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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ANÁLISE - UFC Fight Night 22: Marquardt VS Toquinho


As edições do UFC Fight Night tendem a ser boas e surpreendentes, mas a essa edição 22 cabe apenas o segundo adjetivo. Com exceção de uma luta, as outras duas principais desafiaram qualquer previsão, e num mal sentido.

Nate Marquardt VS Rousimar Toquinho

Nate Marquardt deu sinais de ter superado a derrota vexatória para Chael Sonnen, aonde foi dominado como um amador, e se apresentou focado e arisco para a luta contra Rousimar Palhares. Toquinho, por outro lado, mostrou que o que sobra em força física e técnica de solo lhe falta em neurônios, ao desproteger o rosto para reclamar em português com um árbitro que só fala inglês, sobre uma suposta aplicação de vaselina na perna do adversário. Marquardt, que não entende português e não estaria nem aí se entendesse, largou a luva do UFC com a sua mão dentro na cara do brasileiro, que se virou e esperou o juiz interromper. 1 segundo depois se levantou, como se nada tivesse acontecido, abraçou seu algoz como se estivesse numa festa de play e ainda forçou seu técnico, Murilo Bustamante , a dar desculpas oficiais sobre seu comportamento inapropriado. Palhares começou a trilhar um caminho esquisito no maior evento de MMA do planeta. Polêmica dentro do octagon não faz muito a cabeça de Dana White, e Toquinho conseguiu temperar suas duas últimas lutas, uma vitória e uma derrota, com esse ingrediente. E um Marquardt ávido para buscar uma vitória a qualquer custo, a recebeu na porta de casa via SEDEX, numa luta que prova que a graça do MMA não está apenas em ser surpreendente.

Gleison Tibau VS Jim Miller

Gleison Tibau penou mais uma vez por nunca carregar um plano B anotado em seus arquivos. Ou a luta decorre como o previsto, e ele impõe sua força, alcance com braços longos e um excelente wrestling a gosto, ou fica completamente desnorteado e faz uma luta embaraçosa. Ver um competente Jim Miller superar um talentoso Tibau em quase todas as valências do esporte ajuda a levantar algumas questões incômodas com relação a sua preparação tática e mental. Miller, com menos alcance, conseguiu com rápidas e simplórias combinações de jab/cruzado superar o boxe de média distância e, normalmente, mais preciso de Tibau. No chão, Miller, um faixa preta americano intimidou Tibau, um Black belt brasileiro, que preferia levantar após derrubá-lo ao invés de passar a guarda ou tentar qualquer espécie de finalização ou dano. Entre rounds o técnico brasileiro o incentivava a derrubar para ganhar o round, e o técnico americano o motivava a ajustar os ângulos em pé para pegar Tibau desprevenido quando ele plantasse a base para golpear. Surpreendente, mais uma vez, mas chato. Bem chato. Miller vence de modo incontestável e monótono por decisão. Qual a próxima luta que cada um deveria fazer? Deveria Miller pegar um contender? Tibau deveria pegar outro lutador top 10 para se recolocar no jogo, ou deveria pegar um novato para ter uma luta mais segura? São várias as possibilidades e, depois dessa luta, nenhuma parece muito excitante.

Charles do Bronx's VS Efrain Escudero

Eu não vibro com lutadores em específico, amo o esporte como um todo e torço para boas lutas, independente de nacionalidade, mas a vitória surpreendente de Charles Do Bronx’s fez meu sangue ferver. Do Bronx’s fez o agressivo e veloz Efrain Escudero parecer omisso e lento, finalizando com um ataque ao pescoço que começou e terminou de pé. Tão novo e já ensinando veteranos que jiu-jitsu não é a arte de lutar no solo, é a arte de finalizar a luta, aonde quer que ela se desenvolva. Quabrando o paradigma de que se o adversário não quer levar pra baixo, não dá para finalizar. Verdade também que Escudero estava acima do peso, mas o que isso lhe subtrai em velocidade, adiciona em pujança física. É impressionante e comovente ver o nascimento e evolução de um lutador fantástico. Du Bronx’s evolui luta a luta como uma máquina de auto upgrade com milhares de processadores funcionando noite e dia. O lutador voluntarioso em pé e com um chão fantástico já se tornou um excelente trocador, com boas quedas e com um jiu-jitsu ainda melhor. Me pego intrigado ao imaginar em que posição do ranking ele estará daqui a um ano. Fez 4 lutas em 2010 e a sua última, e estréia no UFC, foi apenas mês passado, dia 1 de agosto no UFC on versus 2. Do Bronx’s parece incansável. Escudero tem que filosofar sobre o que quer fazer com sua carreira. Quer se tornar o grande lutador que ele tem potencial para ser e começar a levar a sério treinamentos e adversários, ou quer ser apenas um porta estandarte do povo mexicano no UFC e fazer comerciais de taco. Charles do Bronx’s é um menino de ouro, como já escrevi antes. Se a estrada que ele vai trilhar não vai ser bela e dourada como a de Oz, seu futuro será. Um menino feinho, com a voz estranha, simples e humilde, mas com o coração e colhões de campeão. A prova viva de que MMA é esporte para grandes homens, independente de tamanho.

TWITTER: @nicoanfarri

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