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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

ANÁLISE: UFC 141 - Overeem VS Lesnar


Uma frase famosa no meio publicitário tem como verdade que “menos é mais”. Alusão a retirada de excessos desnecessários que desviam a atenção do que realmente presta em uma campanha ou peça. Fosse editado por Washington Olivetto ou qualquer competente Diretor de Criação, esse UFC 141 teria pouco mais de 10 minutos e mesmo assim não seria dos mais emocionantes. Lutas chatas, sem alma com atletas cheios de panetone, bolinho de bacalhau na barriga e com a cabeça no champanhe e fogos de artifício da virada de ano. O card preliminar que costumeiramente traz lutas explosivas aditivadas por sonhos e oportunidades acabou sendo um demonstrativo não de talento, mas de porque nenhum deles merecia mesmo nem estar no fraco card principal. 2011 teve um fim ingrato nas mãos desses atletas que fecharam o melhor ano do MMA com chave de bronze, alterando bastante as minhas previsões para 2012.

Alistair Overeem VS Brock Lesnar

Nem todo homem grande é um grande homem, e apesar de não querer me ater a filosofia para descrever essa luta que de profunda nada teve, é irônico perceber que nem os quase 300kg somados dos dois lutadores não foram suficientes para conferir grandiosidade ou impacto ao combate. A lona vibrou e as madeiras de sustentação rangeram sob os pés dos dois, na pratica, na vida real, mas reino da imaginação, da fantasia, onde lutas se tornam épicos eternos e meros atletas, imortais, nem uma poeirinha sequer foi levantada.

Brock Lesnar não é lutador. É atleta de alto nível, grande campeão de wrestling amador, uma mega estrela do WWE, evento de lutas armadas com coreografias e teatrinho, e um ser humano naturalmente maior do que quase todos que já surgiram nesse planeta desde o primeiro cro-magnon. Numa terra sem leis e sem armas de fogo, Lesnar dominaria o mundo inteiro com uma marreta na mão. Mas no mundo em que vivemos, a grande prova de supremacia física se dá dentro do octagon, e lá ele encontrou alguém do tamanho dele que, simplesmente, sabia alguma arte marcial. Quando a força física se equivale, o mais técnico leva vantagem. Força e peso que Lesnar tinha maior que quase todos os seus adversários até o momento, uma borda de vantagem bruta que lhe conferiu mais vitórias que derrotas. Mas contra Overeem o resultado já parecia decidido, a não ser que o destino resolvesse nos pregar uma peça.

Verdade que Brock é mais do que apenas um grandalhão. Mais veloz do que a maioria dos lutadores do meio pesado, arrasta seus quase 130Kg no dia da luta como pai que corre pelo parque com o filho de 2 anos nas costas. É fisicamente um prodígio. Carismático, excelente domínio de câmera, agressivo. Um lutador que se quisesse realmente seguir carreira em MMA se manteria no TOP 10 por muitos anos já que não é considerável a quantidade de adversários que podem vencê-lo atualmente. Mas Lesnar não quer ser atleta de MMA. Quer ser campeão. È como um bebê gigante que só quer determinada coisa, nada mais o sacia, nada mais o entretém. Cai no chão e faz bico. Lesnar, um adulto, ao invés de fazer bico anunciou sua aposentadoria mesmo com uma luta ainda por cumprir no contrato quando percebeu que não dava mais para brincar de ser campeão do UFC.

Brock Lesnar foi muito importante para o esporte mesmo em sua atrofiada carreira. Atraiu para o MMA milhões de novos espectadores que costumavam esnobar essa forma de competição. Milhares de jovens e crianças magnetizadas pela sua persona gigantesca, bem maior que seu tamanho, começaram a acompanhar eventos por acharem estar presenciando as performances de um super humano, de uma criatura ou coisa do gênero. Seu rosto e cabelo totalmente american way estamparam capas, jornais e TV nos EUA como nenhum outro atleta. Atraiu atenção de mídias que sequer cobriam MMA com sua comovente superação quase milagrosa de um caso de diverticulite. Foi muito relevante por pouco tempo, brilhou demais por segundos, foi fora do octagon o gigante que nunca conseguiu ser dentro. MMA ainda está tombando muros de tijolos tão velhos e pesados, atracados uns aos outros com a argamassa tão forte da ignorância. Lesnar atirou no peixe e acertou no gato, entrou nessa por vaidade, pensando só nele, e fez bem a todos nós. Sem querer, mas fez.

Previamente ao UFC 141 prometeu a família ser essa sua última luta caso perdesse. Independente de como o fã analisa o Brcok Lesnar personagem, ele é um pai, marido e filho. Uma pessoa normal que superou, duas vezes, uma doença que costuma incapacitar seus afligidos. Uma família sofre e chora junto, se aproxima. Em momentos assim nos despimos de fardas e medalhas, somos frágeis e finitos. Competir por ego, se colocar em risco por vaidade depois de meses e mais meses de lamurio e hospitais, se torna enfadonho. Chega uma hora que o homem quer parar, horas diferentes para cada um de nós, e ele foi enfrentar um dos mais letais competidores de MMA do mundo pensando em não se lesionar e não dar maiores preocupações para seus entes queridos. E com um chute na costela que poderia ter rompido seu baço e vários pontos internos, não conseguiu nem um nem outro e ainda acabou caído no chão, derrotado e inferior.

Uma mentira contada 1000 vezes pode virar verdade para quem não se dá ao trabalho de pesquisar no Google. A afirmação de que Overeem nunca perdeu uma luta depois de se tornar pesado é um factóide. Sua primeira luta acima de 100Kg foi uma derrota para Kharitonov, em 2007, no K1-Hero’s. A verdade é que nunca perdeu uma luta depois de ter se tornado gigante. Uma quase besta fera hipertrofiada e tensa que desafia o bom senso, ciência e comissões antidopagem a provarem seu uso de esteróides. E como numa sociedade ordeira as leis e regras ditam o que está certo e é normal, até que algum traço de hormônio irregular seja rastreado em seu organismo, podemos afirmar que Carina Damm e Royce Gracie, já pegos no antidoping, são mais bombados que Alistar Overeem.

Overeem é um dos atletas mais condecorados, carismáticos e talentosos da atualidade. Campeão do K1, já tendo nocauteado, para muitos, o maior trocador do planeta, Badr Hari. Acumulava até esse UFC onze vitórias seguidas, onde apenas uma não acabou por nocaute ou finalização. Simplesmente os adversários não agüentam entrar em atrito com Overeem muito tempo e continuarem acordados. Pesado demais, com alcance enorme, qualidade de trocação estelar, poder de nocaute e uma guilhotina que já teria decapitado muitos fosse uma luta sem regras na França medieval. Alistar só tem dois pontos fracos. Sua defesa de queda limitada, mas com um joelho enorme no meio do caminho que desmotiva a maioria a tentar esse atalho. E uma falta de vontade de agüentar porrada antológica. Estava vencendo as lutas contra Chuck Liddell e Shogun, dentre tantas outras, quando resolveu perder assim que levou o primeiro direto mal intencionado na cara. É um lutador sem raça. Mestre em opressão, mas se for espremido solta suco que nem laranja. Mas são poucos os indivíduos caminhando nessa terra que tem como pressioná-lo ou colocá-lo em algum risco real.

Overeem entrou no UFC como quem finalmente chega aonde sempre sonhou, com olhos brilhando de contentamento, com muita vontade de fazer alguma coisa e foi contagiante. Não pelo decorrer da luta, mas por mostrar um lampejo do competidor que sempre pode ser e parecia não estar interessado. Esse Overeem, afim, tenaz, treinado, fechado, com os reflexos na ponta do nervo, é lutador para se sagrar campeão e segurar o cinturão enquanto ainda estiver interessado em contrair o músculo.

Lesnar e Overeem fecharam o ano numa luta previsível. Brock só poderia vencer se derrubasse, e rateou, escamoteou, mal tentou e desistiu, não leu e disse que não gostou. Overeem sentiu cheiro de sangue, aquele odor de medo que só os cachorros farejam e atacou. Meteu a tartaruga pra dentro do casco sem dificuldade. Assustou a criança para só dar um tapa no bumbum. Poderia ter desmantelado Lesnar e apenas fez o necessário. Mostrou o tamanho de sua sombra imponente e assustadora para todo os pesados. Alistar contra Cigano vai ser uma luta fantástica e digna. Prevejo que o vencedor irá se manter no topo, inabalável, durante vários anos. E Brock, apesar de ter anunciado a aposentadoria precocemente deve ser convencido a realizar a última luta que ainda reza seu contrato, sob a promessa de disputar o cinturão em caso de vitória. Mimado. Só lutas que lhe credenciem ao título interessam e prevejo um combate contra Minotauro, aqui no Brasil como co-main event para Anderson VS Sonnen, que o aposentará de vez com uma chave de braço.

Nate Diaz VS Donald Cerrone

Não costumo questionar os méritos do vencedor. Quantas vezes um atleta menos talentoso se supera e tem uma carreira mais vitoriosa que tantos virtuosos por injetar em suas performances vibração, esforço e outras coisas que compõe um real grande lutador. Mas o desmantelamento de Donald Cerrone, mesmo assistido em câmera lenta, é difícil de explicar. Diaz é muito pior que Cerrone em pé, tem menos queixo, mais lento, cabeça maior e fácil de atingir, tem os pés estáticos, péssima esquiva e mãos sem peso. Dizer que um treinou mais do que o outro é querer simplificar o logaritmo. Alguma coisa aconteceu nesse UFC 141 que ninguém parece realmente entender. Teorias são muitas e abstratas. O fato é que um lutador inferior, de carreira instável e num dos piores momentos de sua carreira venceu, com exuberância e quase displicência, um dos melhores do mundo em sua fase mais inspirada.

Para os ansiosos que adoram descobrir novos gênios depois de uma vitória e decretar fins de carreira após uma derrota, a vitória de Diaz foi tinta suficiente para imprimi-lo em figurinha dourada, carimbada e assinada de homem que realmente pode vencer Edgar. Diaz é talentoso e ponto. Nada mais, mas tantas coisas a menos. Extremamente instável, despreparado em diversos momentos, resistente a táticas ou estratégias, só luta de uma maneira. Sempre. Fica em pé e troca. Simples. O que vier além disso é por conta de derrubar com socos o adversário ou ser derrubado. Não faz nenhuma menção de qualquer outra abordagem. Vinha de uma vitória sobre o melancólico e sem fogo Gomi e de duas derrotas. Uma delas, para McDonald, esse sim um real contender apesar de ainda tão novo, onde foi manipulado, esticado e amassado tipo massa de macarrão. Tirado por um pedaço de bife sem vida, batido no chão, dominado em pé e em qualquer lugar. Saiu do octagon humilhado, pela sua língua presa nenhuma provocação ou prepotência podia ser ouvida. Até essa luta eram 5 derrotas e 4 vitórias nas últimas 9. Cartel de lutador de card preliminar na Escócia.

Sua vitória contra Cerrone foi completa, suprema, mas o que seu adversário apresentou, independente de sua enorme qualidade, foi tão medíocre, que presenciamos o espancamento de um leigo. E Cerrone apanhou com chantilly, como um masoquista gosta de apanhar, no melhor estilo Roy Nelson. Apanhava e ria de nervoso. Diaz venceu, seria canalha de minha parte dizer que não convenceu, mas algo me diz que em uma revanche sairia nocauteado no primeiro round.

São tantas as opiniões sobre o que pode ter ocorrido com Cerrone. O próprio mencionou uma cabeçada involuntária logo no começo da luta que abriu seu lábio e teria prejudicado a performance. Sua própria teoria foi tão inverossímil que a retirou segundos depois e se desculpou. Tenho uma questão essencial com relação a pedidos de desculpa. Quando fazemos mal a alguém, sem intenção, um pedido se faz de bom tom. Quando fazemos mal a nós mesmos, a desculpa parece uma tentativa de dividir culpa. Cerrone deve desculpas a ele pelo ridículo, a nós, não deve nada. Até porque ver Diaz espancá-lo depois de desrespeitá-lo jogando seu chapéu longe na pesagem, isso é mortal para um cowboy, e ainda fazer gestos obscenos no começo do último round, foi impagável. Momentos viscerais que o MMA profissional demais não permite.

Cerrone é fantástico, Diaz não. Um é dos melhores do mundo, o outro vive mudando de peso para fingir ser relevante. Um começa o ano derrotado, o outro vencedor. MMA é isso. Sempre em movimento. Cerrone fraquejou em seus momentos mais decisivos. Nas lutas que envolviam cinturão contra Ben Henderson e nessa que o colocaria em chance de uma nova disputa. Donald não se leva a sério, e não estou falando do amigo do Mickey. Leva treino a sério, preparação, dieta e tudo mais. Mas não leva a luta a sério. O momento que faz tudo parecer relevante ou fulgaz. O ponto de exclamação ou reticências. Sempre comete erros infantis em lutas realmente decisivas. Entrou cheio de ódio, Diaz bagunçou sua gaveta de disquetes, e tomado por sensações menores e desprezíveis um homem tem dificuldade de ser grandioso. Cerrone foi uma versão minúscula dele mesmo, querendo se vingar mais do que vencer, bater mais do que boxear. Perdeu com justiça uma luta que poderia ter vencido facilmente.

Prevejo Cerrone voltando a sua corriqueira seqüência de vitórias e domínio sobre todos os adversários até que uma luta por título ou próxima se apresente, aí irá perder mais uma vez. E Nate Diaz não terá a mesma sorte contra outros adversários talentosos no peso. Siver e Miller estão em seu caminho e daqui a um ano poucos se lembrarão de que um dia venceu Cerrone, como poucos se lembram que já venceu Melvin Guillard ou até Maynard no TUF. Cerrone continuará relevante, mesmo eventualmente perdendo para inferiores, e Diaz irrelevante, mesmo eventualmente ganhado dos grandes.

Alexander Gustafsson Diaz VS Vladimir Matyushenko

É normal o casamento de luta entre um veterano em fim de carreira e um jovem em ascensão para a vitória fácil parecer relevante por conta do peso que o derrotado traz no nome. Mas colocar Matyushenko contra o mestre em espancamentos Gustafsson é pedir para os paramédicos trabalharem. Alexander deu uns socos e a luta acabou quando o primeiro atingiu o assustado Vladimir.

Gustafsson é enorme e nervoso. Parece moleque com a primeira namorada. Quer resolver logo porque o amanhã ela pode ter mudado de idéia. E parte pra cima, com socos compridos, retos, aríetes para derrubar portão. Esconde sua ansiedade de garoto, incerteza e insegurança atrás de seus punhos de granito. Vai derrubar muita gente enquanto o UFC tiver carinho de colocá-lo contra irresponsáveis que não se importem em ter os ossos da cara espatifados, e Matyushenko vai seguir apanhando de jovens estrelas e vencendo um ou outro mediano, nessa batalha inglória que o UFC inventou de popularizar o MMA na Bielorússia.

Johny Hendricks Diaz VS Jon Fitch

Hendricks entrou, deu um soco e acabou. No primeiro momento realmente relevante de sua carreira vence uma luta, sem luta. Deve pedir para Bruce Buffer o anunciar como Johny “Lucky” Kendricks, dar muitos autógrafos e vender logo os direitos de uma biografia, porque se a direção do UFC quiser colocá-lo contra outros atletas do nível de Fitch, sua carreira pode tomar uma precoce guinada pra baixo e acabar despontando para o anonimato. Para Fitch, nada muda. Foi um acaso, uma picardia do destino que estava azedo nesse fim de ano. Muda é para nós, que por um tempo não vamos ter que ouvi-lo resmungando que é o melhor do mundo e como é injusto não disputar o cinturão contra GSP.

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