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domingo, 26 de setembro de 2010

ANÁLISE - UFC 119: Mir VS Cro Cop


Eu tinha dois ingressos para o WOCS 9, que aconteceu nesse dia 25 no clube de Regatas Flamengo, no Rio de Janeiro, só que jamais perderia um evento ao vivo do UFC por nenhum outro. Mas depois desse UFC 119, começarei a cogitar a hipótese.

Melvin Guillard VS Jeremy Stephens

Melvin Guillard e Jeremy Stephens mostraram que freqüentaram direitinho as aulas de boxe aonde ensinaram a dar jabs e diretos, mas devem ter matado todas aonde aprenderiam a combinar os dois. Uma luta cheia de testosterona e pouca ousadia, quase que como se os dois estivessem mais interessados em mostrar o pico de contração do bíceps ao fazer guarda do que relaxar o músculo e desferir golpes em seqüência. Guillard venceu por pontos, mas poderia ter sido Stephens e acho que, fora suas famílias e treinadores, poucos se importariam.

Matt Serra VS Chris Lyte

Acho sempre perigoso quando lutadores técnicos em várias áreas do MMA se limitam a trocar socos como se estivessem numa briga de quintal. Se isso virar moda o esporte vai virar boxe com luvas menores dentro de um octagon. Matt Serra e Chris Lyte, dois lutadores condecorados com a faixa preta no jiu-jitsu resolveram tirar as diferenças no soco. Vitória seca de Lytle por ter acertado mais golpes.

Ryan Bader VS Minotouro

Ryan Bader é uma usina de força muscular, mas parece que só há eletricidade para ela funcionar a plena potência por 5 minutos. Nesses 5 minutos ele pode nocautear, derrubar e massacrar qualquer um do peso. Depois disso, as luzes se apagam e fica difícil ele encontrar o caminho. Minotouro é um esforçado, no mais abrangente sentido. Não desiste, não entrega os pontos. Desde sua vida, trajetória como homem e atleta, mas ele, simplesmente, deveria ser melhor em tudo para vencer Bader hoje. Ter mais punch para ter nocauteado quando o atingiu no queixo, mais velocidade para aproveitar combinações quando o espaço se apresentou, melhor wrestling para ter caído menos vezes, melhor treino de jiu-jitsu para ter tentando pelo menos uma finalização em uma das várias vezes em que esteve por baixo. Minotouro lutou como pode, teve bons momentos, agüentou alguns socos destrutivos do atleta mais forte da categoria, mas não foi suficiente. Talvez devesse tentar triângulos, omoplatas, chaves de perna, de braço, quando se encontrava por baixo, ao invés de se levantar. Quem sabe? A maioria dos brasileiros acabou frustrada, achando que faltou alguma coisa de sua parte para vencer, mas era tão pouquinho a mais que faltava. Bader tem carcaça de Ferrari e motor de Palio. Venceu na brutalidade e no wrestling, mas cansando como cansou terá problemas contra lutadores mais ávidos a atacá-lo do solo ou mais velozes em pé. Minotouro deve ter se tornado mais um adepto do "Chuck Liddelismo", que é a tática de buscar a luta em pé e fazer de tudo para se levantar quando cair, porque é a mesma que usa em todas as lutas desde sua derrota para Rameau Sokodjou, em 2007.

Frank Mir VS Cro Cop

Antes de ser comprado pelos irmãos Fertitta e Dana White, o UFC estava em estágio quase falimentar, nos proporcionando lutas de péssima qualidade entre wrestlers que só sabiam agarrar, mas não tinham poder de nocaute no solo, e lutadores que se deixavam agarrar, sem capacidade de finalizar ou sair de lá. Ficavam atracados como dois moluscos dentro da mesma concha dor 3 rounds. Frank Mir e Mirko Cro Cop reencenaram esses momentos caídos do MMA numa das piores lutas de main event de todos os tempos na galáxia. Cro Cop é uma lenda, foi um dos lutadores mais temidos do mundo numa época cheia de grandes lutadores em seu peso, mas parece que tem uma fratura na ossatura da pélvis, já que o antigo atleta conhecido por seus chutes altos, mal os desfere em seus combates atuais. Será que na época do PRIDE ele ganhava bônus por chutes desferidos e o UFC se recusa a pagar? É um mistério. Frank Mir estava claramente desmotivado. Até ele sabia que uma vitória sobre um abatido e quase aposentado Cro Cop não o colocaria mais perto do cinturão, que é seu objetivo. Fomos expostos ao lamurio de uma luta entre um atleta que não fazia questão de vencer e um que tinha certeza que ia ganhar. Mir mostrou que a aplicação tática, sem ousadia, pode matar a beleza do MMA. Transformar em mecânico e repetitivo o que era para ser excitante, ao repetir vez após vez, mesmo sobre vaias, uma estratégia eficaz de segurar o croata nas grades, em pé. Como Shane Carwin havia feito com o próprio Frank. Quem apanha nunca esquece. E foi num lapso de estratégia, num momento aonde Mir não tentou fazer o que tinha sido programado tão bem nas centrais de comando, que alguma coisa aconteceu. Um joelho gigante saiu do nada e aposentou Cro Cop de vez, que se esparramou, nocauteado. Mir, agora espera por Minotauro ou Couture e Cro Cop vai dizer mais uma vez que está pensando em se aposentar, mas pela grana certa, ele luta sem vontade de novo.

Evan Dunham VS Sean Sherk

Evan Dunham mostrou que alguns americanos também não desistem nunca e superou um corte medieval no supercílio, litros perdidos de sangue e a visão turva para vencer Sean Sherk dentro do octagon na verdadeira grande luta da noite. Lá dentro ele venceu a luta, porque os juízes o alvejaram com uma flecha covarde vinda do lado de fora, na forma de vitória para o seu adversário na decisão por pontos. Sherk fez o que pode e mostrou mais uma vez porque tem apenas 4 derrotas em quase 40 combates. Agrediu, resistiu, machucou, contundiu, perseverou. Fez muitas coisas, mas ele não fez o suficiente para ganhar a luta. Dunham mostrou que é um dos jovens mais promissores da atualidade, versátil, agressivo, resistente. É uma pena esportiva quando uma grande luta é borrocada pela decisão dos homens de terno. Quando suor e sangue caem de joelhos frente a caneta e o despreparo. Sherk venceu nos papeis, mas a história será contada pelos especialistas de outra maneira. E Dunham ganhou mais com essa derrota do que ganharia se tivesse sido feita justiça nas papeletas. Ganhou o coração dos fãs.

TWITTER: @nicoanfarri

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