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domingo, 29 de agosto de 2010

ANÁLISE - UFC 118: Edgar VS Penn 2


Cinturão em jogo, disputa pela chance de desafiar o campeão e um embate quase filosófico entre uma luta e o esporte que mistura todas elas. Esse UFC 118 foi melhor pelo que representou, pela essência do que vimos do que pelo produto final. Como uma manga rosa de aroma delicioso, mas que se mostra ainda meio verde ao corte.

Nate Diaz VS Marcus Davis

O melhor combate do card principal foi entre o menino problema que a América odeia amar, Nate Diaz e o contínuo do MMA, Marcus Davis. A granada irlandesa de Davis não explodiu e Diaz, fora uma gracinha no começo que lhe custou algumas carimbadas da logo UFC no crânio, não teve dificuldades para dominar com precisão e alcance. Um estrangulamento ao final do terceiro round quase custou a Davis mais do que a luta, já que o árbitro por ter achado que o mais irlandês dos americanos estava se fingindo de morto, demorou para dar a luta por encerrada, mesmo depois de balançar seu braço e não obter nenhuma reação como resposta. Mais alguns segundos e Davis poderia ter pago o preço da incompetência do árbitro com mais do que algumas células cerebrais. Parabéns para Nate que agora só precisa se decidir em qual peso vai tentar seguir sua carreira, já que flutuar entre as categorias se mostra mais vantajoso para o bolso do que para o cartel.

Gray Maynard VS Kenny Florian

Gray Maynard poderia ser patrocinado por uma marca de remédios para dormir já que toda luta sua nos induz a um sono profundo. Não fosse eu um amante de MMA e intrigado por ver como ele superaria o sistema de auto upgrade de Kenny Florian, teria marcado um encontro com Morfeu, com certeza. O pragmatismo tático de Maynard é tão preciso que chega e incomodar. Ele luta de maneira matemática, parece que cada movimento é calculado. Não há fantasia nem emoção, mas também não há erros ou fendas para o adversário aproveitar. Um adversário chato de ser vencido e de ser assistido, mas um digno desafiante ao cinturão. Kenny precisa passar alguns meses no Tibete ou tomar a pílula vermelha para expandir a mente e encarar lutas decisivas ou por cinturão, com a mesma coragem e criatividade que encara todas as outras. O resultado poderia até ser o mesmo, mas ele sairia do octagon se lamentando menos.

Demian Maia VS Mario Miranda

Demian Maia não lutou nesse UFC 118 ele passeou na terra abandonada chamada Mário Miranda. Esse é um bom exemplo de porque o casamento de lutas é uma arte. Agendar um confronto entre dois lutadores TOP é fácil. Mesmo que a luta não corresponda as expectativas, terá vendido bastante pay per view. Complica quando o casamento é entre um dos melhores no peso e um menos conhecido e competente. Num casamento inteligente, temos uma luta interessante e disputada como a de Minotouro e Jason Brilz, mas num casamento mal feito, temos Demian e Miranda. Vitória de um dos melhores atletas brasileiros sobre um que nem sabe ao certo porque estava lá. Miranda merece mais uma chance contra alguém que também esteja carregando nas costas o peso de ainda não se sentir em casa no maior evento do planeta.

Randy Couture VS James Toney

Os americanos amam Randy Couture, parece um cara legal, daquele que nos emprestaria dinheiro para pegarmos um ônibus, mas ele tem talento suficiente para não precisar fazer lutas bizarras como essa. James Toney parece um dos homens primitivos e brutais dos quais todos os seres humanos da atualidade um dia evoluíram. Uma criatura agressiva e intrigante que se adequaria melhor ao interior de um bloco de gelo perdido em alguma montanha do Alasca, ou aos ringues de boxe onde trucidou a maioria de seus oponentes durante anos. Para Dana White a vitória fácil de Couture provou que MMA é superior a boxe, mas para mim provou que ele está mais preocupado com cifras do que com a evolução do esporte.

Frank Edgar VS Bj Penn

A vitória de Frank Edgar sobre o lendário B.J. Penn em seu primeiro combate roubou do ex-campeão mais do que seu cinturão dourado, roubou sua alma também. O sempre eufórico e confiante Penn parecia empalhado antes da luta. Olhar perdido de quem perambula pela rua pensando num modo de contar para a esposa grávida que acabou de ser demitido. Alguma coisa estava desencaixada. Alguma conjunção astral não estava alinhada. Penn não estava lá. Seu corpo estava, seu espírito, não. Edgar, que não está nem aí para esses dilemas da alma, zapeou ao redor do ex-campeão com a velocidade de quem transita entre duas dimensões, como se fosse sair tremido em qualquer foto, independente de flash. Edgar parece um caiaque com motor de lancha, energia demais para um receptáculo tão pequeno. Incansável, leve, imparável, decidido e corajoso, superou Penn, sem dificuldade nos 5 rounds. Se Penn realmente estava com a cabeça fora da luta, podemos dizer que Edgar fez o que tinha que ser feito e terá em Maynard um desafio muito maior. Mas se Penn usou de todas as suas habilidades e apenas pareceu lento e sem foco por conta do dinamismo nuclear de Edgar, então presenciamos o começo de um longo reinado no peso leve.

TWITTER: @nicoanfarri

2 comentários:

  1. Sensacional! Fiquei realmente impressionada com a qualidade da escrita, as metáforas, os detalhes.
    Eu assisti ao evento e, ao ler o texto, pude me transportar para aqueles momentos novamente e perceber as sutilezas dos mesmos, que tinham passado em branco.
    Sem média, sem piegagem...como jornalista e fã do esporte, meus dois polegares pra cima pro seu texto. Excelente!
    Abraço

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