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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

ANÁLISE: UFC 133 - Rashad VS Tito


Esse UFC 133 foi o mais previsível que um bom evento de MMA pode ser. E se é verdade que não houve grande surpresa, também é fato que quando MMA se desenvolve como esperamos é, no mínimo, um bom sinal. Excelentes performances dos favoritos que não lhes rendeu mais do que vitória no cartel, porque a progressão de suas carreiras já estava sedimentada em concreto por Dana White. Em caso de vitórias, Rashad disputaria o cinturão do meio pesado, Belfort não teria sua revanche contra Anderson, Ebersole não se credenciaria como TOP contender do meio médio e McDonald continuaria a uns 2 anos de distância de ser considerado postulante ao título. Mesmo assim, com futuros já decididos em caso de bom resultado, os quatro tiveram suas melhores performances nos últimos anos num evento mais justo do que emocionante.

Rashad Evans VS Tito Ortiz

Rampage, Thiago Silva, Forrest Griffin, Chuck Liddell, Michael Bisping e Stephan Bonnar eram todos considerados TOP 10 do peso quando foram vencidos por Rashad, que além de ser ex-campeão meio pesado, também venceu o TUF que catapulta quase instantaneamente qualquer lutador ao status de estrela do MMA. Mesmo assim o americano é vaiado sempre que entra no octagon. Na verdade é vaiado até em pesagens e coletivas de imprensa. Contrariando a desinformação por parte da imprensa nacional de que lutadores brasileiros são hostilizados no exterior, Rashad foi vaiado quando ainda era detentor do cinturão em sua luta contra Lyoto Machida. Evans pode ser eleito presidente que vai ser vaiado na Casa Branca, mas a altura dos decibéis de seus detratores não abafa a realidade de que é um dos maiores lutadores da atualidade.

MMA é tão show que constantemente esquecemos de ver beleza na performance estritamente física e tática. Luta após luta Evans dá exemplos de evolução em preparação física, estratégia e objetividade. Da mesma maneira que meio milhão de dólares do valor de qualquer quadro de Basquiat está sem sua trajetória de vida e condições aonde o pintou, e a outra metade na arte que vemos na tela, Rashad só é admirado se for valorizado por completo. No dia da luta é cansativo de assistir. Insiste demais no que dá certo e transforma o combate numa seqüência de tentativas e acertos aonde sobra eficácia e falta emoção. Mas Rashad é especial por tudo que sempre envolveu sua carreira, de dramas pessoais até a transformação de um peso pesado parrudo e sem resistência aeróbica, em um meio pesado veloz e com o melhor condicionamento da categoria.

Esse Rashad reinventado pelo desejo de vingança contra seu ex treinador Greg Jackson e seu ex companheiro de treinos, atual campeão e projeto de lenda viva , Jon Jones, dois que acusa de terem o traído, talvez tenham colocado mais sangue nos vasos de seus globos oculares do que Tito Ortiz estava preparado para suportar. Verdade que Tito aceitou a luta apenas um mês após vencer o TOP 10 Ryan Bader muito mais por motivos financeiros e por ter lhe sido prometido que em caso de derrota não o cortariam do evento, do que real desejo ou presunção de vencer. Ortiz entrou com o espírito dos atletas das antigas, foi para encarar mesmo, o show não pode parar. Foi linda sua vitória mês passado e foi comovente seu esforço. Acredito que lá no fundo de seu ego tinha um filhote de sonho de vencer e desafiar o campeão, mas a realidade em MMA é violenta e mastiga ilusões. Nem o coração enorme que sempre teve foi suficiente para amortecer tipo air bag a joelhada que Rashad encravou em seu tórax. Tito tombou e a coragem que restava vazou pelo furo no peito, tipo embarcação com convés rachado.

Tito perdeu, mas foi aplaudido antes e depois da luta. Vai curtir as férias, seus filhos e voltar na corda bamba mais uma vez. Diferente de Joe Stevenson que só foi cortado depois da quarta derrota seguida, Ortiz vai estar sempre a uma derrota de ter sua carreira terminada. É assim mesmo, faz parte das regras do jogo. Parte culpa nossa que nos desinteressamos muito rapidamente por determinados lutadores, parte de Dana que está construindo um monopólio aonde fora do UFC não há mais grandes bolsas para mega estrelas, parte culpa desse esporte mesmo, onde épicos e tragédias caminham juntas.

Rashad venceu sem vibrar. Se preparar para encarar o puro sangue Phill Davis e pegar Ortiz é como acordar para ir a escola num sábado e lembrar que não tem aula. Estávamos até preparados para ir, mas é tão gostoso poder voltar a dormir. Rashad quer o cinturão e vai ter que passar por dois arqui rivais para consegui-lo. Ou uma revanche contra o nêmeses Rampage, ou o clássico ainda não escrito contra Jones. Venha quem vier ele tem que estar preparado para mais vaias. Depois de vencer os queridos do público Chuck e Forrest e o querido vintage, Ortiz, uma vitória sobre um dos dois mais populares não vai adicionar pontos ao seu carisma.

Vitor Belfort VS Yoshihiro Akiyama

O debate sobre quais são os melhores lutadores, quem merece ser chamado de lenda ou não vai se desenrolar para sempre. Não há consenso em temas que envolvem paixão e opinião. Mas é fato que Vitor Belfort é um dos maiores porta vozes do MMA. Sempre com um papo direto oferecendo aos fãs respostas objetivas, um cara cordial no dia a dia, junto a sua família tanto fisicamente quanto em discurso. Belfort inspira idéias positivas de saúde, luta por ideais e etc. Independente de qual religião que sigamos, torcendo contra ou a favor, ele é um ícone positivo do esporte. Belfort entrou extremamente preparado contra Akiyama e se lutassem 10 vezes, o brasileiro venceria 11, mas o golpe que selou sua vitória foi ilegal.

Claramente um atleta com a explosão, velocidade e força destrutiva de Belfort não precisa nem tem a intenção de desferir golpes não permitidos para se sagrar vencedor. Não precisa tecnicamente desse recurso e não aplicaria propositalmente por questões morais. Belfort não tentou trapacear, como parte da imprensa afirma, mas ele aplicou sim um diretaço ilegal na nuca do adversário praticamente inconsciente e sem defesa. A culpa, no entanto, não é do atleta e sim do juiz.

Belfort alega que Akiyama já estava praticamente apagado quando acerou o golpe ilegal sem intenção. Concordo, mas a luta só é dada por terminada quando o juiz interfere. Seja verbalmente, seja em movimento. Se o adversário está caído com a cara no chão, mas o juiz não faz nenhuma menção de parar a luta é porque, para ele, ainda está valendo e considera o atleta em condições de reagir e está dando alguns segundos de tolerância. Se nesse micro milésimo de segundo um golpe ilegal é desferido, a luta tem que ser parada, o atingido levado para avaliação médica e dado 5 minutos para recuperação. Caso não tenha condições lhe é concedida vitória por desclassificação. Essa seria a regra interpretada sem gorduras. Apenas depois que Belfort dispara o direto na nuca é que o juiz dá um passo em sua direção para terminá-la. Belfort ainda atinge um segundo golpe, mas aí sim, depois do fim. O ponto decisivo é que o juiz foi levado a tomar a decisão de interferir após o golpe ilegal. Não após a saraivada de socos, não após Akiyama cair com o rosto no chão. Mas sim após o golpe na nuca. Portanto ele deu o combate por finalizado após um golpe ilegal. Por menos que isso Charles DoBronx teve sua vitória contra Nik Lentz Anulada.

Juiz de MMA é como bandeirinha em futebol. Uma questão de timing difere a interrupção perfeita que protege o atleta, de um gol irregular por 1 centímetro de impedimento. È assim mesmo. Belfort fez o que tinha que fazer. No frenesi do combate, quando a criatura está solta, enquanto o juiz não puxar a coleira quase nenhum atleta para. Ainda mais num momento decisivo da carreira. Diferente de Dan Handerson que claramente queria assassinar Bisping, Vitor apenas continuou atacando. O que me intriga é porque a luta não foi parada quando o japonês caiu de rosto no chão e com um braço reto para traz, claramente fora de combate.

Belfort preparado é quase imbatível e é assim que vem se apresentando desde que resolveu baixar do meio pesado. Rápido demais, consciente e naturalmente talentoso demais para quase qualquer adversário. A chance de Akiyama já nasceu morta no dia que assinou o contrato. Nem golpe de sorte poderia dar a vitória para o asiático que acabou por ir ao chão após dos potentes socos que só atingiram o ar e a parafina de seu cabelo. Ou talvez tenha sido atingido pelo mais poderoso dos golpes, o medo. Um golpe invisível e preciso que o colocou a se arrepender de ter entrado no octagon depois de não agüentar nem Bisping ou Leben, para enfrentar Belfort. Levando em conta o desnível de preparo, força e tantas outras coisas temperadas com lambança de juiz, tem sorte de estar caminhando em linha reta atualmente.

Dana White disse que tentou convencer Akiyama a descer de peso, sem sucesso. Não há mais espaço para lutadores parrudos em MMA de alto nível, fora do peso pesado, e talvez nem o público nipônico que a Zuffa quer tanto seduzir seja suficiente para mantê-lo na organização.

Se tem alguém no peso que eu realmente gostaria de ver contra Anderson é Vitor. Apesar de derrotado rapidamente é verdade que ninguém impõe tantos reais problemas para o campeão. Uma vitória de Stann sobre Sonnen talvez o creditasse como desafiante mais justo, mas desde quando o casamento de lutas em MMA se dá por justiça de cartel? Vantagens e desvantagens de ser um esporte/show. Pelo show, Belfort seria o melhor adversário, imagino a batalha verbal sincera que seria reativada como ogivas nucleares que estavam apenas escondidas. Emocionante. Não dá para casar muitas outras lutas com tanto talento real de ambas as partes. Mas Dana declarou que essa não ocorrerá agora. São reais as chances de Dan Handerson assinar com o UFC e ter sua revanche imediata com Anderson, ou se a luta pelo cinturão foi mesmo para o vencedor de Stann/Sonnen, talvez sobre até um Handerson VS Belfort. O peso médio que tantos diziam ser fraco, hoje em dia pode não ser o mais técnico, mas é um dos de maior apelo emocional.

Belfort venceu com soco na nuca, mas venceria de qualquer outra maneira. Um lutador fantástico e devastador que deveria tirar da cabeça essa obsessão da revanche e entender que seu legado e importância para o esporte vão muito além de vencer ou não Anderson Silva.

Brian Ebersole VS Dennis Hallman

Brian Ebersole é um veterano do esporte mesmo sendo mais novo que Rashad Evans. Com mais de 60 lutas, 15 sendo realizadas no mesmo ano de 2002, seu corpo já pagou o preço. Se Juba e Lula são vovôs garotos, Ebersole é garoto vovô. Uma criança que presencie guerras, tragédias ou dramas familiares cresce cicatrizada, se desenvolve de maneira diferente das outras. Um atleta com essa quantidade de lutas, mesmo ainda novo, tem dificuldade em manter performance de alto nível contra outros de sua idade com apenas 10 combates. Experiência não é de muita utilidade contra lutadores tecnicamente equivalentes e muito mais fortes, velozes e com menos contusões.
Após a luta declarou que tem mais uma no contrato e gostaria que fosse contra outro veterano. Matt Hughes seria seu sonho. Depois, se o UFC tivesse interesse em mantê-lo no card ele toparia uma corrida pelo cinturão pegando os TOPs da categoria. Interessante e comedida postura, mas Ebersole com o ground and Pound mais visceral dos últimos anos, excelentes defesas de finalização, tamanho e boa trocação poderia fazer luta dura contra qualquer atleta do peso.

Dar cotoveladas é uma arte. Tanto em pé quanto no chão. É difícil aplicar real força, difícil achar a distância, muitos relutam em usar o golpe por medo de danificarem as próprias articulações do cotovelo. È um golpe decisivo, uma brecha no sistema do UFC, uma concessão a velha regra que é mantida sem motivo aparente e questionada por muitos, mas da qual Hughes, Couture, Jones e outros campeões fizeram bom uso. Posso afirmar que Ebersole ensinaria uma coisa ou duas sobre como aplicar cotoveladas a qualquer um destes. Violência é mais perigosa quando embrulhada em calma, e Brian despedaçou Hallman com a tranqüilidade de quem come um petit gateau.

O futuro de Ebersole já foi decidido por ele e Dana. Não há muito o que especular. Vai pegar outro veterano e ano que vem, talvez, comece a encarar lutadores no seu real nível. E sobre Hallman, que entrou, apanhou, fez escracho de um esporte que ainda luta para conseguir o respeito que merece e sua sunga de go-go-boy, deixo aqui linhas em branco como meu protesto silencioso. Não sei o que será de sua carreira, não me importo e, convenhamos, nem ele parece se importar.

Rory MacDonald VS Mike Pyle

Costumo achar cômica a mudança de apelido que alguns lutadores promovem tentando revigorar sua carreira ou mudar a imagem frente ao público. O caso mais clássico foi Tim Sylvia ter passado de “grizzly bear” (urso pardo) para “Maine-iac” ( um trocadilho com a palavra maníaco e o estado de Maine). Mudança que não veio acoplada a nova postura dentro ou fora do octagon, nem lhe atraiu novos fãs. Na verdade, junto com Rashad, é um dos lutadores mais desprezados de todos os tempos. Mas a mudança de “waterboy”, para “Ares” realmente pode ser vista nas performances de Rory MacDonald.

Quando ainda estava sobre o manto da psique do waterboy, Rory era como o personagem do filme de Adam Sandler a quem fazia alusão. Um talento relutante, Dom Périgon num copo de plástico. Um lutador extremamente talentoso que se escondia atrás de uma postura de aprendiz, espinhas na cara e cabeça baixa. Relutância que lhe rendeu a única derrota a 7 segundos do final do último round pelas mãos do incansável Carlos Condit. Verdade que Rory foi melhor a luta toda, verdade que fraturou o maxilar de Condit, verdade que superou um dos veteranos mais talentosos do MMA em quase todos os aspectos, verdade que o juiz poderia ter esperado mais 7 segundo até o fim do round e deixar os árbitros laterais lhe entregarem a justa vitória. Mas ele estava levando golpes limpos na cara, sem tentar reagir muito mais por letargia, por estar numa quina psicológica, tipo criança gordinha que tira a camisa na frente da menina que está afim, do que por não ter forças para reagir. Perdeu de olhos abertos, ainda em condições de lutar, um vitória que já estava sendo digitada no Sherdog. O bully roubou sua lancheira.

No próximo combate ele já era Ares, o deus da guerra. Cabeça erguida, olhar agressivo, o mesmo peso com muito mais músculos, preparação física e técnica levada ao nível que ele pode alcançar. Manipulou e despedaçou Nate Diaz tipo massa de bolo e fez o experiente e perigoso Mike Pyle parecer amador. Rory vai ser um dos melhores lutadores peso a peso em uns 2 anos, e se continuar se alimentando de vitórias sobre excelentes adversários, talvez até antes.
Pyle, que vinha de vitória sobre Cachorrão e Hathaway ainda vai dar trabalho a alguns lutadores jovens no evento em que ainda deve lutar por muito tempo. A mistura de experiência, fama, espírito guerreiro de quem aceita luta até uma semana antes e bolsa bem abaixo do padrão estelar que os melhores cobram, agrada muito ao paladar do patrão Dana White.

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