeito. É canalha aquele que para benefício próprio coloca a vista intimidades de outros, profissionais ou de coração, que ele só soube porque o relator o tinha como confiável. Dana White expôs a escolha de Shogun porque o ano está cheio de lutas caindo por conta de lesões e essa negativa aumentou o problema. Fez de raivinha. Dana poderia ter apenas dito que não aceitou a luta e assim o teria preservado sem contar nenhuma mentira. Até porque nesse caso há uma realidade dita contra milhares de possíveis interpretações. A verdade de que Shogun amarelou, é apenas uma. Ele não querer pegar um cara nível TOP 10, apesar ainda mal ranqueado, é outra. Mas o real incômodo não vem das palavras de Dana, vem de grande parte dos fãs se deliciarem mais na carniça de um suposto fracasso do que admitir vibrar com o sucesso de quem merece.

Shogun lutou duas vezes contra Lyoto, até então imbatível, aguentou ser torturado com requintes de crueldade pelo Jesus negro Jon Jones e trocou porrada franca contra Dan Handerson, um dos atletas mais violentos da história. Afirmar que Shogun amarelaria para Glover não é dar crédito demais ao outro, é canibalizar as próprias memórias. É mastigar e engolir sem fome a lembrança de tantas lutas fantásticas que um dos maiores de todos os tempos ainda faz. É cuspir no prato que a gente comeu. Shogun é adulto, rico e bem sucedido. Não precisa da minha pena ou defesa. Me preocupa é um grupo enorme de fãs que digerem memórias como morto vivo. Zumbis sem gratidão que vão vagar pelas noites de UFC apontando pra TV e grunhindo que Fedor nunca foi nada demais, que Anderson só pegou adversários fracos, que Shogun rateou. Quem não consegue mais ver magia nesse esporte, está deixando emoção vazar pelo furo no cantil. Nem ligo porque o meu está cheio. Mas a disseminação dessa idéia azeda contamina os mais novos.

Shogun nunca foi amarelo, se de alguma cor, foi vermelho. Pintado de sangue tantas vezes, melando a luva e manchando a lona sem o menor instinto de auto preservação, acelerando nosso batimento cardíaco, dando cria dolorida a momentos que podemos guardar, eu guardo, ou mastigar, engolir e ejetar. São os atletas que apanham e batem, mas somos nós os guardiões da história. A alma desse esporte está conosco para passar a outras gerações. Sem memória e respeito o MMA vai morrer, porque ingratidão é um adversário que nenhum lutador pode vencer.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

ANÁLISE: UFC 150 - Henderson VS Edgar 2

O UFC 150 teve pouco mais de um minuto realmente emocionante dentro do octagon. Cortesia de Cerrone e Gullard. O resto se dividiu entre fraco e decepcionante no UFC com a pior venda de pay per views desde 2007. Mas se olharmos além dos números, temos muito a enxergar. Muito mais coisa para sentir e refletir do que rever no replay. Um evento pobre em ação e rico em significado. Ben VS Edgar foi uma luta tão equivalente, tão igual, que independente de qual opte por defender, serão vários os sólidos argumentos. São lutas como essa que nos levam a olhar para nós mesmos e entender de que lado estamos. Do MMA esporte, competição, show. Onde há prazer em debater, contrapor argumentos, desdobrar a luta para além do octagon. Ou do MMA briga. Onde quem ganha é melhor e quem perde é pior. Onde quem pensa diferente deve ser vítima de escárnio, xingamentos e o pós luta se torna um trampolim para despejarmos frustração e falta de respeito em todos que, simplesmente, pensem diferente. A tensão deveria ser descarregada no momento da luta, e depois, felizes ou tristes, estaríamos relaxados para debater com antigos colegas e fazer novos, unidos pelo interesse comum em curtir o esporte. Ou a luta acaba se distorcendo num fio que delimita se vai poder debochar de quem pensa diferente ou ter que passar a madrugada em fóruns de internet distribuindo palavrões em defesa de um atleta que acabou de ganhar milhões e apertou a mão do adversário nos bastidores. Quem você é quando uma luta acaba? Um fã entusiasmado que constrói as fundações para o MMA ser eterno ou um fanático que só destrói e dá razão para tantos que ainda afirmam nosso esporte estimular agressividade e violência?

Ben Henderson VS Frankie Edgar

Começo deixando claro que na minha pontuação foi empate. O primeiro para Ben, segundo para Edgar, terceiro empate, quarto para Ben e quinto para Edgar. E com a mesma certeza que pontuei dessa maneira sei que fosse levemente diferente meu estado de espírito no momento, o resultado poderia ser outro. Presenciei o debate acalorado entre dois fãs que pontuaram a favor de Edgar, mas discordavam de quais rounds ele tinha vencido. Se não há consenso nem entre os que concordam, é porque a luta foi tão equivalente, tão interpretativa que não pode ser configurado roubo ou má intenção. E isso muda o tom de todo o debate sobre o assunto. Como também a teoria de que Edgar é prejudicado pelos juízes me parece muito mais uma teoria do coitadinho, influência da forte lógica de proteção ao suposto mais fraco tão disseminada pelos Direitos Humanos no Brasil, do que um dossiê de fatos.

Frankie é um dos melhores lutadores do planeta. Com ou sem ajuda de árbitros laterais, vai continuar trilhando uma carreira brilhante. Mas é fato que muito da seqüência de revanches que marcou sua vida tem em seu modo de lutar motivo para terem ocorrido. Edgar é tão simples de modo fantástico, que para o menos atento, parece chato. Seus pay per views vendem pouco historicamente. A maioria das pessoas simplesmente não entende o que ele faz para ser considerado tão especial. Mesmo deveras pequerrutcho consegue fazer frente a gigantes do peso. BJ, Maynard e Handerson são os 3 maiores e mais fortes atletas do leve e nenhum conseguiu claramente superá-lo. Mas a sua sina de ter que carregar um cinturão que parecem não querer que ele carregue começou numa vitória extremamente questionável contra Penn. Luta onde um empate seria considerado resultado justo pela maioria, venceu e se sagrou campeão sem ter sido claramente superior a BJ em nenhum round. Na revanche, desmantelou o ex campeão e provou que o cinturão era dele mesmo e acabou. Contra Maynard, depois de ter sua lápide encomendada no primeiro round, voltou para o segundo já com dois pontos a menos e precisou contar com a boa vontade de todos os juízes para lhe darem 3 rounds em 4, para conseguir o empate. E conseguiu todos os rounds que precisava, mesmo com 2 rounds sendo extremamente parelhos. Mais uma vez, no caso de dúvida, optaram por Edgar. E foram opções corretas. Mostrou raça, superação, mais vontade. Não houve erro. Da mesma maneira que não houve erro na segunda luta contra Ben Henderson.

Só há uma unanimidade, até que apareça alguém para dizer o contrário, o primeiro round foi claro para Ben e o segundo claro para Edgar. Os outros, simplesmente não temos como apontar um claro vencedor. Edgar tentar derrubar, segurar no chão sem fazer muito, simular uma guilhotina, tentar dar alguma joelhadas, vale mais do que um chute certeiro em suas costelas e um direto no rosto? Depende do humor de quem está julgando. Em números frios, Handerson desferiu mais golpes, mais golpes certeiros, e mais golpes contundentes. Inclusive um chute lindo no queixo que só não derrubou porque o queixo era de Edgar, qualquer outro teria caído como Diego Hypolito nas Olimpíadas de Londres. Em defesa de Edgar, ele teve sua perna avariada no primeiro round. Tão danificada que prejudicou todo seu incontrolável movimento. Mesmo assim, mesmo quase petrificado para seu padrão, mesmo não podendo transitar entre dimensões, mesmo sem uma perna e com quase 10kg a menos, o campeão não conseguiu lhe dominar ou causar dano real. Esse é Edgar e por isso é comovente vê-lo lutar. É feito de carne, mas se comporta como se fosse de ferro. De tanto ouvir que não vai dar, ele quer mais ainda. Edgar merece ter algum cinturão soldado a sua cintura. Se não for nos leves, que seja no pena, se não for no pena, que seja no galo. E se não conseguir em nenhum, terá sido uma brincadeira de mau gosto do destino.

Por que Ben parou de chutar aquela perna? Se já tinha claramente furado um pneu da moto, por que não furar o outro? É tão difícil por trás de um teclado entender o que se passa na cabeça de um campeão, tendo cada movimento assistido e julgado por milhões de pessoas. O que acho, sem nunca ter chutado a perna de ninguém, é que Ben foi contaminado pela mesma doença que se abateu sobre St.Pierre, Jon Jones e deixou Aldo com o nariz escorrendo. Alguma espécie de bactéria, fungo, que deve se proliferar no ouro do cinturão de campeão, que transforma um lutador corajoso e criativo num burocrata do esporte, que abre mão do show e luta com o olho no cronômetro. Tão preocupado em se manter campeão, e manter patrocínios, em apenas superar seu adversário do outro lado, que esquece de continuar superando a si mesmo. Doença que destrói sua paixão e mecaniza a performance. Ben declarou que toda sua disputa de cinturão ia ser a luta de sua vida, mas essa foi a sua pior apresentação nos últimos 5 anos. Até na derrota para Pettis, lutou melhor. Handerson pareceu com medo de ter seu corpo atlético, e preparação física estelar, vontade e fé, superados pela genialidade do outro. Em nenhum momento realmente foi pra cima, em nenhum momento ousou, forçou, perseverou. Manteve a distância e controlou. Venceu por acaso, mas se perdesse, ninguém poderia genuinamente reclamar. Em sua defesa, Ben é muito melhor do que isso. Uma versão sua acovardada, reticente, foi suficiente para fazer frente a um dos mais enigmáticos e talentosos lutadores dessa existência.

A luta que tinha tudo para ser uma das melhores do ano acabou sendo mais intrigante que emocionante. Presenciar dois Pitt Bulls amordaçados pela covardia. Deixando nas nossas mãos, coitados de nós, julgamento, sentença e qual história a ser passada a nossos filhos. O grande Edgar foi injustamente prejudicado numa luta em que, obviamente, foi superior? Ou o poderoso Handerson superou pela segunda vez um atleta que nem BJ e Maynard conseguiram parar? Na minha opinião, pelo que fizeram, nenhum dos dois merece tal carinho de nós. Ganhe quem ganhou, chore quem perdeu, nenhum fez o que esperávamos e isso sim, mais do que o resultado, me chateou como fã.

Não se enganem, fãs de Edgar, Ben é um campeão legítimo, violento e poderoso que ainda dará muitas emoções fortes a todos nós. E que não se iludam os fãs de Ben, o cinturão pode estar em sua cintura, mas coração de campeão bate mesmo é no peito de Frankie. Essa luta foi uma pausa dramática antes do impacto e Nate Diaz e José Aldo sentirão o peso do golpe.

Donald Cerrone VS Melvin Guillard

Cerrone e Guillard não só treinam juntos, como são amigos pessoais, mas nenhum dos dois pensou duas vezes antes de aceitar o combate. Diferente de tantos brasileiros se escondendo atrás do falso moralismo de não querer enfrentar companheiros de treinos, como chegar ao absurdo de acusar de traidor aquele que aceita. Porque dois irmãos poderiam se encarar no Judô e não em MMA? Enquanto houver o discurso de que é diferente, estaremos dando lenha para a lareira de vaidades e ignorância dos que defendem ser MMA pura briga. É um embate esportivo com contato. Amizade se mede por como tratamos em nossa vida, por como ajudamos sem pedir em troca, como nos preocupamos e genuinamente nos alegramos com as glórias pessoais do outro. Amizade se mede na vida real, fora dos holofotes. Dentro do octagon é só trabalho e show, e que show os dois amigos nos deram nesse UFC 150. Sem ódio ou rancor, sem um golpe a mais depois do nocaute. Ataque e agressividade objetiva e limpa. Uma aula de profissionalismo, uma beleza de luta e uma liçãozinha de moral para os hipócritas.

O que aconteceu com Cerrone na luta contra Nate Diaz é um mistério que a humanidade passará sem desvendar, como as pirâmides do Egito. Um lutador versátil, agressivo, veloz e com queixo de granito, foi dominado sem dificuldades na trocação por um Nate mais lento, com as pernas plantadas no chão implorando para serem ceifadas como varas de cana de açúcar, queixo pra frente e guarda baixa. Cerrone disse que um golpe entrou logo no começo que o desconectou de todo o resto. Confesso que não vi tal golpe, mas vi a quantidade de porrada que esse indivíduo consegue suportar em seus tempos de WEC. Se indecifrável é o real motivo, realidade que ainda é um dos mais completos atletas em atividade. E vencer o explosivo e instável Guillard era o único caminho para não apenas calar os detratores que tão precipitadamente costumam apontar o fim de carreiras, como se manter no topo da categoria de peso mais disputada da atualidade. Cerrone tinha que vencer.

Guillard é, por falta de um termo científico mais apurado, destrambelhado. Que faltam parafusos em sua caixa craniana é visível. Talvez sejam as 41 lutas em apenas 29 anos de idade cobrando o preço alto que os prematuros costumam pagar . Quanto mais perto de se tornar um desafiante ao cinturão, mais displicentes suas performances ficam. Quando ninguém mais liga para ele, entra focado e destrói o adversário. Parece ter inserido em seu sistema um dispositivo auto-regulador que o manterá sempre no meio da tabela. Talvez a atenção que a fama e a proximidade do título atraiam, sejam demais para a cabeça de um ex marginal com várias passagens pela polícia e família disfuncional. Quem sabe? Talvez por isso se apegue tanto ao que mais lhe dá segurança, ao seu real ganha pão, ao que nunca lhe deixou nas mãos: seus dois braços. Guillard nocautearia a maioria dos pesos pesados. Sua força e aceleração poderiam ser considerados um super poder mutante. Se acertar, arranca um pedaço. Se pegar em cheio, nem Shogun fica de pé. Só que lhe falta refinamento mental para tomar as rédeas de tal talento, e o que lhe deveria dar uma vantagem significativa, o faz querer acertar a mão na cara do outro e terminar logo o combate, para sair pulando e bradando ser o maior de todos os tempos, deixando assim a guarda baixa ou o pescoço exposto para qualquer faixa branca arrochar. Vindo de duas derrotas em três lutas, Guillard deveria ganhar, mas se não ganhasse, convenhamos, nada iria mudar.

Os dois amigos, que em nenhum momento se ofenderam ou trocaram declarações polêmicas para tentar fazer parecer que sal era pimenta, partiram pra a colisão meio segundo depois do começo. Como dois cometas em rotas opostas que invariavelmente explodiriam um contra o outro. E Guillard fez o que Guillard faz, acertou um cruzado com as veias bombeando petróleo, os músculos tencionados por fios de aço. Cerrone agüentou o que só Cerrone agüenta. Um, caiu e levantou, outro, e foi parar nas grades. Sempre olhando para o adversário. Olho seco, vidrado de predador. Guillard, com olhar mole e debruçado de quem sempre sabe o que está fazendo por mais que na maioria das vezes não dê certo, levou um chute na cabeça. Do nada. Como assim? Uma barra de ferro na têmpora. Bambeou, vazou óleo, e Cerrone largou o fósforo aceso em seu amigo. Carbonizou suas esperanças de passar alguns meses se auto proclamando o melhor do mundo, que é apenas o que Melvin realmente quer. Caiu de cara no chão e Cerrone mostrou que amizade, como eu disse, vemos na vida real, antes e depois da luta. Apagado, com o nariz na lona, a luta havia acabado. Não interessava se o árbitro não chegaria a tempo. O respeito de um pelo outro foi suficiente para parar seu golpe. Amigos não dão desculpas esfarrapadas nem apunhalam pelas costas.

Cerrone disse ao fim da luta que ainda estava zoado pelo golpe, mas disse a Dana White nos bastidores que só fingiu estar para confundir o adversário. Mais um mistério em sua empolgante carreira. Enquanto MMA for show, Cerrone vai ter um palco para brilhar. Guillard flertará eternamente com o fracasso por nunca entender que nosso real adversário somos nós mesmos. Antes de superar o outro, temos que nos superar. Guillard X Thiago Alves é uma luta que deveria ser realizada antes do fim do universo.

Jake Shields VS Ed Herman

Tenho o sonho de que um dia a direção do UFC pare de gastar milhares de dólares para tentar nos convencer de que determinado lutador é mais do que parece ser apenas para justificar uma possível luta por cinturão ou main event. Nessa linha de pensamento já estava na hora de economizarem uma grana com Jake Shields. Deixa ele lutar, não tem problema. Tem vários piores por aí. Mas estar sempre em uma das principais do card, leva a terem que fazer countdowns sobre sua preparação e carreira. Francamente, coisa desnecessária. Shields teve um momento mágico no STRIKEFORCE e ELITE XC. Soberano sobre todos os bons adversários que ousaram enfrentar sua combinação de wrestling com american jiu-jitsu. Momento tão fora da realidade que sugou até Dan Handerson para essa dimensão doentia, onde um dos maiores de todos os tempos, foi dominado sistematicamente e sem a menor dificuldade por Shields. Como negar a esse homem todos os elogios e bons contratos e chance de disputar mais rapidamente possível o cinturão do UFC? Só que no UFC, as coisas ficaram bem diferentes. Ou talvez, tenham apenas voltado ao normal.

Estreou numa luta péssima contra Kampmann, que também lutou muito mal. Mérito de Shields que drena a qualidade e velocidade dos adversários os trazendo para seu universo em slow motion. Venceu uma decisão dividida que, para mim, não deveria ter ido para ele. Lutou mal e sem coragem contra St.Pierre, que, pasmem, teve sua pior apresentação em anos. Depois foi facilmente nocauteado pelo jovem e desrespeitoso Jake Ellenberguer, que não ligando para a propaganda do UFC, foi pra cima do veterano e o desmantelou como um pobre coitado. Shields ainda venceu por garfada no sushi Yoshihiro Akiyama em pleno solo asiático. Que ousadia. E agora encarou o TOP 30, Ed Herman. Um mediano esforçado que está em suas declarações lunáticas de que um dia será campeão seu maior atrativo. Shields venceu sem alma, sem pressão, sem vida ou graça um lutador de borda de tabela. Pediu desculpas mais uma vez e saiu sob vaias. Diferente de Rashad Evans que tem direito de se chatear com o insistente descontentamento do público com sua persona, já que nos brindou com algumas excelentes lutas, Shields tem mais é que abaixar a cabeça mesmo porque ganha demais para fazer de menos.

Shields só derrubou e controlou. Não conseguiu ferir ou colocar em nenhum risco real um lutador extremamente limitado. Cada nova apresentação medíocre, perdendo ou não, é mais uma pá de terra que coloca em sua própria cova. O futuro de Shields depende da paciência de Dana White, que parece ter acabado. Se quiserem continuar a farsa de que ele ainda é o lutador que foi anos atrás, negar que ele envelheceu 100 anos em 2, vão alimentá-lo com alguns lutadores jujubas que sua mordida sem pressão vai ter como mastigar lentamente. Se quiserem acabar logo com isso, Mark Munhoz é suficiente para mandá-lo de volta para o STRIKEFORCE.

Sobre Ed Herman não há muito o que falar porque não faz muito. Perdeu para todo lutador de remoto destaque que encarou, de Simpson e Belcher, a Maia e Grove. O lutador mais conhecido que já venceu foi David Loiseau, em fim de carreira, em 2009. Herman tem vários problemas pessoais e físicos que tem que superar para ter as performances que vemos. Luta mais com tantas coisas do lado de fora do que no octagon. Muito de ainda ter contrato com a empresa passa por Dana White apadrinhar alguns atletas disfuncionais e tentar ajudá-los com certa leniência. Filantropicamente, é louvável a postura da direção, esportivamente, ele é irrelevante.

terça-feira, 5 de junho de 2012

ANÁLISE: UFC 146 - Cigano VS Mir

A luta de Jones Vs Rashad me induziu a um estágio de quase amnésia. Perambulei pelos fóruns de MMA sem saber de fato porque amava esse esporte, pareciam memórias distantes aqueles momentos emocionantes desse tal de Mixed Martial Arts. Tanta badalação, expectativa, por um rascunho de luta. Dois acovardados dentro do octagon, menores do que as palavras que vinham dizendo. Se uma das lutas mais esperadas de todos os tempos foi aquilo, como acreditar no que há por vir. Teria o show matado o esporte? Teriam as entrevistas e ofensas se tornado mais importantes do que a atuação? Será que performance agora é medida por seguidores de twitter? Se for será quem um dia teremos Beyoncee VS Rihanna? Me sentia confuso e desmotivado, quase pedindo para desligarem os aparelhos quando esse UFC 146 me deu um tapa na cara e me chamou de palhaço. O melhor evento do ano colocou a mim e todos de pé para acompanhar uma sequencia de excelentes lutas, desde o card preliminar. Se no UFC 145 e em quase qualquer outro, são poucos os brilhos, nesse foram várias estrelas a brilharem novamente. Cigano, Cain, Nelson, Varner, Hardy, Glover e tantos outros. O caminho ficou claro novamente. Esse é o esporte mais emocionante e imprevisível já criado. Jamais voltarei a duvidar. A não ser que haja uma revanche entre Jones e Rashad. Aí, não me responsabilizarei por meus atos.

Cigano VS Frank Mir

É impossível nocautear Frank Mir porque ele desiste da luta antes de apagar. Até a derrota para Carwin computada como nocaute no Sherdog, foi um nocaute técnico. Mir estava de costas, sem reagir, mas acordado. Como teria sido a carreira de Sakuraba se cortasse peso, lutasse numa categoria mais adequada e não tivesse aceito combates contra tantos pesos pesados e meio pesados TOP na época? Brock Lesnar e Cung Lee se tivessem começado a treinar MMA quando começaram suas carreiras artísticas? Pelé Landi se tivesse surgido para o esporte nos dia de hoje? Como seria Mir se tivesse o coração proporcional a seu talento e estrutura física? Num bate papo descontraído no Starbucks eu falaria por horas e horas para quem tivesse paciência de ouvir sobre minhas teorias, mas aqui não há tempo para isso. O que importa é que Mir é assim, e pronto. Nos estereótipos da psicologia devem haver termos mais respeitosos, mas na linguagem do povo, é frouxo mesmo. Adora bater, mas tem medo de apanhar. Digo medo, porque gostar, ninguém gosta. Até Leben que afirma melhorar quando leva o primeiro soco, ficou extremamente desconfortável e aflito quando não conseguiu escapar do ground and pound insistente de Munhoz. Mir agenta apanhar, não tem queixo de vidro. Tem é coração de papel marché.

Carwin, Lesnar e Cigano. 3 dos pesados a bater mais forte em todos os tempos não o apagaram. E a luta de Minotauro teria o mesmo fim dessas três não tivesse o brasileiro dado o braço de presente no final. Mir é pesado, excelente de chão, bate forte, difícil de ser derrubado, estratégico e decisivo. Se der espaço ele nocauteia ou quebra alguma coisa. Mas é como tantos nessa vida, limitado por si mesmo. Se cada luta de Edgar é um exemplo comovente de como fazer as coisas, as derrotas de Mir são exemplos irônicos do caminho a não seguir. Nessa vida vamos ouvir que não podemos, que não devemos, que não é pra gente, que outros são melhores, que não temos sorte e tanta coisa assim. Na hora em que acreditarmos, vira tudo verdade. Dentro de casa, no quarto de hotel, com os colegas ao lado, ele tem discurso de imbatível, mas na vida real do lutador de MMA que acontece dentro do octagon, ele acredita que é frouxo e se comporta dessa maneira. Mir não precisa de camps de treinamento com os melhores boxers, wrestlers e weightlifters da atualidade. Precisa de um bom psicólogo e maneirar na dose de rivotril antes de lutar.

A chance de Frank era derrubar o campeão. Tentou uma vez e nunca mais. O que o fez aceitar a morte lenta e óbvia, parado na frente de um atleta mais veloz e agressivo, só ele sabe. Talvez nem ele saiba, para falar a verdade. Ficou ali, sendo alvejado, até que se deu por vencido e sucumbiu no segundo round. Uma luta de Mir contra Pezão poderia ser a revitalização da carreira para um e a porta de saída do evento para outro.

Cigano não está nem aí para quem Mir é ou poderia ser. A arte milenar de zunir a mão cheia de dedo no meio da cara de outro homem não permite essa vã filosofia. Cigano é o sucessor espiritual de tantos campeões que só lutavam com uma estratégia. Segurar a luta em pé e desmantelar o oponente. Chuck Liddel, Cro Cop, Wanderlei Silva, Igor Vovchancin não tinham plano B. Era não cair e meter a porrada, e se cair, levantar para meter mais porrada. É parafuso e os outros são borracha. Cigano é assim, com os olhos escondidos na penumbra da testa cheia de linhas na diagonal, dentes esmagando o protetor tipo cavalo doido tentando arrebentar os arreios, a mão quente cheia de intenção sinistra, movimentação de pernas de campeão de boxe profissional. Seu controle de distância, de entrar e sair do infight é um dos melhores de todos os tempos nesse esporte. Cigano está sempre perto o suficiente para acertar e longe demais para ser atingido. Não é encontrado. Como se nem estivesse lá. Parece que manda matar, porque ninguém sabe onde ele está. Acaba quase sempre com o adversário apagado no chão e Junior chegando para conferir a cena do crime.

Cigano nunca foi realmente derrubado e controlado ou atingido. O golpe mais duro que sofreu foi um mata cobra de Roy Nelson. O gordinho só vem pra confundir as estatísticas. Qualquer outro lutador teria a sua qualidade questionada por essas incertezas. Quantas vezes ouvi que só saberemos se Jon Jones é tão bom como dizem quando levar um direto. Mas Cigano será atingido e não cairá, e se cair, levantará. Não por ser o mais talentoso, gênio ou nenhum desses elogios que pesam mais do que elevam. Mas porque ele é simples. Não tem mil respostas pra tudo, não se confunde em várias possibilidades. Tem um objetivo real, só um. Uma resposta absoluta para os questionamentos dentro do octagon. Se cair, vai levantar, se parar na frente, vai descer a mão, se levar na cara, não vai amarelar. Simples assim. E essa criatura imponente e destruidora na hora que pode e tem que ser, vira gente de verdade quando acaba a luta. Sorriso sincero, sem piadinhas forçadas, sem falso respeito, sem hipocrisia. Anderson Silva está com a alma aprisionada no ouro da coroa, Cigano é plebeu sentado no trono do rei. Cigano é mais do que um campeão, isso tantos foram e serão depois dele. Cigano é um ídolo. Um campeão é respeitado, ídolos são admirados. As pessoas querem ter o que o campeão tem, mas querem ser o que o ídolo é. Cigano existe com a certeza de quem vai trilhar um caminho glorioso até o final. Muitos corpos ainda vão pavimentar sua estrada rumo a eternidade.

Cain Velasquez VS Pezão

Pezão ter estreado no UFC no card principal com status de estrela do MMA é misterioso. Inquestionavelmente um lutador perigoso. Enorme, faixa preta de jiu-jitsu e com um pé tamanho 48, nunca vai ser moleza. Tem em vitórias sobre Fedor e Arlovski em fim de carreira, seu auge. E vinha de ser nocauteado com facilidade por Daniel Cormier. Atleta que acabou por se sagrar campeão do STRIKEFORCE, mas na época um substituto gordinho que ninguém levava a sério. E com um cartel apenas mediano encarou um dos maiores da atualidade, senão o melhor pesado do MMA mundial. Não deixem a derrota vexatória para Cigano obscurecer a percepção. Velasquez arrasta consigo uma era. A era de Cain. Longe de ter terminado em sua única derrota, despejou o peso de uma dimensão sobre Pezão que nada pode fazer e foi esmagado sob a prensa cruel do ex campeão.

Pezão ainda pode fazer boas lutas. È um atleta competitivo, intenso, mas não pertence ao topo do mundo. Apanhou muito até que não aguentou mais e virou de ladinho, mesmo sem sono. Da mesma maneira que foi pulverizado por Velasquez, é fato que merece permanecer no evento . O show tem que continuar e toda luta de Pezão, apanhando ou batendo, é boa de ver. Mir, Lavar Johnson e até Minotauro seriam adversários interessantes.

Velasquez segurou o chute de Pezão e o derrubou com segundos de luta, no primeiro contato. Esse tirocínio e reflexo e confiança não comuns a humanos. Até leopardos quando vão caçar um elefante, circundam a presa. Velasquez foi para aniquilar com certeza absoluta de que não poderia ser vencido. Se não valesse cotovelada a história poderia ser diferente, mas se Fred não tivesse feito gol de bicicleta na final do estadual contra o Botafogo, poderia ser diferente também. Pezão contará a história do que poderia ter sido e Cain, do que foi.

Velasquez tem um propósito nessa vida. Ser campeão. Sua alma é grande demais. Precisa do cinturão, precisa de mais espaço. Só um corpo não é suficiente. E se Cigano realmente não queria vingar seu mestre e amigo, Minotauro, posso garantir que Velasquez quer tirar a cabeça de Cigano, empalhar e pendurar perto da lareira em sua casa na Califórnia. Mais do que um objetivo, Velasquez sente que tem uma função nessa vida e não vai parar nem ser parado por quem não concorda ou quer o mesmo que ele. Podem ser vários os ídolos, mas campeão só tem um. Não quer ser ídolo ou admirado. Quer aquele tanto de ouro e diamantes incrustados num pedaço de couro ao redor de sua cintura. Não há tranqüilidade em apenas ser reconhecido. Quer aquilo. Quer viver como quer enquanto existir. O que vão achar dele, legados, eternidade, isso é poesia que não lhe interessa. Que escrevam livros a seu respeito ou que o odeiem. A alegria ou felicidade do outro não lhe interessa nem por um segundo. Não há relaxamento, não há paz em seu olhar. Cain está tenso, nervoso e Pezão foi o primeiro a sentir o risco de ter alguém assim solto nesse universo.

Roy Nelson VS Dave Herman

Roy Nelson é um enigma. Não posso afirmar que se emagrecesse e descesse para o peso médio teria melhores performances. Até porque sua arma secreta é o desdém que os adversários parecem ter por ele. Mesmo gordinho é cheio de fonte rápida de energia no organismo. É o hambúrguer Power. E com o mesmo mata cobra nocauteou Schaub, Struve e agora Herman, e ainda deu uma tonteada em Junior Cigano. É um mistério como lutadores profissionais, com anos de treinamento em várias artes, dieta, estratégias, treino direcionado para determinado atleta, conseguem ser pegos de surpresa por um golpe que eles sabem ser o único a poder vir. Dan Handerson vem surpreendendo a todos com a mesma coisa faz anos, mas Dan é um dos maiores que já existiu. Roy é apenas um barrigudinho que luta.

Herman não tem mais motivo para estar no UFC. Pode ainda fazer uma luta e dar a vitória de brinde para alguém que o UFC queira ver vencer, como Shane Del Rosário. Mas fora ser degrau para outro, não tem muita função. Roy Nelson é o porteiro do MMA, como um dia Gary Goodridge foi no PRIDE. Vai continuar perdendo para qualquer lutador bom e vencendo qualquer lutador mediano. Roy Nelson, ironicamente, é a agulha da balança.

Stefan Struve VS Lavar Johnson

A direção do UFC vem fazendo ao longo dos anos tanta força e gastando tanta grana em marketing para manter acesa a chama holandesa de que Struve é um grande lutador, um jovem realmente promissor, que estão quase me convencendo. Muito alto, com o maior alcance da organização (em nova medida ele e Jon Jones empataram), muito calmo, muito raçudo, bom de chão e meio destrambelhado na movimentação, se torna um lutador complicado de encarar. Pra quem chega na decisão e desse a mão, fica fácil. Tem coração para aguentar qualquer porrada, mas seu corpo não resiste. È inversamente proporcional a Frank Mir. Mas se o atleta cometer o erro amador de entrar no clinch, ele é letal.

Lavar é um mediando, como é Struve. A diferença é que o holandês acumula derrotas por ser superado por adversários melhores ou mais tenazes, e Lavar por tomar péssimas decisões ao longo do combate. Bastariam 3 ou 4 vídeos do adversário para entender como vencê-lo. Acertar e sair, evitar a luta agarrada. Pronto. Mas Johnson entrou num clinch não forçado após ter atingido o adversário. Lá ficou e acabou sendo puxado amadoramente para a guarda de onde não fez força para sair até que foi finalizado. Vitória marcante de Struve já que todo lutador com boa trocação costuma colocá-lo para dormir, e derrota melancólica para Lavar que deixou claro porque mesmo sendo um artista do nocaute, nunca foi considerado relevante em nenhuma organização.

Edson Barboza VS Jamie Varner

Edson Barboza estava invicto e é um dos mais promissores e emocionantes lutadores da atualidade, Jamie Varner é um veterano que vem passando por um momento instável na carreira. Mesmo assim é difícil entender porque fãs e jornalistas não só apontavam o brasileiro como claro favorito, como apostavam em uma vitória sem maiores dificuldades. Talvez seja o hábito de acreditarmos em tudo que a mídia diz, e a mídia é controlada pelo mais poderoso. Se Edson está no UFC e Varner está no TFC, XFC, XFO é porque deve ser pior, certo? Nem sempre. E nesse caso em específico, com certeza não.

Podem dizer o que quiser, mas MMA ainda é uma jujuba de ferro. Difícil de digerir. Emissoras e anunciantes ainda se contorcem para mostrar esse esporte tão violento de modo vendável, sem mentir sobre o produto, sem ter que se afastar do que realmente o faz emocionante. A violência. De tempos em tempos aparece um momento, um golpe único, tão incrível que funde essa violência com admiração com fantástico com arte, e o planeta todo vê, entende e admira. Um golpe que vale por mil comerciais da Budweiser. O chute giratório de Edson em Etim é um desses momentos que merecem assinatura. Tão jovem e já se mostra tão relevante para o esporte. O MMA precisa de atletas como Barboza, seja nas declarações positivas, na postura cordial no dia a dia ou nas performances agressivas e emocionantes. Barboza vai ser um dos melhores do mundo em pouco tempo e quem acha que ele já está perto do seu melhor, vai se surpreender. Se tornará melhor de defesas de queda, ajustará mais ainda os golpes, será mais calmo, preciso, vai evoluir e será muito maior do que Jamie Varner já foi. Mas hoje em dia, Varner é um lutador melhor, mais completo, mais experiente e decisivo. Se Edson não acreditou em todos os bajuladores ou inocentes que só analisam as últimas lutas do card do Sherdog para afirmar ser um lutador perigoso ou não, foi superado por um atleta mais tenaz e pronto. Levanta a cabeça, siga a vida e volte melhor. Mas se acreditou no papo furado e inverídico de que Varner é limitado e seria uma luta boa para ele, bem feito pela derrota. Se Edson quer ser campeão, pense como campeão. Um ex campeão do WEC, enquanto tiver as duas pernas e os dois braços, nunca será vitória garantida pra ninguém. Os caras vem de lá diferentes. Eu sei, a maioria sabe, Edson descobriu da pior maneira.

Jamie Varner teve um momento de oscilação na carreira quando enfileirou 4 lutas sem vitória. Mas se analisarmos o conteúdo além do rótulo, veremos que não é tão simples assim. Uma derrota para o atual campeão do peso leve do UFC, o impressionante Ben Handerson,uma derrota controversa para Cerrone (pra mim foi empate), e um empate contra Shalorus, onde o adversário foi dominado, maltratado, derrubado na porrada e ainda perdeu um ponto por acertar Varner no apito de plástico várias vezes. Uma vitória tranqüila, óbvia, se metamorfoseou num empate medonho na mão dos juízes. Três lutas seguidas que aplacaram seu ímpeto e o tiraram da rota. Não dou desculpa nem para meus erros, imagine os de Jamie. Ele que pague por ter a cabeça fraca. Outros perseveraram onde ele se fez de coitado. Mas fato que foram lutas contra TOPs da atualidade. Será que Barboza teria sorte diferente contra Cerrone e Ben Handerson? Varner saiu do WEC, foi se reencontrando e voltou a ser ele mesmo nesse UFC 146. Varner tem um boxe excelente, wrestling excelente, queixo de granito e a energia pesada do cinturão do WEC flutuando sobre sua aura. Varner, preparado e motivado, é TOP 10 no peso mais disputado do planeta.

Do mesmo jeito que a derrota para Handerson não deveria ter embaralhado a cabeça de Varner, essa derrota pode umedecer, mas não deve embaçar os olhos de Barboza. Que entenda ter perdido para um atleta excelente que ainda vai derrubar tantos outros e que limpe a mente dos detritos e escombros causados pelas bombas de Varner em sua cabeça. Edson vai voltar melhor, tem que voltar melhor. E Jamie Varner vai voltar a fazer o que faz de melhor, descer e levar porrada no melhor WEC style.

Glover Teixeira VS Kyle Kingsbury

Demorou, mas Glover Teixeira finalmente nasceu. Enquanto quase a totalidade dos fãs só acompanharem o UFC e nada mais, o atleta precisa surgir por lá para validar o que faz na carreira. É uma injustiça poética que a finalização sobre o mediano Kyle Kingsbury tenha mais repercussão ao redor do planeta do que todas as suas 17 vitórias soberanas anteriores. Nem adianta reclamar. MMA ainda é assim, Há um jogo de fama, mídia e holofotes que ofusca a realidade mais do que ilumina. É o jogo. É o show. E só o que Glover fez foi brilhar mais uma vez, como vem fazendo há anos. Kyle, num dia onde os deuses do MMA não estejam de gracinha, não tem a menor chance contra a seriedade e agressividade sistemática do brasileiro.

Glover é um bom lutador. Sólido, calmo, bate forte, sabe chão. Não tem gracinha na pesagem, não tem gracinha no octagon. Seu estilo não tem firula nem gordura. Todo golpe seu visa terminar alguma coisa. Não dá espaço para o adversário respirar ou se sentir confortável. Mas apontá-lo como candidato ao cinturão de Jon Jones é mais do que inocência, é maldade. Glover vai dar muitas vitórias e lutas emocionantes para o povo brasileiro e fãs do esporte, mas não dá pra ele contra Jones. Nem hoje, nem nunca. Dunga foi um bom jogador, mas nem que treinasse e se dedicasse quanto quisesse, nunca seria Messi. E que não me entendam mal, Glover vai ser TOP 10 do meio pesado em um ano. E num peso com Rashad, Bader, Davis, Gustafsson, Shogun, Jones, Handerson, já é ir bem longe. Mas marcá-lo como candidato a tirar o cinturão do Jesus negro é como colocar o anel do poder no Senhor dos Anéis e atrair os olhares de Mordor. Não vai dar em boa coisa.

Kyle Kingsbury é um chato antes e durante a luta. Depois, não sei, porque vencer amarrando e sem emoção ou ser dominado sem reação, não me motiva a acompanhar sua carreira. Fez um desserviço ao MMA ao segurar no chão, por 3 rounds, Maldonado. O brasileiro que só tem uma função nessa terra, trocar porrada. Isso nos faz feliz e o deixa satisfeito. Qualquer um que o impeça de fazer isso, me irrita e o entristece. Kyle é um lutador sem ambição e perdeu por finalização para Glover, mas perderia de qualquer outra maneira. Não vai ser cortado por ter uma base enorme, sem trocadilho, de fãs GLS no EUA. E Glover, que mal chegou, já cria temores. Num MMA cheio de estratégia e quedas e estudos durante o round, ninguém quer encarar um cara que desce mesmo a mão na cara sem nada a perder e é bom de chão. Com a saída de Thiago Silva, Glover foi oferecido a Shogun que negou a luta. Compreensível da parte do ex campeão que não quer encarar um lutador com nível técnico de TOP 10, mas ainda ranqueado lá embaixo, e interessante para Teixeira que consegue mais uma finalização depois de entrar no UFC. Essa, de cunho moral.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

CRÔNICA 16 - O DIA DE DIAZ (publicada na Revista Tatame 193)


Seu rosto é tensão lacrada com zíper. Olhar é negro, pregado a marteladas no fundo da cara sob a sombra da testa franzida em mil degraus que levam a uma mente solitária. O nariz achatado despressuriza ódio. O queixo sempre proeminente anuncia intenção ruim, não está nem aí se vai esvaziar o lugar. Todo curvo, quase torto, mal feito. Se sorri, não é para vermos. Nick Diaz chega do inferno um dia antes de cada luta, no dia da pesagem ainda nem desfez as malas. Maconheiro, tri atleta, lutador, brigador, anti social, idolatrado, incompreensível de tão óbvio. É um cara qualquer, com erros medíocres e dilemas mundanos, um adulto em adolescência tardia,mas talentoso pra cacete. Simples assim. E vai rasgar quem o tentar segurar, vai sempre partir pra ganhar. Vai ser demais em cada segundo, exagerado em cada molécula. Vai ajudar a fortalecer o MMA se antes ele mesmo não se auto-sabotar.

Diaz é vintage, uma relíquia de tempos passados, empoeirado e raro. Um atleta que luta com o que tem no coração. Técnica, tática, estratégia estão submissas a emoção. Memória viva de um tempo tão glorioso que transformou o MMA em paixão mesmo quase sem apoio, com quase todo mundo cheio de mil razões ignorantes para torcer contra. Diaz é de uma linhagem de competidores praticamente extinta. Mais lutador que atleta, não vira a cara com medo do trauma, do rasgo, não quer ser modelo, não está no octagon com a cabeça nos dólares da campanha publicitária. Seu rosto é o escudo espartano que protege sua vontade, seu instinto primitivo de supremacia, e passo a passo vai empurrando o adversário para o desfiladeiro.

Sua carreira é instável, porque ele sempre é da mesma maneira. Seu comportamento é padronizadamente caótico. Cesar Gracie afirma não ter como realmente programar o treinamento de Nick, que precisa fazer as coisas de sua maneira ou não dá certo. Diaz sempre compete em triatlo, corre de madrugada ou faz natação, mas também sempre faz uso de entorpecente. Disciplina não é medida pela freqüência com que fazemos alguma coisa, e sim pelas vezes que a fazemos sem estar afim, por conta de um objetivo. Diaz tem disposição, preparo físico, coração, mas não tem disciplina. Esse é seu grande ponto fraco e o que faz genial. Perdeu para Condit porque se recusou a aceitar que estratégia faz parte do esporte, que andar para frente e se prontificar para a porrada é apenas a maneira mais emocionante de lutar, nem sempre a certa. E mesmo que tivesse vencido, perderia o cinturão por cair no doping pelo uso de maconha. Não importa. Seu destino não é ser campeão do UFC, é muito maior. É ser o elo perdido, o exemplo de como MMA pode ser emocionante sempre, sem ressalvas. Tática só é evolução esportiva se não matar o sentimento. Só tática sem show, vira xadrez, vira Georges St.Pierre. E é derrotá-lo é seu real objetivo nesse planeta. Desautorizar a burocracia. Desde menino problema, quase marginal que faz cara de mau até em foto de festa infantil, para campeão do WEC e STRIKEFORCE. Tudo é caminho para o dia D.

O dia vai chegar em que tudo fará sentido ou será em vão. Diaz vai brilhar ou será ofuscado pelos holofotes. Será capítulo na história do MMA ou nota de rodapé no capítulo de outro. Fará tremer sob sua sombra ou sumirá na própria escuridão. Fumar ou ser fumado por um baseado, eis a questão. Continuar tendo postura de rockstar transformando fãs em groupies, ou entender que é um ídolo sem querer e definir seu tamanho nesse esporte. Mostrar um caminho ou se perder nele. Ser grande lutador ou grandioso. Criar uma nova geração de admiradores ou ser coadjuvante da geração de St.Pierre. Passar o fim da vida trincando os dentes ou relaxar tranqüilo por tudo que conseguiu apesar de sempre ouvir que nunca ia conseguir nada. Encher um livro autobiográfico de desculpas esfarrapadas, ou completar seu destino e ironicamente sorrir, mesmo que nenhum de nós possa ver.

terça-feira, 6 de março de 2012

ANÁLISE: UFC 144 - Edgar VS Henderson


A torcida japonesa vaiou lutadores no chão, fez fiu-fiu para ring girl e gritou durante as lutas. Em 10 anos o Japão mudou e o MMA asiático também, mas qual deles para melhor? Eram urgentes apresentações emocionadas. Código de samurai, coração e honra que trariam glória mesmo sem vitória que incitaria o orgulho de sua nação. Isso não aconteceu. Se dependesse das grandes estrelas japonesas a sobrevivência do esporte no Japão, teria sido cometido haraquiri nesse UFC 144. Os atletas que deveriam ligar o desfibrilador para trazer o MMA de volta a vida, tropeçaram na tomada e forçaram uma eutanásia. Bem diferente das apresentações inspiradas e inspiradoras de quase todos os brasileiros nos dois eventos no Rio de Janeiro, os asiáticos tremeram que nem peixe recém saído d’água ao se apresentarem frente a sua torcida. Um evento comum vai medir se a Ásia ainda é realmente fã de MMA ou eterna viúva do PRIDE, porque se o público e mídia locais estavam esperando alguma coisa que os lembrassem de Fedor, Minotauro, Sakuraba, Wanderlei e outras mega estrelas em seu auge, tiveram suas expectativas fatiadas lentamente. O Saitama Super Arena já foi palco de momentos melhores.

Frankie Edgar VS Ben Henderson

MMA evoluiu e se desdobrou em muitas formas, mas a única que se mantém inalterada, ao redor da qual as mudanças dançam e se contorcem, é a emoção. Afirmar que sair trocando é o único modo de fazer a luta empolgante é desculpa esfarrapada de lutador de jiu-jitsu que não tem mais saco para ficar no chão. Da mesma maneira que Ben Henderson desmistifica a idéia que boa luta tem que acabar em nocaute ou finalização. Suas últimas 5 lutas foram todas excelentes e todas terminaram por decisão. E dois dos lutadores mais comprometidos com ataque, movimento e qualidade de todos os tempos colidiram nesse UFC 144. Se é verdade que foi uma boa luta, e não tinha como ser diferente, também posso afirmar que já vimos e iremos ver outras bem melhores esse ano. E se não foi o combate do século que o atrito de estilos e sonho dos dois previu, foi com certeza, um desfile de MMA do mais alto nível. De preparação física, estratégia, técnica, talento a coração. Não faltou quase nada nessa batalha ferrenha pelo cinturão dos leves, só pecou pela dose econômica do que sempre tem em exagero em suas lutas. A tal da emoção.

Foi uma boa luta, mas Ben e Frankie podiam fazer melhor. Fora aquele chute de Henderson no primeiro round que se pega arregalaria os olhos até do japonês mais rabugento e a pedalada no segundo, foram 5 rounds iguais. Tão quase desprovidos de real particularidade que me peguei olhando para o marcador digital todas as vezes em que revi a luta, para conferir o número do round. E revi a luta quatro vezes. Venceu Benson, mas poderia ter sido Edgar ou empate e o cinturão estaria em boas mãos do mesmo jeito.

Edgar é notável. O pressionarem para descer de peso é negar o que lhe faz tão incrível. Venceu Penn, Maynard e perdeu uma luta extremamente equivalente contra Henderson. Se os 3 maiores e melhores que o peso leve tem a oferecer mal conseguiram lhe fazer frente, imaginem os outros. Edgar pode voltar a ser campeão no peso ou descer. Que fique a seu critério, seu destino brilha tanto que ofusca a maioria. No leve, onde é minúsculo, cada luta sua é um exemplo comovente de superação, paixão, talento, esforço. Qualidades que a maioria nem possui, ele tem de sobra. No peso pena ele seria praticamente imbatível, no peso leve ele dá lições de vida. Ser grande é mais do que ser maior e a maioria que baixa o olhar para vê-lo passar também abaixa a cabeça em respeito. Edgar concedeu duas revanches imediatas para dois dos maiores da atualidade, e agora que perdeu, Dana White não quer lhe dar o mesmo direito. Justiça poética seria feita com Edgar VS Henderson 2. Seria o correto astralmente, fecharia a trilogia de revanches, mas ao mesmo tempo empenaria mais uma vez o processo de seleção natural desse que é o peso mais emocionante da atualidade. Torço para que aconteça o que Edgar preferir. Ele fez por merecer.

Ben Henderson é poderoso. Quantas ave Marias e pai nossos não deve rezar para purificar sua alma depois de descer tanta porrada nos adversários. Poucos são tão impetuosos e violentos como ele. Disciplina e talento vem em doses moderadas nos seres humanos normais. Se acomodam por aqui, dentro do cerebelo e do miocárdio confortavelmente. Mas em Bendo, são qualidades exageradas se espremendo para ocupar espaço que parece insuficiente. Tanto para tão pouco espaço que transbordam e seus adversários pagam o preço. Ben é um atleta perfeito sem espaço para gordura, frescura, fraqueza. Não tem excesso ruim. É uma coleção de influências, vontades e certezas tensionadas por uma cintura onde passam apenas nervo e coluna vertebral. Henderson é um dos maiores do mundo toda hora. Mesmo nas derrotas, é sempre o mesmo. Imbatível até que perde, e imbatível novamente depois que se ergue. Tem a sigla WEC carimbada em suas moléculas, show em seus movimentos, má intenção em seus golpes, fé em sua dor. Benson Henderson machuca antes de vencer, fere antes do fim. Se Edgar era um campeão respeitado, Ben será temido. Numa revanche Benson vencerá de modo mais contundente e partirá o coração juvenil de Edgar, que depois de Penn, Maynard e Ben, se lançará contra os joelhos de navalha de Aldo e será canonizado em algum estado do sul dos EUA.

Ryan Bader VS Quinton Jackson

Bader só tem duas derrotas na carreira. Uma para Jon Jones, que é café com leite nessa conta, e uma completamente eventual para Ortiz. Se lutarem mais 10 vezes Bader ganha todas. Mérito de Ortiz que venceu um dos jovens mais promissores da atualidade, mas um problema para quem achar que será fácil fazer o mesmo. Bader bate forte, tem queixo duro, excelente wrestling e pedigree. Raça que não tínhamos visto até então foi comprovada ao ser aparafusado de cabeça no chão pelo mestre da arte dos slams e, não só sair vivo ou sem alguma forma de paralisia, como continuar sendo superior e vencer a luta sem dificuldades. Ryan Bader não é carismático, não luta bonito, não tem talento para ser campeão e nem chegará perto, mas é um dos melhores da categoria e passará fácil por todos que subestimarem sua combinação de força física, disposição e pragmatismo.

Quinton Jackson já perdeu muito do que o fazia tão perigoso. Não tem mais sangue no olhar, não quer mesmo aquilo ali. Como percebemos em sua participação no filme Esquadrão classe A, é um ótimo ator. Tão bom que ainda convence alguns de que ainda se dedica aos treinos, que acha relevante o resultado das lutas e etc. Não me parece verdade. Claro que não gosta de ser derrotado, mas não é acometido pela dor de quem realmente anseia pela vitória. Jackson entra para ganhar dinheiro, sem magia, sem sonhos maiores. Virou um profissional sem alma do MMA. “Aquele cara que uiva”. Uma sombra tênue do grande lutador que á foi. Mesmo assim ainda é TOP 10 do meio pesado e melhor que Ryan Bader. Uma lesão no joelho o levou a prejudicar todo o treinamento e fazer uso de testosterona pela primeira vez na carreira. Entrou pesado, embaçado, parrudo, lento e sem o espírito do PRIDE que tentou evocar com a música durante sua entrada. Quinton fez o melhor que pode ou foi desleixado? Lutou pelos fãs ou por grana? É prepotência minha responder, mas fato é que mesmo mal preparado perdeu por pontos e teve chance de vencer. Jackson ainda pode fazer grandes lutas e ser relevante no peso se quiser, mas parece não querer.

Uma luta onde um agradeceu a sorte de faltar ímpeto vencedor ao outro. A um faltou por despreparo e a outro por não ter ambição. Dois clones táticos, wrestlers que seguram a luta em pé para boxear, fizeram uma luta quase sem boxe. Reticente e covarde. Um não querendo perder feio e outro com medo de por tudo a perder. Vencido e vencedor, os dois decepcionaram.

Mark Hunt VS Cheick Kongo

Se Kongo não fosse francês sua figura escura e assombrosa já estaria estampando os cartazes de divulgação de outro evento. Especialista em fazer lutas chatas, tem naquelas com fim abrupto as únicas divertidas. Seu estilo é tão comedido, tão obvio,que a luta precisa acabar rápido para não ser daquelas que levantamos para fazer pipoca. Quanto mais a luta dura, mais duro é de assistir. Tem na derrota para Mir e na vitória inexplicável sobre Barry as únicas lutas realmente empolgantes desde que começou sua carreira. Fora isso o que vemos é ser dominado sem esboçar reação por vários rounds, ou derrubar e amassar atletas de menos potência física ou expressão. Sua viagem ao Japão não foi de toda improdutiva já que nos presenteou com um nocaute rápido pelas mãos impiedosas de Hunt.

Hunt estava com a carreira paralisada quando entrou no UFC. Dana White afirmou não saber o que fazer com ele já que se tratava de um lutador limitado. Mas Hunt é mais ou menos como Thiago Alvez, se colocado contra um lutador completo terá poucas chances, mas contra um trocador vai dar show. Com a vantagem de que Hunt é realmente bom de trocação e não vai entregar o pescoço para uma guilhotina a segundos do fim quando está metendo a porrada em pé e vencendo a luta. Os mais novos nem devem saber, mas esse gordinho parafinado é um dos melhores trocadores de todos os tempos. Campeão do K1 e praticamente imbatível em pé. Venceu Kongo com a frieza de Hannibal Lecter fritando o cérebro da vítima ainda viva amarrada a cadeira. O octagon era pequeno demais para congo fugir. Deu um knockdown, parou e o esperou se levantar, tipo Jason, e mesmo caminhando lentamente alcançava o adversário que só corria. Bambeou Kongo com um soco em sua guarda fechada. Nem os dois antebraços do negão aguentaram o impacto, que saiu saindo meio de lado, meio Carlos Condit. Mas Hunt que não é Nick Diaz mostrou como se faz e o nocauteou sem a menor dificuldade. Só dá para trocar com Hunt com ajuda da sorte. E essa costuma servir para o adversário não sair de maca ou com lesões graves. Num mundo bizarro e inacreditável, poderia nocautear Barry, Struve, Roy Nelson, Shane Carwin e disputar o cinturão contra Overeem ou Cigano na maior trocação da história do peso pesado. Mas no mundo sem magia em que vivemos, vão colocá-lo contra Browne, Mitrione ou outro que irá derrubar e vencê-lo com facilidade.

Jake Shields VS Yoshihiro Akiyama

Akiyama foi finalizado por Leben que não sabe nem passar guarda, foi superado no boxe pelo limitado Bisping e caiu no chão sem levar nenhum soco de Belfort. Será que ninguém da direção do UFC vai tomar uma providência? Um lutador pode perder muitas lutas e ainda estar no evento por dar shows, motivar o público e essas coisas. Mas ser mantido após 4 derrotas seguidas em lutas desagradáveis é supervalorizar o apelo do atleta junto ao seu país. É colocar propaganda acima da realidade do combate, embalar o MMA a vácuo. Vou pedir dupla cidadania portuguesa e tentar um contrato junto ao UFC para defender a terrinha. Akiyama não lutou nada na frente de seu povo, não tem perdão. Se soubesse palavrão em japonês,o inseriria aqui nesse exato momento. Fez estritamente o mínimo que podia fazer sem chegar a parecer um lutador amador, mas foi o suficiente para vencer Shields. Por muito pouco. Por um fiapo de cabelo liso. Mas não foi isso que os árbitros laterais viram e deram a vitória para o americano. Foi garfado na terra dos pauzinhos. Honra e apatia se misturaram no discurso pós luta decorado de Akiyama, que parecia já saber ter poucas chances de ganhar. Vai continuar no UFC, mas merecia sair. Sua presença é um mau exemplo e desmotivante para tantos talentosos que merecem uma chance e não conseguem. Ou quando conseguem são sumariamente cortados como Rony Torres e Williamy Chiqueirim.

Jake Shields parece atendente de telemarketing. Deixa a alma no vestiário. Se o olharmos nos olhos veremos a nuca. Não tem nada lá dentro. Shields é tão lento que parece lutar dentro d’água. Cabeça grande, guarda baixa, mão de espuma. Tem em seu excelente jiu-jitsu que não consegue mais aplicar, sua mais letal arma. Lutou contra Akiyama como lutou desde que entrou no UFC: Mal. Para cada apresentação abaixo da média tem uma desculpa instantânea. Contra Kampmann afirmou ser o nervosismo da estréia e o corte de peso, contra GSP o nervosismo de disputar o cinturão no maior evento do mundo, contra Ellenberguer estava superando a morte do pai. Dessa vez deve ter sido a mudança de fuso. Fato é que vem sempre se apresentando de modo melancólico. Parece forçado a estar ali ou lutando para pagar a cirurgia de alguém. Shields não foi melhor que Akiyama, mas venceu. Levou duas quedas cinematográficas pontuando no placar 2 a 0 para o judô sobre o wrestling, mas andou um pouco mais para frente e forçou um pouco mais a luta. Se lutar assim contra qualquer atleta top 20 do peso meio médio, não passa do segundo round.

Yushin Okami VS Tim Boetsch

Tim Boetsch é um atleta esforçado, com grande poder de nocaute e nenhuma qualidade a mais. Não é particularmente forte fisicamente, bem preparado ou criativo. Sai pra trocar e se ficar difícil, tenta derrubar. Se não conseguir, continua trocando até um cair. E era ele quem estava para sucumbir quando Okami resolveu mostrar porque os atletas japoneses são o Botafogo do MMA atual, e entregou a luta no final. Sem motivo aparente, apenas amarelou para um adversário que vinha dominando e foi nocauteado. Tim conseguiu a maior vitória de sua vida e deve estar até hoje dando gargalhadas. Se alguns ainda se esforçavam para ranquear Okami entre os 10 melhores do peso, agora terão mais dificuldade para sustentar o argumento. Desmantelado com jabs por Anderson Silva e nocauteado pelo inexpressivo Boesch em sua terra natal, o asiático vai ter que comer muito sushi sem shoyo para voltar a ser relevante. Okami vai voltar para o limbo de lutas preliminares e main events sem importância de onde foi extraído para se apresentar no UFC Rio.

Anthony Pettis VS Joe Lauzon

Lauzon faz um pouco de tudo. Especialista em generalidades e esquizofrênico dentro do octagon, é capaz de dar knockdown em Melvin Guillard com segundos de luta e ser dominado no chão feito faixa branca, sem reação, por Sotiropoulos. Nunca sabemos que Lauzon se apresentará, mas é fato que nunca luta com a tenacidade de quem se leva a sério. Entrou achando que Pettis era Guillard, que daria para trocar, fazer uma graça para os fãs, provar que esse falatório a respeito do adversário é só papo furado da mídia, que aquele chute no último WEC contra Henderson é só firula. Acabou nocauteado, dormindo de olho aberto pra ver o tamanho das besteiras que vinha dizendo. Pettis é um dos melhores da atualidade. Completo, versátil, criativo, agressivo. Estreou mal no UFC com ajuda do arbitro Steve Mazaggati que deixou Clay Guida se debruçar sobre ele durante 3 rounds sem mandar levantar. Se fosse a mesma medida para Anthony Jhonson contra Belfort, o resultado da luta poderia ser bem diferente. Venceu claramente Jeremy Stephens, mas os árbitros deram apenas decisão dividida. Percebeu que dos homens de terno não virá admiração para seu show e resolveu sapatear na cara de Lauzon. Fingiu que ia chutar embaixo e meteu em cima. Simples e letal. Resumiu o texto cheio de blá blá blá da trocação em MMA com a genialidade dos ousados. Venceu e clamou por uma revanche contra Ben Henderson. Ele merece, mas Edgar merece mais. Pettis VS Edgar seria muito boa. Na verdade qualquer luta que envolva Anthony Pettis tem tudo para ser boa demais. Quando não é, é culpa do outro.

Takanori Gomi VS Eiji Mitsuoka

Eiji Mitsuoka é um lutador mediano. Tivesse se aventurado no mercado americano ao invés de se entregar ao circuito fechado do Japão, já teria abandonado a carreira. Entrou nesse UFC para apanhar e fazer a estrela de Gomi voltar a brilhar. É um mistério como não apenas foi melhor que seu adversário superstar no primeiro round, mas dominou em pé e no chão. Passeou pela terra arrasada da psique do ex fireball kid. Gomi desenvolveu o habito de ler Nietzsche antes de entrar para lutar. Deve ter confundido com livro de auto ajuda já que sua moral e carreira andavam em baixa. Takanori entra para triturar e no primeiro soco que passa zunindo perto de franja, começa a filosofar e questionar sua existência e função nesse universo. Com 5 derrotas nas últimas 8 lutas, tinha que vencer essa. Menos pela luta ser no Japão e mais pela qualidade inferior do adversário. Antes de querer salvar o MMA em seu país tinha que salvar e si próprio. Apanhou, quase foi finalizado e retornou mudado para o segundo round. Quase como se voltando de longa de descoberta espiritual. As porradas e a chave arrochada que levou desparafusaram alguma coisa em sua consciência e voltou a ser ele mesmo. Gomi era um trocador desmiolado e fantástico. Um gênio louco. E com pedaços seus largados no canto do corner, ficou mais leve. Deixou o escudo, o capacete e veio veloz. Atacou, intimidou, predou e venceu. Gomi finalmente estreou na organização no segundo round do UFC 144. Gomi lutando assim, despudorado, prepotente, desrespeitoso, desmantela a maioria dos que pararem em sua frente. O Gomi que vinha se apresentando medroso, filósofo, cheio de dramas e dilemas, vai ter nessa um oásis de vitória num mar de derrotas que virá.

Kid Yamamoto VS Vaughan Lee

Lee foi mais um adversário escolhido a dedo para permitir vitória sem muitos percalços da estrela do país. Mas Kid Yamamoto, outrora um dos melhores que caminhou sobre a terra, tornou-se medíocre. Com 5 derrotas nas últimas 6 lutas, simplesmente arruma sempre um modo de perder. Parece que desenvolveu instinto masoquista ao longo desses anos todos. De tanto ganhar, começou a desenvolver paixão bandida por perder. Kid disse vir escondendo uma lesão em suas últimas lutas que o prejudicou. Entrou 100% nessa e lutou ainda pior. Era uma máquina de lutar. Qualidade, esperteza, velocidade, explosão distribuídas de modo industrial, sem falhas, sem descanso. Nunca estava de bobeira, sempre atento, sempre querendo ser o melhor do mundo. Ambicioso e com coração e talento para agüentar o tamanho dessa prepotência. Não é mais nada disso. Kid parece estar sempre a um jab de distância do nocaute, a um arrocho da finalização. Tentei entende-lo e não consegui, não tento mais. Perdeu uma luta que vinha ganhando porque não consegue mais superar nenhuma adversidade. Parece mimado, em carne viva, magoado. Qualquer coisinha é muito. Lee sorveu do delicioso fruto que só saboreiam os perseverantes e conseguiu a maior vitória de sua vida.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

ANÁLISE: UFC 143 - Condit VS Diaz


Esse UFC 143 começou fantástico e terminou melancólico. Lá no fundo do abismo das preliminares, quando nem todos os holofotes foram acesos e a pipoca ainda nem ficou ponta, lá na primeira luta que muitos nem vêem porque não chegaram em casa ou no estádio, explodiu uma supernova no chute Stephen Thompson, um dos strikers mais fantásticos do planeta, invicto e convicto de já ser um dos melhores sem ninguém ainda saber. Enquanto no evento principal duas estrelas não foram suficientes para emitir o menor brilho. O eterno dilema de tática VS. raça, estratégia VS. coração tem um de seus capítulos mais polêmicos imortalizado no tango de Diaz e Condit. Um dando passos pra frente, outro dando passos pra trás, bailando num ritmo nada eficaz e muito longe do que cada um é capaz.

Carlos Condit VS Nick Diaz

Ir dormir às 4 da manhã frustrado por uma péssima luta entre dois dos maiores do mundo pode encher nossos corações de idéias vis e depreciativas, mas em nome da razão devemos tomar as rédeas desses sentimentos. Afirmar que Nick Diaz só quer trocar porrada e luta como brigador de bar, ou que Condit correu do combate, são duas afirmações inverídicas e ingratas. Só quem entende o que vê, compreende o que sente. Condit tem 28 vitórias, 26 nocautes ou finalizações e Diaz 26 vitórias, com 21 acabando antes do tempo regulamentar. São dois dos lutadores mais agressivos que esse esporte já produziu e vão continuar no topo, ganhando bônus de luta, nocaute ou finalização da noite. E teria sido essa uma luta incrível não tivesse Condit resolvido usar da maldita estratégia. Podia ter partido pra cima, para troca franca e tinha grande chance de vencer, mas optou por seguir a risca o plano, matar o improviso, sacrificar a alma fervente do combate em troca de uma fria vitória. Tudo isso é verdade e mesmo assim, foi o claro vencedor do combate. Em um esporte com regras, podemos criticar quem se atém a elas de modo justo e sem criatividade, mas não desmerecê-lo. Dentro dos critérios de avaliação vigente em MMA, Carlos venceu.

Nick Diaz nasceu para o combate. Não gosta da fama ou entrevistas, odeia o adversário para amar lutar. Se você sangrar, ele fareja, se fizer ele sangrar, entra em frenesi. É uma criatura unilateral, um ídolo improvável e relutante, um dos poucos defensores de um estilo antigo de lutadores que caiam dentro mesmo, sem plano B ou C. Treinam de tudo e vão pro pau. Apanha, bate, da show, mancha a lona, rasga a carne e vence muito mais do que perde. Não desenvolveu o falso respeito pelos atletas companheiros de trabalho que tanto mata a sinceridade das declarações hoje em dia. Foi posto nesse mundo para vencer St.Pierre, é seu destino, ele sabe, nós sabemos. Mas tinha uma pedra no meio do caminho.

Carlos Condit é elite. Tem plano de A a Z e frieza e disciplina de samurai. Entende que para chegar a um objetivo primeiro deve se conhecer os vários caminhos, e a diferença entre certo ou errado, covarde ou ousado, pode estar no resultado final. Não desestabiliza mentalmente, não perde o foco. Mesmo em silêncio ou movimentos laterais sua katana está sempre meio fora da bainha. São os outros que tendem a se desesperar em sua aparente indiferença que costuma vir seguida de soco na cara e nocaute.

Uma pequena coisa impediu dois dos trocadores mais agressivos e incansáveis, no momento mais próximo da realização de seus sonhos, de protagonizarem uma luta inesquecível: estratégia. Diaz aceita a troca, abaixa a guarda, chama pra dentro, aceita a luta de solo onde é incrível, mas tem dois defeitos que nunca pensou em corrigir. Dificuldade em encurtar e em derrubar. Quase todas as lutas que vence, ou o adversário aceitou a troca franca, permitindo assim que ele se aproximasse e dizimasse, ou o derrubou para evitar o pau e acabou finalizado. Para Greg Jackson foi um código fácil de quebrar. Era só manter a distância que Diaz não conseguiria se aproximar para ser letal e muito menos derrubar. O mais difícil era fazer Condit, que só luta andando para frente, aceitar e conseguir ser eficaz andando para traz. Algumas pessoas tem dificuldade em abrir a mesma porta só porque mudou a maçaneta, imagine alterar todo o estilo de luta para um combate. Tem que ser extremamente talentoso, de várias valências técnicas e com muita disciplina para executar um plano assim. E é isso que um “natural born killer” faz. Estuda a presa e executa. A história é contada pelo vencedor.

Muito da crítica a sua performance vem por não ter se chocado com Diaz no meio do octagon até um cair. Lembro que Sugar Ray Leonard e Muhammad Ali, dois dos maiores boxers de toda a existência, lutavam caminhando para trás. Chuck Liddell e Lyoto Machida, também. Caminhar para trás é apenas uma opção de movimentação. A diferença entre fugir ou evadir está na eficácia dos contragolpes. Kalib Starnes correu a luta toda de Nate Quarry. Fugiu dos golpes e não desferiu nenhum. Era um tentando bater e o outro tentando não apanhar. Quem acha que viu isso em Condit VS. Diaz deveria rever a luta, e se ainda achar a mesma coisa admitir que sofre de avançado caso de amor platônico. Condit desferiu 159 golpes (acertou 151). Desses, alguns foram joelhadas voadoras, cotoveladas giratórias e um chute na cabeça que só não apagou Diaz, porque Diaz nunca apaga. E isso porque foi elusivo o tempo todo, porque evitou o combate, imagine se tivesse atacado. Diaz desferiu menos golpes e acertou menos (117/105). Desmerecer o ex campeão do WEC é tirar o mérito do ex campeão do Strikeforce.

Uma luta dessa importância e tão complicada de julgar polariza as torcidas. Diaz entrou e foi pra cima, como sempre faz, foi predador, irracional, um animal, uma fera selvagem. Condit foi caçador, calmo, racional. Na tentativa de provar sua opinião a correta, muitos buscam suporte na opinião de outros. Anderson Silva achou que Diaz ganhou, mas Anderson também achou que Minotouro venceu Bader. O pessoal envolvido no jiu-jitsu tende a apoiar Diaz, apesar de Diaz ser basicamente um striker atualmente. Intrigante. Lembro de Vitor Belfort após vencer o torneio do UFC nocauteando Tra Telligman e Ferrozo, gritar de todo pulmão: jiu-jitsu! Fato é que aquele que andou para trás desferiu mais golpes, acertou mais golpes contundentes, diversificou mais os ataques e feriu mais o adversário. Diaz não conseguiu fazer nada do que planejou, Condit fez exatamente o que queria. Vitória da estratégia e derrota da emoção.

Há um ditado japonês que diz para tomarmos cuidado com o que desejamos, porque pode virar realidade. Diaz adoraria uma revanche, mas se Condit entrar com os gametas fervilhando de ódio e partir pra cima, são grandes a chances de Diaz só poder reclamar do resultado quando acordar na cama do hospital.

Torci por Diaz porque acredito que é o único com chances reais de desmoralizar Georges St.Pierre e aplacar de vez a tentativa do canadense transformar MMA em álgebra. Mas a minha torcida por um jamais me fará fechar os olhos para o mérito do outro.

Diaz e seus admiradores afirmam que ele é um lutador de verdade e que entrou para lutar, diferente do adversário, mas desmereceu o campeão ao final. Lutador de verdade é mais do que aceitar porrada. Quem aceita porrada é porradeiro, raçudo. Lutador de verdade tem disciplina, respeito pela arte que pratica, pelos mestres que teve e por aqueles que o superam sem trapaça. Se o adversário é um covarde, pior para Diaz que não vence nem um covarde preso com ele numa jaula por 25 minutos. Entrou, teve performance de grande lutador, mas saiu como moleque. Choramingando e dizendo que não brinca mais. Pelo esforço todo, merecia pelo menos um bom bom e uma medalhinha de honra ao mérito, porque o cinturão está nos ombros de Carlos Condit e lá vai ficar.

Fabricio Werdum VS Roy Nelson

Tem um certo azedume toda análise minha das lutas de Werdum. Nunca pareceu astralmente justa sua vitória sobre Fedor Emelianenko, apesar de cheia de méritos. Um lutador mediano não deveria ser o escolhido pelo destino para mancar o galope imbatível do maior de todos os tempos. Ou talvez esteja sendo poético demais, e Werdum tenha apenas colhido os frutos de treino e dedicação enquanto o russo se apresentava gordo e obsoleto. Fato é que passou de um incrível lutador de chão com uma trocação medíocre escondida atrás de mãos pesadíssimas e se jogar no chão para fugir dos golpes de Overeem no Strikeforce, para trocação refinada e brutal em uma luta. De sua última para essa contra Roy Nelson, vimos versão extremamente melhorada de contundência em pé. Seu treinador Rafael Cordeiro transformou o canivete em baioneta. Apertou os parafusos de seu boxe e lubrificou o encaixe de seu muay thai. Werdum lembrou Wanderlei Silva como se grampeia uma nuca e desce o joelho. Só não venceu por nocaute no primeiro round porque Nelson gosta de apanhar. Se não gostasse teria urrado de dor e entregue o combate. Apenas raça não é suficiente para agüentar esse nível de punição sem chance de fuga.

Roy Nelson é um péssimo exemplo. Tem vários fãs que se identificam com sua barriga e jeito desleixado, mas isso não é bom para o esporte. Obeso, lento, não consegue colocar em prática seu jiu-jitsu por perder em movimentação para quase qualquer adversário, e não consegue aplicar com eficácia sua pesadíssima mão, por não ter aceleração. Resta fazer uso de seu super poder masoquista de agüentar dano indefinidamente. Até esboçou lutar por cima de Werdum, mas ter o braço quase estalado o fez mudar de idéia.

Se é verdade que Werdum traz novas qualidades, também é que arrasta os mesmos defeitos. Seu gás acaba antes do fim do primeiro round e é extremamente econômico na ousadia. Assim que acha que está na frente por pontos, para de agredir. Se joga no chão e caminha sem desferir golpes nem em contra ataque. Foi necessário um segundo round parelho contra Roy para que resolvesse voltar a lutar no terceiro. Se Werdum fosse sempre como é nos primeiros 3:43 minutos de cada luta, seria um dos mais perigosos do mundo. Uma luta sua contra Frank Mir lhes cairia bem. Para Roy não há nenhum caminho claro. Descer para o meio pesado poderia ser bom para sua carreira e diminuiria suas chances de sofrer um micro enfarto fulminante.

Renan Barão VS Scott Jorgensen

Renan Barão só tem uma derrota e faz tanto tempo que nem se lembra, mas seu sangue é real e seu destino é ser campeão, seja no peso galo ou no mosca, caso não supere a genialidade e demência de Dominick Cruz e tenha que descer. Ele encontrará um caminho. Teve uma apresentação apenas mediana e mesmo assim tirou o ultra competitivo Scott Jorgensen pra figurante. Ombros fechados, socos em linha, chutes invisíveis de velozes e jiu-jitsu na ponta da navalha. Barão é demais para quase qualquer adversário do seu peso.

Jorgensen fez o que pode, mas Barão pode tudo. Foi melhor na trocação e no chinch. Venceu sem grande esforço um dos melhores que o peso tem a oferecer. Com os dois únicos capazes de lhe incomodarem já com luta marcada, Cruz Vs Faber, vai passear sobre outro adversário que o UFC ache digno e avançará sobre o cinturão no final de 2012. Scott deveria descer e tentar se reinventar no peso mosca, ainda bem carente de estrelas.

Matt Brown VS Chris Cope

Até essa luta Matt Brown vinha de 4 derrotas em 5 combates. E mesmo finalizado em todas, continua de contrato ativo no UFC. Agora entendo bem o epelido “the immortal”. Significa: “amigo de Dana e Lorenzo”. Deve levar o peru na ceia de Natal, namorar a filha de um deles ou saber um segredo sinistro, não consigo achar outra explicação. Um lutador sem carisma e de qualidade questionável como esse figurar no evento, me faz questionar a suposta idoneidade dos organizadores ao afirmar trazer e manter os melhores do mundo. Brown pode pegar qualquer um, não importa o resultado. Ele sempre estará lá.

Cope entrou para apanhar. Com cartel de 5 vitórias e 3 derrotas já pode lutar por algum cinturão nos atuais eventos do Jungle Fight.

Alex Caceres VS Edwin Figueroa

Alex Caceres tem estilo, troca com categoria e precisão, tem um chão afiado, mas alguma coisa em seu sistema força a reinicialização toda hora. Não consegue dar seqüência. Em quase toda luta arruma um modo de parar de fazer o que vinha fazendo bem, ou continuar fazendo o que não vem dando certo. Nesse caso foram dois chutes direto no apito de plástico do adversário, pelos quais foi punido com a perda de 2 pontos. Um para cada filho que Figueroa jamais terá. Herrera e Gonzalez jamais nascerão.

Chutes internos causam extremo dano, tanto na musculatura da coxa quanto ligamentos do joelho, mas são de alto risco. Meses de treinamento com atleta de tamanho ou base ligeiramente diferente do oponente, pode fazer o golpe entrar em cheio no lugar errado. Cabe a quem desferiu mudar de tática antes de ser considerado infrator. Cáceres insistiu no erro, como sempre faz, e perdeu como adora perder. Assim, de modo besta. Quase sem merecer, quase sem mais nem menos.

Figueroa foi pior, mas mereceu vencer, Cáceres foi melhor e mereceu a derrota. Jamais conseguiria imaginar um combate que justificasse tal lógica. Figueroa ainda vai melhorar muito. É jovem e luta bem quando não está quase paralisado da cintura para baixo e Caceres vai sumir num mar de lutadores cheios de talento e sem disciplina.

OBS: Muitos estranharam Caceres ser punido com a perda de 2 pontos. Quando um atleta é advertido por um golpe ilegal que o juiz acha não ser intencional, na reincidência, perde 1 ponto. Quando o juiz considera que os dois golpes foram intencionais, tem liberdade para descontar 2.

Stephen Thompson VS Daniel Stittgen

Firas Zahabi, treinador de GSP, afirmou que Stephen é o melhor trocador do planeta, independente de esporte. O lobby é forte para o menino, e Firas é conhecido por dar esse suporte moral, por vezes exagerado a seus atletas. Mas fato que houve lampejos violentos de grandeza em sua breve apresentação nesse UFC 143. Guarda baixa, leve, quase sem tocar o chão, silencioso, letal, tão tranqüilo que parece frágil. Com mais de 40 vitórias e nenhuma derrota em kickboxing e invicto em MMA, Stephen erradicou seu primeiro adversário na organização. Dá um soco, abaixa a guarda, espera o contra golpe com os olhos abertos, a expressão relaxada de quem prevê o futuro, espera o alcance do adversário limitar o punho a milímetros de seu nariz para elevar a perna e nocauteá-lo com um tapa de pé na têmpora. Se com os punhos chamaríamos de overhand, podemos dizer que foi um overfeet. Contemplou o adversário cair com seus olhos que captam o universo em câmera lenta, e depois de milênios na sua contagem de tempo, deu um salto girado no ar e repousou de joelhos. Ninja Gaiden.

O UFC deve lhe oferecer para espancamento outro atleta de baixo nível como Stittgen, vindo de organizações menores, porém sem real pedigree. Precisa de tempo para amar MMA e desenvolver defesa de queda e luta de solo, não para misturar tudo e virar um hibrido sem alma, mas para poder se manter em pé, onde nasceu para estrelar e de onde ainda vai dar muitos espetáculos.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

ANÁLISE: UFC on FOX 2 - Evans VS Davis


O primeiro UFC na FOX teve Cigano se sagrando campeão e o espancamento de Guida pelas mãos cheias de fé de Ben Henderson, mas foi um evento não previsto no contrato entre emissora e Zuffa. Quase um bônus. Foi tentativa de aproveitar o fim de ano para calibrar transmissão que costumeiramente se desenvolvia no espaço elástico do pay per view. Agora necessitava de sincronia perfeita entre FOX, FX e Facebook. Tempo de lutas, nova vinheta, tudo tinha que se encaixar justo e tomar formato de programa de ponta em uma das maiores emissoras dos EUA. Contratualmente esse UFC foi o primeiro evento programado, com 3 lutas no card principal transmitidos pela FOX. E se tudo foi perfeito no ensaio ano passado, agora as coisas não se desenrolaram de maneira tão suave num exemplo prático da sabedoria de botequim de que “treino é treino e jogo é jogo”. Não adianta luz, câmera, sem ação. Efeitos especiais, divulgação, belas ring girls, bravatas na coletiva de imprensa ou o melhor announcer do mundo, nada é mais importante do que acontece dentro das 8 grades. Lá MMA surgiu e é lá dentro que pode morrer. A questão lúdica que povoa nossa cabeça desde criança de saber quem é o melhor lutador do mundo nos mantém acordado tantas madrugadas, esperando atletas que dedicam sua carreira ao combate nos darem resposta com violência, coragem e talento. Muito pouco disso vimos nesse UFC on FOX 2, que mesmo assim teve facilmente mais pontos de audiência do que qualquer outro programa no horário entre homens de 18 a 49 anos. A questão é quantos desses ao assistir MMA pela primeira vez na forma de 11 rounds melancólicos em 3 lutas do card principal, repetirão a dose. Muito do que Cigano construiu com uma mãozada ano passado, Evans, Davis, Sonnen, Bisping, Maia e Weidman destruíram sem a menor vergonha.

Charles do Bronx’s VS Eric Wisely

Geralmente começo a análise pela luta principal, mas me sinto pressionado pelo bom senso a abrir uma exceção. Num evento estéril, com gente ganhado milhões para falar besteiras nas entrevistas e lutar pouco, é emocionante ver um atleta genuinamente talentoso, ainda puro em sua intenção ininterrupta de vencer. Sem falar dos outros, sem pensar demais, sem hesitar. Charles Oliveira vinha de três lutas sem vitória. Derrotas pelas mãos de dois dos melhores do mundo e um no contest, por conta de joelhada ilegal em Nik Lentz. Quase qualquer lutador vivo entraria nesse quarto combate com o pé acorrentado a pedra da precaução. Daria dois passos pra trás e um pra frente. Mais jabs que uppers ou diretos. Controlaria mais no chinch do que tentaria derrubar, e se derrubasse, passaria a guarda e daria uns cascudos ao invés de ir para finalizar. Do Bronx’s não fez nada disso. Na verdade nunca faz nada do que achamos que vai fazer por isso é imprescindível para o esporte. Perdendo ou ganhando luta com alma. Como um coração enorme consegue bater espremido dentro de uma caixa torácica tão achatada, deixo para as máquinas de raios-X entenderem. Fato é que parece lutar por muitos e outros como se não lutassem por nada. Quer demais enquanto para outros, tanto faz. Entrou, atacou, viu uma panturrilha e finalizou. Simples assim. Se pega pé no rola, vai ver um na hora decisiva e deixar passar por quê? De que adianta nocautear os companheiros de treino e não dar soco com medo de perder a montada na luta, como tantos fazem? Bronx’s luta da maneira que pratica, que vive. Ele existe assim, em uma forma só, sem máscara, sem dúvidas. Enquanto tantos nesse card lutaram querendo ganhar, ele lutou para ganhar.

Eric Wisely é um lutador mediano. Não podemos afirmar que Charles venceu alguém relevante, mas os grandes fazem assim. O Barcelona joga bem mesmo contra adversários ruins. Os melhores fazem o incrível sempre, não se escoram na incompetência do adversário para justificar mediocridade, brilham mesmo sobre o apagado, bailam sozinho, cantam a capela.

Pequeno no peso leve ficou gigante no pena. Alto, longo e ocupando menos espaço que antes vai prensar ali dentro toda tática, genialidade, força, velocidade e foco que já faziam dele um dos mais promissores. Vai comprimir nêutrons e prótons, vai explodir na cara do adversário. Móvel, versátil, ataca de todos os lados pra pegar ou machucar. Vai ser líquido enquanto os comuns são sólidos. Num peso onde podia ser jogado de um lado para o outro como um boneco de pano, só foi perder para dois TOP 10. Tomou a melhor decisão de sua vida ao descer de peso e se tornar a única real ameaça a José Aldo. Charles do Bronx’s é pessoa simples, direta, sem frases de efeito, ameaças e coisas que ajudem a promover a luta. É um menino quase sem graça até. Mas dentro do octagon seus passos deixam traços de pó pirlimpimpim.

Rashad Evans VS Phil Davis

Evans e Davis se enfrentaram para decidir o próximo a desfrutar do direito masoquista de ser desmantelado por Jon Jones. Antes da luta, tinha certeza que nenhum dos dois, apesar de extremamente talentosos e bem preparados, carregava chance real contra o campeão, mas depois de 5 rounds sem força ou ímpeto vencedor, a certeza é de que qualquer um deles será humilhado.

Phil Davis venceu com facilidade Minotouro e Gustafsson, que se enfrentarão no UFC Suécia, mas nem assustou Rashad Evans. Cansou rápido apesar de ser um atleta de ponta e adepto de um dos mais exigentes regimes de treinamento. Com preparo físico estelar, parecia drenado ao final do primeiro round. Sem resistência cardiovascular. Laranja sem suco é só bagaço. Parecia exaurido pela importância da luta, da transmissão em emissora aberta, coisas fora da parte física. Porque a luta em si, apesar de várias esgrimas cansativas de wrestling, não exigiu de nenhum dos dois mais do que poderiam facilmente oferecer. Parece que amarelaram sincronizadamente e estrelaram um dos mais deprimentes eventos principais de todos os tempos. Ah! Que saudade de Munhoz Vs Leben.

Evans vem lutando pouco nos últimos anos, seja por lesões suas, seja por ter optado esperar determinados adversários se recuperarem de suas próprias lesões. Fato que seu corpo e preparação nunca mantém a mesma qualidade por dois combates seguidos. Pode estar com gás infinito contra Jackson ou esbaforido na metade do segundo round contra Davis. Muito tempo parado, muitos recomeços, o corpo sente de alguma forma. Lutou uma vez em 2009, duas em 2010 e uma em 2011. Apenas quatro lutas em três anos. O veterano e teoricamente aposentado Matt Hugues vem lutando com mais freqüência.

Rashad é um atleta incrível. Um dos maiores do mundo com facilidade. Poderia descer para o peso médio onde seria assustador, mas alguma coisa no somatório de suas habilidades não encaixa. Tem tudo, mas falta alguma coisa. Bom de boxe, mão pesada, incrível em quedas e defesa de quedas, eficaz em jiu-jitsu, poderoso ground and Pound, mas simplesmente não consegue mais ser contundente. Não consegue mais ferir a maioria dos adversários. Pegou tudo que poderia fazer dele um nocauteador nato, um dos mais amados e admirados, juntou numa gororoba de quedas e controle, sem emoção ou contundência. O Rashad antigo, aquele que nunca se imaginou campeão de alguma coisa, que ouvia que não era bom o suficiente, esse sim, dava o queixo, caia dentro, nocauteava, quebrava e vencia. Depois que cismou que só vale a pena ser campeão, acreditando piamente que o segundo é o primeiro dos últimos, aprendeu a manter a distância, transformar cada round em um campeonato de wrestling e cada momento no solo numa competição sem pano.

Evans é um dos mistérios do MMA. Comentarista convidado da ESPN live, campeão do TUF e do meio pesado, é vaiado até contra lutadores de outras nacionalidades, como foi o caso de quando defendeu seu cinturão contra Lyoto. O próprio declarou que recebe muito carinho dos fãs fora das lutas, mas no octagon e em pesagens, não importa contra quem, vença ou perca, as vaias virão. E tendo esse som como trilha sonora de sua vida, deu motivo até para seu fã mais ardoroso dar uma vaiadinha nesse UFC on FOX 2. Comedido, econômico, abusou do excesso de experiência, timing e controle de octagon e venceu sem sustos para ele ou emoção para nós. Disse ter dificuldade em se concentrar nessa, quando é apenas a luta pelo cinturão que tem na cabeça. Caiu no bueiro andando em direção ao restaurante. Venceu tranquilamente um dos atletas mais naturalmente explosivos, condecorados e muscularmente preparados do esporte, mas fez tão sem garra que pareceu irrelevante. Daqui a dois anos é que teremos real medida da qualidade de Phil Davis. O ponto a ressaltar é que Evans desperdiçou a chance de meter o pé na porta do saloon antes de atirar no xerife. Era o momento de acertar um mata cobra emocional em seu desafeto, Jon Jones. Mostrar que está em Kill Bill mode, com os nervos pinçados pela vingança, fazer o imbatível adversário tremer frente a sua raça e sentimento, qualidades que costumeiramente encontram brechas na armadura do talento. Colocar na confiança inabalável do campeão alguns farelos de receio. Nada disso Rashad fez. Verdade que em MMA tudo pode acontecer, mas essa improbabilidade não tem permissão para adentrar o reino de Jones. Lá, ele sempre vencerá. Rashad já perdeu.

Chael Sonnen VS Michael Bisping

Dana White afirmou que Sonnen e Bisping são os dois lutadores mais odiados do planeta. Na verdade são os dois mais farofeiros, ou como diziam na época da vovó: “fala - baratos”. Perceberam rapidamente o fascínio que palavras malditas, ofensas e falsas rivalidades geram sobre o atleta. Criando uma aura de interesse que vai além da habilidade, levando fãs a acompanhá-lo como um BBB ambulante, atrás de novas declarações e torcer para vê-lo apanhar e ser punido por tais injúrias. Nada exclusiva dos dois, essa tática funciona para qualquer lutador, de marmelada na saudosa época de Teddy Boy Marino até o morto-vivo K-1. Todos querem ver o que vai fazer aquele que falou demais. Isso vale para vender pay per view, aumentar o número de retweets, divulgar a luta, mas na hora que o portão fecha o que conta é performance. E eles que vinham de bons momentos, resolveram fazer tudo diferente no UFC on FOX 2. Quando os holofotes foram acesos, correram para a sombra. Seguraram golpe quando era para nocautear, socaram sem força quando era para machucar. Venceu um, mas poderia ter sido o outro. Uma luta equivalente e desprezível.

Bisping lutou bem. Talvez melhor do que lutou sua vida inteira, mas sua quantidade de talento é diminuta demais para fazer frente a um atleta de real alto nível. Não tem contundência, não tem pressão, mas teve vontade e coragem. Muito mais do que seu adversário que tanto falou. Bisping teve sua melhor apresentação no UFC e Sonnen uma das piores, mas isso foi suficiente apenas para manter o equilíbrio em uma luta que já parecia decidida. De tanto falar qualquer coisa e perceber que as pessoas acreditam, Sonnen resolveu acreditar nas pessoas e encarou Bisping como se fosse luta fácil. Partiu para cima para derrubar, despedaçar e não conseguiu. Se levarmos em conta que Bisping vinha se preparando para um lutador de jiu-jitsu que jamais tentaria derrubá-lo, foi desmoralizante Sonnen ter quase todas suas investidas neutralizadas. Venceu claramente o terceiro round, mas os dois primeiros poderia ter vencedor decidido no par ou ímpar. Nenhum tentou um pouco mais, nenhum realmente se expôs. Um venceu e vai fazer sua dita sonhada revanche contra Anderson, outro perdeu e continuará sendo divulgado como estrela do MMA por ser o maior representante da Inglaterra.

Se Sonnen conseguiu ser descabelado pelos socos de mão de bicho de pelúcia de Bisping, não agüenta um jab/direto de Anderson Silva. Acho que ao derrubar o adversário pela primeira vez e ver a chance de descer a mão, quebrar o atleta inferior, coisa que apesar de ser especialista mal fez nessa luta, sentiu uma pontadinha lá no fundo de sua consciência. Tal qual o rasgo de uma mini estrela ninja. Uma gotícula de razão no mar de provocações e impropérios que vem proferindo faz anos. Se deu conta que um soco bem dado no inglês poderia ser nocaute e carimbo de sua passagem para o Brasil, onde teria que compensar o cheque que sua boca passou mesmo sabendo não ter fundos. Talvez tenha passado a luta inteira numa espécie de: “ai meu deus, e se eu ganhar?” que tirou sua conhecida agressividade e força nos punhos. Tentou derrubar sem vontade, e não conseguiu, bateu sem pressão e não machucou. Se tivesse pênalti, pedia pra não chutar. Sonnen amarelou para Anderson antes mesmo do contrato ser assinado. Seu sonho real não era uma revanche. Era perder essa luta, dizer que o resultado foi controverso e passar mais um ano falando besteira e ganhando milhões com patrocinadores. Anderson Vs Sonnen é luta que todos os habitantes do planeta Terra que já ouviram falar de MMA realmente queriam que acontecesse, com exceção de uma única pessoa: Chael Sonnen. E como sou afeito a sabedoria popular, deixo aqui transcrita a frase que vai lembrar até o fim de seus dias: “Uh! Vai morrer!”.

Demian Maia VS Chris Weidman

Um lutador que podia ser incrível, mas optou por ser mediano, e um dos mais promissores jovens da atualidade com apenas 11 dias para se preparar, protagonizaram uma luta arrastada durante três particularmente longos rounds. Seja porque o veterano via nessa a última oportunidade de se aproximar do cinturão, seja pelo mais novo não ter o que perder, os dois tinham o compromisso ético de fazer desse um combate movimentado. MMA que tantas vezes no surpreende, dessa vez nos pregou uma peça.

Luta a luta Maia incorpora alguma coisa diferente ao seu jogo, mas não evolui, apenas muda. De fantástico e temido no solo, a lutador que faz de tudo para se manter em pé e boxear sem jabs ou precisão. Quem o convenceu a trocar chão perfeito por socos de baixa qualidade, não é apenas um mal mentor, é pessoa com lábia para ter uma seita religiosa. Demian se lança em trocações como se pagasse alguma promessa. O que seria excelente arma para atrair até a emboscada, amaciar o oponente e abatê-lo sem piedade no solo, virou uma lente difusa. Maia que nos mostrou ter perdido o ajuste em posições básicas de jiu-jitsu na luta contra Munoz, agora dá sinais de que nem mais ali que estar, se esmerando para voltar de pé assim que se vê na horizontal. Vive amor platônico pela nobre arte e está sendo incinerado pelo sentimento. Vai ser queimado por essa paixão bandida que já fez tantas vitimas: Minotauro, Couture, Sakuraba, Hughes e outros mestres em misturar, que se encantaram pela separação. Agarraram uma arte e esnobaram as outras. Ingratos. Foi o começo de tantos fins e seu não é diferente. Parece o português que se mudou para a Alemanha, não aprendeu alemão, esqueceu o português e acabou mudo.

Weidman é melhor do que vimos. Sua trocação estava mole e sem ajuste, coisa de que quem vem apenas treinando para manter a forma, sem sintonia fina ou estratégia traçada. Apesar de que ouvir Dórea ordenar Maia, entre rounds, a derrubar o adversário all american, me leva a crer que eles também não tinham nenhuma. Mesmo assim, se arrastando, sem tática e sem preparo físico, foi melhor em todos os rounds. Pareceu estar lutando mal, mas fez demais dentro das condições em que se encontrava. Weidman precisa de uns dois anos para elevar seu potencial a TOP 10 da categoria, e quando chegar lá vai ficar um bom tempo.

Se Demian não mostra mais um jiu-jitsu refinado nem boxe eficaz, em uma coisa ele vem se tornando especialista: fazer lutas chatas. Perdeu metade das últimas seis lutas, e todas foram para a decisão. As últimas terminadas antes do tempo regulamentar foram a finalização de Sonnen e o nocaute pelas mãos de Marquardt, em 2009. Maia tem chances de ser cortado apenas por não ser mais um lutador empolgante dentro ou fora do octagon. Muitos foram por menos que isso. Júnior Assunção foi cortado do UFC sempre indo para frente e com apenas uma derrota nas últimas seis lutas. Tudo pode acontecer, mas gostaria que Dana White esperasse uma luta entre ele e Toquinho aqui no Brasil, para tomar essa decisão. Só não coloque no card principal, porque maluquinho como Toquinho é, e chato como Maia está, a luta pode não ser nada do que estamos esperando.