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terça-feira, 5 de julho de 2011

ANÁLISE: UFC 130 - Jackson VS Hamill


UFC árido, um deserto de qualidades pelo qual nos arrastamos por horas a espera de um copo d’água, um oásis ao final, Edgar VS Maynard apareceram na linha do horizonte, mas apenas como miragem. Morrermos secos, com a cara na areia de um dos eventos mais chatos do ano. A luta principal de um card é mais do que a última, mais do que a mais importante, normalmente todo o planejamento, divulgações, casamento de combates e escolha de atletas orbita ao seu redor. A mudança de um main event tende a alterar todo o tom do evento e esse UFC 130 é um dos melhores exemplos de que da qualidade do matchmaking depende a falência ou sucesso de uma organização. Rampage e Hamill jamais poderiam estrelar um UFC atualmente, não os dois juntos pelo menos, mas se temos que isentar a organização de culpa já que os protagonistas originais se lesionaram é também verdade que não foi uma noite muito inspirada, nem por parte da maioria dos atletas nem por parte dos seus organizadores ao casar os combates. Um evento morno e econômico na emoção que me lembrou os tempos de quando a Zuffa acabara de adquirir os direitos de um UFC quase falido.

Quinton Jackson VS Matt Hamill

A máquina midiática do UFC tem um poder de manipulação de realidades impressionante. Desde convencer a maioria dos fãs que Rampage estava acabado e em fim de carreira após ter aberto mão da luta contra Rashad para divulgar o filme Esquadrão Classe A, até massificar que Matt Hamill é um grande atleta postulante ao cinturão. Realidade é que Quinton Jackson só perdeu duas lutas desde que estreou no UFC, uma bem controversa para Griffin e uma bem equivalente com o ex campeão e nêmeses Evans, e venceu Dan Handerson, atual campeão do Strikeforce, Lyoto Machida, Chuck Liddell, ainda no auge, entre outros. Quando parecia que abandonaria a carreira de lutador para seguir a de ator, Dana White fez o que adora fazer, convencer a todos de que quem não luta do no UFC não presta. Hamill, que tem uma história de vida e superação incríveis e é de grande importância para o MMA como esporte de cunho social, não passa de um mediano. Um nocaute para Franklyn que estreava no meio pesado, um espancamento nas mãos de Jones, uma vitória apertada sobre o decadente Jardine e uma luta sem nenhuma inspiração contra seu ex mentor e fora de forma Tito Ortiz, o colocaram como candidato ao título.

Não importa o que a mídia influenciada pelo UFC escreve, o que a revista do UFC publica. Quem é bom mostra dentro do octagon. E nesse UFC 130 vimos um main event sem a menor inspiração entre Quinton que ainda é um dos TOPs do mundo, apesar de longe de seu auge, e Hamill que nem com muita panfletagem pode figurar no top 20.

Acho de péssimo tom quando lutadores perdem a luta e dizem que estavam contundidos, com alguma giárdia ou etc. Se optou lutar, lute, perca e acabou. A desculpa não só obscurece parte do brilho do combate como tenta desmerecer a vitória do oponente, mas quando quem alega lesão é o vencedor, tendo a ser mais complacente. Quinton afirmou lutar com a mão quebrada. Se for verdade ele tem fibra de alumínio no lugar dos tendões e ainda dará muito trabalho para muito atleta novo, caso contrário, vimos que apesar de estar muito acima de seu adversário e da maioria dos postulantes, está a uma dimensão e meia de distância do campeão Jon Jones a quem será oferendado na próxima luta pelo cintirão meio pesado.

Uma luta chata, precavida, entre um Rampage comedido porém muito mais consciente do pouco que queria fazer, contra um adversário que não parecia estar ouvindo nenhuma instrução de seus treinadores, sem trocadilho. Andar de bicicleta e lutar MMA, quem sabe não esquece. Pode melhorar com o tempo ou piorar com a idade, mas o talento adquirido fica ali, nem que sejam pequenos resíduos. E quem não sabe não vai aprender apanhando de quem é melhor. Quinton simplesmente é melhor em tudo que Hamill. Em wrestling amador Matt é muito mais condecorado, mas MMA é outra criatura. Lembrem de como Jones, bem inferior em sua carreira de wrestler, derrubou com facilidade dois super medalhistas no esporte Hamill e Bader.

Hamill só tinha alguma chance real na forte divulgação do evento, é assim mesmo, faz parte, mas o fã experiente precisa diferenciar bala Halls de naftalina para não assistir a uma luta dessas e ficar decepcionado esperando um clássico dos tempos modernos.

Quinton vai engolir vergalhões de aço com parafusos contra Jones, mas a mesma máquina que tentou nos convencer de que ele estava acabado anos atrás agora fará o contrário. E Hamill vai fazer alguma luta irrelevante para o peso, fãs e mídia, já que o UFC não vai coloca-lo em um Countdown tão breve.

Frank Mir VS Roy Nelson

Olhando para Mir e Nelson temos dois exemplos de que podemos alcançar o fiasco por caminhos bem diferentes. Um está no auge de sua forma física faz uns anos, tornou-se atleta dedicado depois de superar a depressão pós acidente que quase amputou sua perna, o outro adora um Whooper do Burger King, acha engraçado vencer lutas em alto nível e ser um bom faixa preta de jiu-jitsu mesmo sendo obeso. Mesmo assim os dois se tornaram atletas lentos e previsíveis, sem gás ou real desejo de vitória. Um veio da loja de doces, o outro da academia e marcaram um encontro na casa da tartaruga.

Mir é enorme, um dos maiores lutadores do MMA atual, mas tem o coração do tamanho de um caroço de feijão. Biológicamente parece que o coração não consegue bombear sangue para tanto músculo, filosoficamente parece frouxo mesmo. Reparem que a tatuagem de dragão que começou a fazer tem anos, nunca terminou. Quando dói deve dar 3 tapinhas e pedir pra voltar no mês que vem. De uma forma ou outra ele adora oprimir seus adversários, bater e quebrar braços ou pernas com algumas das chaves mais violentas do esporte, mas não pode receber um jab de leve que começa a repensar a carreira e achar que todo o esforço foi em vão. Costuma acabar no chão, apagado e sangrando, pronto para fazer discurso de campeão e de retorno glorioso no dia seguinte. Só que Roy Nelson não acertou um peteleco em Mir, que ficou livre para fazer o que melhor faz, andar pra frente e lutar sem ser pressionado. Foram 3 rounds do ex campeão derrubando e tendo dificuldades de manter no chão o adversário. Apenas isso. Muito pouco até para estreantes em MMA no Amazon Fight, imagine para candidato ao cinturão do peso pesado no UFC. Essa vitória sobre Nelson somada a outra contra Cro Cop são duas no Sherdog, mas valem meio no meu caderninho moral. Mir está em decadência, apesar de seu bronzeado e discurso apontarem para o contrário.

Roy Nelson apanha com chantilly. Deve ser um lutadores mais prazerosos de se espancar. Não sangra muito, então não cria nenhuma sensação de culpa ou maldade, não cai, então pode apanhar mais, e no final está sempre rindo parecendo que gostou. Nelson não pode lutar em alto nível. Quem tem um mínimo de conhecimento de preparação física sabe que Nelson só não perde aquela barriga porque tem alimentação de obeso completamente desproporcional para uma pessoa saudável, imagine atleta, ou tem um tumor embotado que a Comissão Athlética não consegue diagnosticar. Se perder toda a barriga ele desce para peso médio e ainda será parrudo. MMA de alto nível não é agüentar ser espancado e não cair, é ter desempenho, é oferecer perigo, ser competitivo. Isso ele não é. Vercer Schaub e Struve foi o máximo que conseguiu e com uma luta contra Mitrione se desenhando, sua carreira no UFC está com a data de validade impressa. Vai ter mais tempo para assistir aos eventos de casa comendo pipoca e tomando coca-cola ao invés de estar competindo. E, francamente, acho que vai até preferir.

Tiago Alves VS Rick Story

Incrível o que paixão faz conosco. Como esse esporte embaralha nossa percepção de tanto que gostamos dele. Como explicar Story passar de quase desconhecido e azarão para ser considerado um dos melhores do mundo e super talentoso apenas por vencer Tiago Alves como outros tantos já venceram? Nem o alquimista realizaria tal transmutação com tamanha velocidade.

Tiago é vibrante, carismático, potente, mas não gosta de MMA. Seu sonho é ser contratado pelo K1 ou ter alguma cláusula nos eventos do UFC que forcem seus adversários a aceitarem a troçarão com ele. Um campeão como Pierre contamina o esporte e mostra que para ser campeão basta ganhar, não importa como, e muitos estão segundo isso. Quantos mais admiram Pierre, menos aceitarão lutas emocionantes e corajosas. Quem poderia aceitar uma troca clara com Tiago hoje em dia? Dan hardy e poucos outros. Mesmo assim, em MMA profissional, o fantástico é imposto na marra e Tiago não anda conseguindo fazer nada de relevante com seus adversários. Estagnou no muay thai que já é excelente e sublimou todo o resto. Qualquer lutador com um talento razoável em wrestling pode vencer o brasileiro sem grandes dificuldades. Em defesa de queda, Tiago ainda está no prézinho e dali não quer sair. Verdade que em certo momento, com as costas na grade, desferiu uma joelhada alta, em um contragolpe belo e letal demais, na distância do jab, quase colado, o joelho subiu e zuniu rente ao queixo de Story. Se pega a história do universo seria diferente e ele teria voltado ao topo da categoria, mas de “se em se” o Botafogo já foi até campeão do mundo. Fato que não pegou e Tiago está se mostrando um lutador não apenas unidimensional, mas obsoleto.

Rick Story é daqueles lutadores que aparece vez em quando e sempre lamentamos quando acontece. Um wrestler sem inspiração, com um boxe mediano, mas muito condicionamento físico e um queixo de adamantium. Não dá para derrubar na porrada, não dá para derrubar em quedas, mas ele também não faz muita coisa com essa vantagem técnica e suas lutas tendem a ser parelhas e os resultados questionáveis. Quase nunca realmente vence ou realmente perde. Quase sempre o justo seria empate. Uma luta entre Story e Pierre seria a primeira disputa de cinturão que eu pediria para me acordarem no quinto round.

Story venceu por pouco como sempre, mas venceu. Derrubou alguma vezes, caminhou pra frente e disfarçou bem não ter sentido alguns socos precisos de Tiago. Ganhou porque fez mais coisas, foi menos passivo. Nem um pouco brilhante ou especial, apenas mais ativo. E Tiago tem que parar de acabar lutas aonde realmente perdeu e levantar os braços ou fazer cara de surpreso. È constrangedor. Se ele realmente acha que venceu essa luta com o pouco que fez, deve achar que merecia pelo menos um empate com Georges St.Pierre.

Tiago merece ser casado com alguém com coragem de trocar em pé. Nem toda luta de MMA tem que ser entre atletas que vão disputar o cinturão. Acima da relevância do combate, tem a emoção. Alves pode ainda ser muito útil para o esporte se a organização do UFC o tratar com mais carinho, porque se depender dele próprio, não oferecerá muito mais.

Story é apenas um esforçado e suas próximas lutas provarão isso. Apenas esforço e preparo são cabos muito finos para sustentarem uma carreira sem talento. O americano voltará a ser lutador de meio de evento em um ano.

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