Seguidores

sábado, 25 de setembro de 2010

ANÁLISE - DREAM 16: Aoki VS Aurélio


Os eventos do PRIDE eram jornadas épicas de horas de duração que começavam de madrugada e terminavam com o sol raiando. Acabávamos exauridos e certos de termos presenciado momentos históricos. Mas, diferente do mais lendário dos eventos, esse DREAM 16 que começou 2:30 e acabou pouco antes de 8:00, me deixou mais cansado do que eufórico.

Shinya Aoki VS Marcus Aurélio

Numa das 3 principais lutas da madrugada, Shinya Aoki venceu Marcus Aurélio numa luta lenta e toda desenvolvida na lona. O japonês que já coleciona vitórias sobre excelentes lutadores de chão como Gesias, Hansen, Shaolin e Sotiropoulos, nunca havia testado sua técnica de solo, no solo, contra um verdadeiro às do jiu-jitsu brasileiro, e tinha nessa luta contra Aurélio, uma chance de saciar a nossa curiosidade e provar que é tão bom quanto os fãs e revistas nipônicas o consideram. Aoki fez Aurélio parecer um faixa azul sendo dominado facilmente por um faixa preta. Não por deméritos do brasileiro ou por fragilidade do seu jiu-jitsu que é de altíssimo nível, mas por Aoki se movimentar mais como uma estranha criatura de outro planeta do que como um ser humano. O japonês move as pernas como se tivesse olhos na sola dos pés e deu um nó em Aurélio que se limitou a absorver os cascudos desferidos em seu rosto durante 15 minutos. Uma luta que provou mais do que cumpriu o que prometeu. Vale pelas palmas de um humilde e honrado Aurélio para o esquisitíssimo e letal talento de Aoki ao ser anunciada sua vitória por pontos. Uma derrota que não desmerece o brasileiro, que saiu derrotado com a cabeça erguida como grandes lutadores fazem, e Aoki precisa preparar o visto para começar a lutar nos EUA se quiser continuar tendo adversários a altura. Porque, espalhados pelo resto do planeta, não parece haver muitos outros que possam lhe fazer frente.

Gegard Mousasi VS tatsuya Mizuno

Que não há grandes lutadores no peso até 93Kg com vínculo contratual com o DREAM, e que japoneses adoram ver seus ídolos apanharem de lutadores extremamente mais talentosos, numa ratificação de seu lado masoquista, é verdade, mas colocar Tatsuya Mizuno, com 8 vitórias e 5 derrotas para se estrebuchar debaixo da eficiência pragmática de Gegard Mousasi, é desnecessário. Uma luta por cinturão com sabor de primeira luta das preliminares. Mousasi que luta em câmera lenta, mas consegue por algum método ainda não descoberto pela ciência, sugar seus adversários para esse vácuo de movimentos, venceu devagar e sem dificuldade o japonês. Sagrou-se campeão do DREAM e adiconou mais um cinturão a sua crescente coleção. Se Mousasi quiser apenas ganhar dinheiro, pode continuar lutando contra adversários sem grande nível competitivo no Japão, e vai ganhar muito. Mas se quiser ganhar o status de grande lutador que ele pode ser, precisa ligar para o Scott Coker do Strikeforce e pedir para agendar uma luta com Rafael Feijão urgentemente. Enquanto isso, Mizuno deve estar mostrando para todos os amigos o autógrafo que pegou de Mousasi.

Sakuraba VS Jason Miller

Sakuraba é um semideus do MMA. O primeiro superstar do mundo moderno das lutas, o primeiro a transformar eventos em shows, dentro e fora do ringue, o primeiro a vencer os Gracies, mas parece que quer ser o último a sair da festa. O mitológico japonês que dizem ter apenas 41 anos mas parece ter uns 60, insiste em lutar e colocar seus filhos para chorar mais uma vez. Saku está rico, famoso e com cirrose hepática, só um contrato de vida ou morte com a Yakuza que se arrasta desde os tempos de PRIDE podem justificar sua permanência, e espancamentos, nos ringues de competição de alto nível. Jason Miller, que depois da baderna que arrumou no STRIKEFORCE após a vitória de Jake Shields sobre Dan Handerson, resolveu dar um pulo no Japão, aonde não há comissões atléticas, antidoping, restrições corretas de peso ou qualquer norma regulamentadora. Lugar perfeito para ele liberar seu estilo caótico, rebolativo, polêmico e anti profissional, que já rendeu problemas ao brasileiro Ronaldo Jacaré e tantos outros. Não é a toa que os asiáticos o adoram. Presenteou Sakuraba com sua primeira derrota por finalização, em todos esses anos. A lenda japonesa não pareceu se importar, nem os fãs, ao contrário de Miller que chegou as lágrimas. Talvez ele tenha mais noção do tamanho do mito que havia em sua frente, coisa que os próprios asiáticos, de tanto canibalizar Sakuraba ao longo de incontáveis anos, só enxerguem a ossada e alguma carniça. Uma vitória que não muda o ranqueamento de Miller e uma derrota melancólica para Sakuraba que deveria anunciar seu afastamento dos ringues de modo glorioso, como merece, antes que morra em combate sem essa honra.

TWITTER: @nicoanfarri

Nenhum comentário:

Postar um comentário