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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

ANÁLISE: UFC 136 - Edgar VS Maynard 3


Num evento cheio de estrelas e lições de vida, vimos algumas brilharem ainda mais forte e outras começarem a apagar melancolicamente. José Aldo mostra mais uma vez porque mesmo sendo superstar do WEC e campeão do peso pena, nunca fez um evento principal do UFC, enquanto Edgar, que tantos acham não valer o cinturão que carrega, mais uma vez cala a boca dos críticos e de seu maior nêmesis na porrada. Maia mostra que de tanto treinar uma arte podemos acabar desaprendendo outra, Sonnen VS Stann dão uma amostra de porque casar luta entre amigos não é uma boa idéia e Guillard personifica a batida realidade de que prepotência adora dar rasteira de frente no talento. Diferentes lições numa agradável e pouco surpreendente noite de lutas.

Frankie Edgar VS Gray Maynard

Edgar pode nocautear o King Kong que ainda vão achar que deveria descer de peso porque é muito pequeno para a categoria que vem dominando. Opinião se torna tendenciosa quando nega fatos, e é claro que Frankie pode até descer de peso e continuar campeão por lá, mas até aparecer alguém que consiga tomar o cinturão que ele agarrou e não quer largar, afirmar que deveria ir para outra categoria é, no mínimo, estranho.

É fato que Edgar é pequeno para seu peso. Leve na balança e ainda com um percentual de gordura mais alto e com menos massa muscular que seus adversários. Maynard, Cerrone, Ben Henderson, Miller, Siver, Guillard e quase todos os atletas de ponta do peso leve tem menos gordura e mais músculos que o atual campeão. Mas que injustiça usar o que o qualifica como gênio, para tira-lo do posto. Incrível é quem faz o impossível, o improvável, e isso Edgar vem fazendo faz anos. Ai de mim se assistisse a suas lutas sem ver beleza num cara tão pequeno subjugar outros tão grandes e fortes. Como poderia amar artes marciais negligenciando a realidade básica e primeira da arte marcial, que é a técnica suplantando a força? Edgar é pura habilidade e coração. Um campeão genuíno e pequenino. Pequenino para nós, espectadores, porque para o recém nocauteado Maynard, que lhe aplicou dois espancamentos que não foram suficientes para fazê-lo desistir, deve ser gigante.

Maynard faz o que faz e pronto. Não tem poesia, não tem fantasia, purpurina ou show. Seu comprometimento com a violência aplicada com o único objetivo de vencer é o que faz ser tão temido. Florian, Diaz, Huerta, Miller e o próprio Edgar, já sentiram o peso de seu pragmatismo chato e eficaz. Entra pra ganhar, vaias ou aplausos não alteram seu processo. É quase robótico em sua execução de estratégia e foco. Entra para desmantelar aos poucos, se necessário, progressivamente desgastando e vencendo por querer mais do que o adversário. Por cortesia de seu excelente wrestling e dos músculos de sua lombar feitos de cabos de platina, luta aonde quer. Em pé ou no chão, nunca é escolha do outro. E se garante num queixo de pedra para desferir contra golpes duros e constantes, ou num anti-jiu-jitsu de kriptonita, para largar a mão no chão sem risco de ser finalizado. É assim que faz desde 2006 e é assim que vem dando certo. Não inventa, não progride, não muda, não dá errado. Gray é quase mecânico. E quase venceu Edgar nas duas vezes que disputou o cinturão. Quase.

O que pode consolar Gray Maynard? Que acontecimento apaga as cãibras das entranhas de ter o sonho escapulindo por entre os dedos duas vezes seguidas? Os torcedores do Botafogo sabem bem do que estou falando. Sentir os ossos do queixo e do orbital e da têmpora de seu adversário racharem contra seus punhos de ódio. E soco a soco que acabariam com qualquer um, ver seu sonho mais perto. E em cada queda de Edgar, ansiedade, e a cada levantada, aflição. E porque esse moleque não fica no chão? O que tem nele que não tem em mim? Nem eu agüentava essas porradas. E pensamentos assim foram nocauteando Maynard de dentro pra fora, seu corpo ainda não tinha se dado conta do que a alma já sentia. Edgar não era maior do que ele, mas era mais. E quanto mais batia e mais quebrava, menos o campeão agüentava e mais ressurgia. Um lutador infinito, um microcosmo.

Enquanto Edgar estiver caminhando a terra dos seres humanos, Maynard sentirá sua presença. Até o fim de seus dias. Quando andar no shopping, trepar com a esposa, brincar com seus filhos ou até, quem sabe, eventualmente ser campeão sobre outro lutador. Essa derrota ancorou seu espírito. Prepotentes não tem canino forte para mastigar carne de pescoço. Para Gray desceria doce um fundo gole de absinto com duas gotas de cianureto.

Edgar é um dos maiores da atualidade e pode ser bem mais do que isso. Sua falta de carisma só vai dificultar as coisas e fazer o show ser ainda mais emocionante para nós. Um herói relutante. Defendeu o cinturão três vezes e as três lutas foram revanches diretas. Nem a direção do UFC se conforma com ele ainda ser campeão. Venceu Penn e Maynard, dois dos atletas, até o momento, considerados os mais perigosos da categoria. Agora falamos do fantástico Ben Henderson (e com razão), de Cerrone e outros. Mas sempre haverá um novo que precisa ser batido, é da natureza do esporte. E até que Edgar perca, temos que engolir que ele é o favorito contra qualquer um.

Se é tão veloz carregando massa adicional lutando nesse peso e sabemos que quanto mais leve, mais rápido o atleta se torna, caso descesse para o galo, seria invisível. Edgar faz o incrível luta a luta. Não é só a apresentação de grande técnica e determinação, são exemplos comoventes de superação. Ver Edgar lutar me inspira a ser um homem melhor, uma pessoa mais correta, tentar mais uma vez onde falhei, me dar mais uma chance. Quando Frankie caiu quase nocauteado pela segunda vez, foi sangrado na segunda luta contra o mesmo adversário e, mais uma vez se levantou, se recusando a aceitar o que parecia ser o destino lhe metendo cara a dentro um roteiro pré escrito, rachou mas não quebrou, com os olhos lacrimejando de dor, continuou esquivando e levando e fazendo o que acreditava. Porque é só assim que corremos atrás de sonhos, só levando e agüentando chegamos lá. Quando minutos depois nocauteou Gray, se lançando num direto, seu corpo arrastado pelo peso certeiro de sua luva com uma tonelada de expectativas, seus pés fora do chão, toda a sua existência num só golpe, com força para transformar carvão em diamante, o seu maior oponente num corpo caído, eu abracei minha namorada. Feliz. Não torço para atletas em específico, e o sonho alcançado por Edgar veio as custas do despedaçado de outro, mas de alguma maneira, aquela vitória, naquele dia, daquele jeito, pareceu certa. Pareceu um exemplo de coisas boas. Uma lição de perseverança e esperança que tanto precisamos de tempos em tempos. Edgar reescreveu seu destino no UFC 136, e inspirou que tantos outros façam o mesmo.

Jose Aldo VS Kenny Florian

Aldo era um dínamo, uma usina nuclear comprimida dentro de pouco mais de 1,70 de altura, voraz, audaz, móvel, imprevisível, perigoso. E por mais que ainda seja um dos maiores lutadores do mundo, não é mais nada disso. Era tanto, que mesmo em sua pior fase, ainda é mais do que a maioria. Mais do que todos em seu peso, para ser exato. A crítica vem por querer ver um Aldo estelar, não apenas o melhor do peso. A evolução aparentemente constante daquele que poderia ser um dos maiores de todos os tempos, parece ter estancado. Assim, sem mais nem menos. Parou de repente.

Aldo era um atleta selvagem. Como ele conseguia manter a frieza de matador da máfia mesmo sob dificuldade e alto frenesi eram emocionantes. Como mesmo nos momentos mais caóticos seus finos braços não largavam as rédeas das técnicas refinadas aprendidas e doutrinadas por André Pederneiras. Era letal. Uma borboleta com asas de gilete. Era o Aldo do WEC. Fãs apenas do UFC devem até ter dificuldade em entender porque tanto se falava dele. Em mais uma performance burocrática e reticente, venceu sem convencer. Foi mais uma vez superior a seu segundo adversário no evento, mas nada mostrou de grandiosidade, genialidade ou ímpeto. Parece que o tanque está furado, alguma coisa não está como era antes. Difícil ser específico. Pode ser psicológico, a pressão de ter que ser uma estrela, quando antes ele apenas era. O corte de peso, levando em conta a possível subida de categoria, já o preparando para ser maior no dia a dia, entrar maior, se acostumar a lutar carregando mais massa muscular. Pode ser que apenas tenha tido dois dias ruins, acontece, Anderson teve alguns contra Maia, Cote e Thales. Quem sabe. O que dá para afirmar é que ele está lutando quadro a quadro. Se subir para o peso leve, tento que ficar ainda mais pesado, vai se metamorfosear numa tartaruga e ser chutado para fora do octagon por atletas bem maiores e rápidos do que ele. Toda a expectativa que o planeta tinha, inclusive eu, de vê-lo protagonizando combates antológicos no peso leve ara baseado em suas performances no WEC. Esse Aldo de agora, pelo seu próprio bem, deve permanecer no peso pena.

Florian, que alterna comentários extremamente positivos com declarações depressivas, afirmou após mais essa derrota numa luta por cinturão: “...tem lutadores que simplesmente não nasceram para ser campeões.” No mesmo bar aonde Gray vai tomar seu absinto, Florian poderia ir junto e pedir uma dose dupla. Até como comentarista de MMA, onde se sai muito bem, não vai conseguir tirar a vaga de Joe Rogan.
Florian é um lutador excelente, quando está bem, quando seu jogo encaixa, quando não amarela, é um atleta que domina bem várias áreas. Mas em lutas por título, metade dele fica em casa, ou a metade ruim vem junto, quem sabe. É um mistério. Mas é claro que no octagon está enfrentando seu adversário e ele próprio. E contra dois, só Jon Jones. Lutou mal, com mais medo de fracassar de novo, do que raça para vencer pela primeira vez. Nessa matemática do ego, saiu negativo novamente. Não aproveitou a lentidão de Aldo, não foi agressivo em pé nem quando o brasileiro parecia cansado para segurar a guarda alta, não atacou por baixo nem percebendo que o campeão estava ali apenas para segurar e nenhum golpe iria desferir. Deu uma lição de fraqueza, um passo a passo de como não alcançar seus ideais. Mesmo de bermuda, camisa e boné do patrocinador, seu espírito estava desnudado e o tamanho minúsculo de seus colhões ficou a mostra para quem quisesse ver. Florian ainda pode fazer excelentes lutas, se abrir mão do cinturão, mas seu ego maior do que a coragem deve fazê-lo repensar a decisão de continuar na carreira. Vai lutar o que falta para finalizar o contrato e não o veremos mais usando as mini luvas.

Aldo é mais do que vimos, tem que ser mais. Não é possível que tenha nos enganado tão bem no WEC. Hominick não é melhor que Faber. Um dos lutadores mais empolgantes e promissores parece um veterano desmotivado. Dizer que ele cair por cima de um assustado Florian, e não desferir um soco ou cotovelada faz parte da estratégia, é fazer vista grossa para problemas que podem se tornar mais graves depois. Hominick só queria ficar em pé e Florian entra sempre derrotado em lutas assim, mas seu próximo adversário, Chad Mendes, é de outra raça. O antigo Aldo, o que tanto defendi, aquele sobre o qual já tão bem escrevi, o paralisaria com uma joelhada voadora no meio da cara, entre os dois olhos e diretamente acima do nariz. O deixaria com a cara no chão e a bunda pra cima, enquanto gritaria e celebraria subindo na grade do octagon. Mas o novo Aldo será derrubado, sistematicamente, sem magia ou beleza, por um incansável e invicto Mendes, que sem vergonha na cara vencerá uma luta chata por pontos onde velocidade e ímpeto superarão lentidão e desmotivação.

Que Jose Aldo me prove errado, que o faroeste do caboclo toque mais uma vez no UFC Rio 2, que ele vença contundentemente e que os fãs digam que eu torço contra e não entendo nada. Não me importa. E me entregar como mártir se minhas palavras podem lhe devolver sangue aos olhos, não é por torcer por ele, mas sim pelo MMA show e incrível que ele tem como por em prática frente aos meus olhos crédulos, ao vivo, e Chad Mendes nunca conseguirá.

Chael Sonnen VS Brian Stann

Chael Sonnen esteve assombroso de tão perfeito e eficaz nesse UFC 136. Um atleta com essa objetividade, essa capacidade de derrubar com tanta velocidade, sem tempo pra pensar, e dominar com socos e transições no solo um competente Stann pode, realmente, impor real perigo a Anderson Silva. Mas a questão é se Sonnen e Stann realmente lutaram nesse UFC 136.

Sonnen e Stann são amigos. Quem acompanha MMA pela mídia internacional sabe a admiração e vínculo que une fortemente os dois. Não creio que houve armação, apesar de Sonnen adorar uma, mas por parte de Brian isso não aconteceria. Uma pessoa séria que reverte grande parte de tudo o que ganha com MMA para instituições que cuidam de ex soldados, companheiros de guerra que não tiveram a mesma sorte que ele, feridos em combate. Um homem com memória e gratidão é um homem de fibra. Quem não tem fibra, nunca vai entender essa frase. Stann tem. Homens assim não se vendem. O que parece ter acontecido é que ele não tinha a mesma motivação para lutar contra seu amigo. Por mais que seja um esporte, é violento. E não é qualquer indivíduo que consegue praticar violência contra um ente querido, mesmo que apenas esportivamente. Eu não entrava de sola no meu irmão quando jogávamos futebol. E foi isso. Stann não entrou de sola, não veio pra vencer. Veio pra cumprir um contrato como um bom profissional faz, pela grana, pelo show. Mas o desejo de superar o adversário, que em MMA vem com pequenas doses de raiva, agressividade e coisas assim que temperam o momento, ele deixou na prateleira da cozinha.

Apesar das boas performances recentes, Stann não é um grande lutador. Agressivo e displicente, tem uma carreira bem irregular. Sua derrota não foi surpreendente, ainda mais levando em conta que era claro não querer muito estar ali. Sonnen aproveitou, mas não maltratou. Fumou mas não tragou. Não é tão bom quanto pareceu ser, mas ainda é bom o suficiente para vencer Stann mesmo que lutassem a vera. Em qualquer situação normal desceria o cotovelo na cara, depois de 3 rounds por cima, e rasgaria Stann para mais de 20 pontos juntarem. Não fez isso. Sentiu o amigo amuado, dominou sem trauma e venceu convincentemente para quem olha com olhos inocentes. Levantou e clamou por Anderson Silva. Dana White que tem olhos de serpente, percebeu nessa uma vitória café com leite e agendou uma luta sua contra Munhoz. Outro lutador longe de ser realmente bom, mas um adversário que lutará de verdade.

Um comentário:

  1. ESPERO QUE ESTEJA EQUIVOCADO A RESPEITO DO JOSÉ ALDO. MAS É NÍTIDO ESSA MUDANÇA PELA QUAL ELE VEM PASSANDO!

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