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terça-feira, 16 de novembro de 2010

ANÁLISE - UFC 122: Marquardt Vs Okami


Mídia e governo alemães não parecem muito interessados em MMA, no UFC ou na persona autoritária de Dana White e vem boicotando o esporte já faz um tempo. Se podemos dizer que foi um ato corajoso da Zuffa e Dana colocarem de pé outro evento em solo alemão mesmo assim, nadando contra a maré, também é verdade que se a idéia é provar ser MMA e sua maior organização um esporte legítimo e viável, deveriam ter caprichado mais na qualidade do card. O que era para ser uma prova de força do UFC acabou saindo como o restaurante que não tem muitos clientes e, ao invés de fechar as portas, começa a servir comida de pior qualidade.

Yushin Okami VS Nate Marquardt

Marquardt é um grande lutador do ponto de vista técnico, isso é inquestionável. Não há uma área do MMA sobre a qual não recaia sua lucidez e bom domínio. Bom nas quedas, na defesa de quedas, boa trocação e um bom jogo de solo. Também é forte, explosivo e imprevisível. Um dos poucos lutadores no planeta que podemos realmente chamar de completo sem dar justificativas. Mas tem alguma coisa muito errada com as sinapses nervosas que, em mini impulsos elétricos, fazem seu cérebro funcionar. Em computador chamamos esses defeitos que aparecem de tempos em tempos de BUG. A impressão é que há um vírus dentro do sistema de Nate que o impede de lutar sempre que a disputa por cinturão se aproxima. São várias as metáforas e algumas boas explicações técnicas, mas aqui, em bom português, todas querem dizer que ele amarela mesmo. Depois de estrear no UFC esteve irreconhecível em todas as lutas que fez onde o título do peso médio estava envolvido. Contra Dean Lister (vitória que o credenciou a disputar o cinturão), Anderson Silva, Sonnen e Okami. Mesmo quando triunfou lutou extremamente mal. Mas nas lutas entre essas ele foi incrível. Digno de ser considerado por muitos o segundo no ranking da categoria. Nesse UFC 122 a rádio pirata que zoou com suas transmissões de Nate mais uma vez foi o mais ocidental dos orientais, Yushin Okami.

Se Okami estivesse vendendo hamburgers no McDonalds nós compraríamos um e sairíamos sem nem perceber. Um bom lutador, duro, tenso, que agüenta o atrito e causa impacto, mas com carisma zero. Tudo o que mantém Urijah Faber ainda relevante na mídia especializada e entre os fãs apesar de ter 3 derrotas nas últimas 6 lutas é o que falta a Okami que tem apenas 2 derrotas nas últimas 14 lutas. Por mais que o japonês lute bem, parece que ninguém se importa. E foi com esse espírito de cão sem dono que ele entrou nesse UFC. Dar ou não show, lutar ou não excitantemente não muda nada na carreira de Okami fora do octagon, onde mídia e investidores parecem não reparar no seu trovão. Então entrou apenas para ganhar a luta, mesmo que de modo desinteressante. Nem um yen a mais. Fez o que teve que fazer e se beneficiou de ter pela sua frente um Marquardt desativado.

Okami não lutou tudo o que sabe, mas lutou o suficiente para tirar Nate de sua frente pela corrida até o cinturão que ele provavelmente nunca conseguirá. É um lutador que merece essa chance muito mais do que seus predecessores, Thales, Maia, Cote, mas vai subir para encarar o vencedor de Anderson X Belfort como se não devesse estar ali. Mais uma mostra de que MMA ainda é tão mídia quanto mérito atlético.

A corrida de Marquardt pelo cinturão já virou uma peregrinação. Dá até pena vê-lo dizer que ainda se considera o melhor do mundo mesmo depois de ser espancado pelo Sonnen ou que venceu a luta contra Okami. Ele parece perseguindo um oásis no deserto. Mais do que o melhor camp de treinamento do mundo aonde ele se prepara, Nate precisa de um psicólogo. E dos bons. Depois que se tornou um contender e enfrentou Anderson Silva, perdeu 4 lutas e venceu 5. Campeões começam o seu reinado por dentro com confiança e raça como pilares básicos, mas o cinturão pesa tanto em suas costas que nuca pesará em sua cintura.

Alexandre Cacareco VS Vladimir Matyushenko

Cacareco não deveria estar ali, naquela noite, no UFC 122. Não por não merecer, porque já fez por merecer faz muito tempo. Ele é o melhor lutador de chão em MMA oriundo da luta livre, uma máquina de força e explosão muscular. È o tipo de cara que pode estilhaçar uma perna se o adversário não bater a tempo. Cacareco, junto com Fabio Maldonado, já finalizado por ele, são dois lutadores que tem sua grande chance agora, meio tarde. Mas diferente de Maldonado que teve uma noite aonde tudo deu certo apesar do nervosismo, corte de peso e coisas da vida do atleta, na noite de Cacareco tudo deu errado. Foi chamado encima da hora, não teve como se preparar adequadamente, seu peso não estava ajustado e ainda levou alguns golpes claros na nuca que o juiz preferiu não ver. Nada disso desvia da realidade que Cacareco lutou mal demais. Entrou com medo, lento, sem confiança. Quando foi atingido com golpes na nuca, já tinha cedido a montada, protegido a cara como se fosse um amador e virado de lado. Num movimento que, quem luta, sabe que é quase pedir para parar sem bater. Lutou mal, decepcionou. Era uma coisa tão importante para ele e família e carreira que tinha que ter superado tudo e tido um desempenho mais visceral. Parecia alguém que passa fome há semanas e quando chega o prato de comida diz que está com pouco sal. Cacareco merece outra chance porque ele é muito melhor do que vimos. Ele pode ser um lutador relevante no peso desde que encaixe seu treino, preparação física e psicológica. Dana White costuma ser benevolente com lutadores que aceitam chamados para lutarem sem muito tempo para treinar. Ele os tem como alguém que veio em seu auxílio e Cacareco deve ter mais uma chance no maior evento do mundo, no mínimo, por causa disso.

Vladimir Matyushenko é um lutador competente. Tem grandes vitórias sobre Pedro Rizzo, quando ainda estava no auge, e Minotouro, mas tem derrotas para todos os outros bem ranqueados que enfrentou como Arlovski, Ortiz, Jones e o próprio Minotouro numa revanche. É bom de quedas e defesa, agüenta apanhar e sabe infligir dano, mas estava com a carreira estagnada, lutando em micro eventos até que ao final de 2009 foi convidado para voltar ao UFC. Vinha de uma vitória e uma derrota quando foi chamado. Era mais uma questão de colocar lutadores de nome e baratos para prestigiar o card. É a mesma lógica por trás da contratação de Gilbert Yvel e Phil Baroni. Inquestionavelmente são lutadores interessantes, mas já em fim de carreira. Tem muita gente no peso melhor que esses fora do UFC, mas multas contratuais e diferença de valor de bolsas dificultam sua aquisição. Matyushenko em sua terceira luta na volta ao evento foi eviscerado pela estrela Jon Jones, como era de se esperar. Quem achava o contrário não conhece o trabalho de Jones ou é saudosista e lembra do Matyushenko de 10 anos atrás. Sua carreira estava sob judice de novo e seria uma vitória contra Cacareco que poderia mudar as coisas. A vitória veio numa luta sem graça aonde o brasileiro não lutou. Se Dana quiser tratar com carinho Vlady, dará lutadores de meio de tabela e novatos para ele desmantelar com sua experiência e frieza típicas, mas se quiser colocar a sua frente lutadores top no peso, a próxima luta do bielorusso pode ser a última do contrato.

Carlos Eduardo Ta danado VS Kris McCray

È sempre bom de ver lutadores de chão que não cedem a pressão de sair trocando como bêbados só para dar show, ou que no mínimo tem a confiança de que jiu-jitsu ainda é uma arte incompreensível para a maioria e letal quando aplicada a perfeição. Da mesma maneira que um lutador de chão pode intensificar os treinos de wrestling, mas nunca fará frente a um campeão na modalidade, o mesmo é válido para wrestlers que treinam jiu-jitsu, sambo ou artes de finalização. Nunca compreenderão completamente a corrente infinita de transições de posicionamento de solo. Carlos Eduardo ta danado é mais um a vir nos provar o óbvio. Entrar na guarda de um lutador de jiu-jitsu de alto nível é tão perigoso quanto trocar socos com Badr Hari. Ta Danado teve a melhor estréia possível finalizando o mediano McCray. Ele fez o que bons lutadores fazem quando pegam lutadores fracos. Atropelam. Se o nome do outro atleta, por si só, não será grande medalha na farda, que o modo dominante da vitória tome esse lugar. Ta danado está invicto, com 8 finalizações em 9 vitórias. Um grande lutador para repararmos em 2011.

McCray é um esforçado. Um dos finalistas do TUF menos aproveitáveis de todas as temporadas. Perdeu a final do programa para Court McGee lutando como se não fizesse a menor questão. Falta sangue nos olhos, falta raça, falta técnica, falta muita coisa para McCray, que pode ter feito sua última luta pelo UFC.

Dennins Silver VS Andre Winner

Muitos dos maiores atletas do mundo, tecnicamente falando, se encontram no MMA. Se manter no topo e competitivo durante anos, seja num estilo aberto e cheio de floreios como o de Anderson Silva ou num estilo mais travado como o de Rashad Evans, não é fácil. Que parece para o observador mais despreparado como apenas um lutador bom de trocação ou um lutador bom de chão, na verdade é o ápice de anos de treino e domínio ou grande conhecimento de todas as valências do combate. Se Anderson não fosse razoável em wrestling e bom de solo, nunca conseguiria se manter em pé para dar os shows que já deu, se Rashad não fosse bom de boxe, nunca teria o tempo perfeito para acertar quase 100 % das quedas sem ser atingido antes. Quando um lutador é unidimensional, por melhor que seja naquilo, não terá uma carreira muito expressiva. È o Caso de Andre Winner. Bom de trocação, leve, agressivo e dono dos chutes mais poderosos do peso leve, simplesmente não consegue solidificar a carreira porque não entende que MMA é um encaixe de peças improváveis. Um trocador pode ser nocauteado por um wrestler apenas por não entender a base inicial da queda e confundir com um movimento de golpe swingado. O erro pode levar o atleta a achar que vem um soco e acabar por baixo ou, pior, achar que vem uma queda e acabar dormindo. Nesse UFC 122 Winner mais uma vez, perdeu uma luta que vinha ganhando apenas por esquecer que MMA é mais do que trocar e girar. E Silver, que não é bom em trocação, mas acumula bons nocautes, conseguiu mais uma vitóra fruto de um poderosso knock down. Um lutador voluntarioso que faz de tudo um pouco, por isso encontra as brechas deixadas por quem só é bom em uma coisa.

TWITTER: @nicoanfarri

4 comentários:

  1. Apenas uma anotação para deixar o texto mais completo: Siver venceu Winner com um Mata-Leão, no Primeiro Round, não com um Nocaute.

    Depois de ver uma crônica sua na penúltima edição da Tatame, que comprei a um tempo atrás, fui atras do teu blog na internet, e acredite: não perdi viagem! Com certeza, irei ver as demais postagens antigas, mas esse primeiro gole de informações do UFC 122 foi ótimo, alem de explicado e bem resolvido, você usa frases interessantíssimas, como: " mas o cinturão pesa tanto em suas (nate) costas que nuca pesará em sua cintura. "

    Um texto simpleste maravilhoso para quem gosta do mma.

    Aguardo mais postagens!
    Abraço.

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  2. Eu escrevi que Winner ganhou com nocaute? hahah

    Obrigado pelo elogio.

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  3. HA!

    Voce mudou o texto, nao tinha: '' mas acumula bons nocautes, conseguiu mais uma vitóra fruto de um poderosso knock down ''

    haha

    ou to louco? rs

    nao tira teu merito!

    abrass

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