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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

ANÁLISE: WEC 53 - Pettis VS Henderson


Quando começava a tocar a música Illuminati do Fatboy Slim a nossa pressão aumentava junto com a velocidade acelerada dos BPMs. O sangue fluía junto com a sensação de que uma noite incrível de lutas estava para começar e nunca, nunca houve decepção. Mesmo quando um WEC era fraco, estava entre os 10 melhores eventos do ano. WEC chega ao fim de modo explosivo pelo peito do pé de Pettis, e garante seu lugar no hall dos grandes que já se foram, junto a Pride, IVC e Meca.

O site Sherdog publicou seu bem conceituado ranking e nenhum lutador do WEC está entre os 10 melhores. Sherk e Dunham estão na lista, mas Ben Henderson, Anthony Pettis e Donald Cerrone nem aparecem. Um erro tendencioso que será corrigido sem piedade por esses que são 3 dos melhores lutadores leves do planeta.

O UFC é inquestionavelmente o maior evento do mundo e a fusão com o WEC funcionará como uma hemodiálise. O evento que já era o melhor, agora também fica mais veloz.

Anthony Pettis VS Ben Henderson

A melhor luta do ano foi uma colisão entre dois dos lutadores mais incansáveis do MMA. Mais do que uma batalha física foi um choque de egos, de sonhos. Faltando 1 minuto para o fim do último round era difícil apontar um vencedor, na minha contagem estava dois rounds para cada um e o quinto estava, até então empatado. Os dois já tinham tomado prejuízo em pé, quase sido finalizados, sofrido reversões, achado que a luta estava mais para o outro e agora mais para si. Era o mar se chocando contra a montanha, o sol parado no horizonte. Não havia vencedor claro e, poeticamente, nem precisava. Até que, um minuto para o fim da luta Anthony Pettis manufatura um dos movimentos mais emblemáticos da história do esporte. Toma impulso e com o mesmo pé que serve de apoio para quicar na grade chuta o rosto de Ben, que cai e se esparrama pelo chão. Em segundos esse movimento foi um dos 4 mais tuitados no planeta e apareceu em mais sites que a coletiva de imprensa do UFC no Rio. Faltando 1 minuto para acabar a luta, Pettis mostrou que tem coisa que só acontece em MMA.

Numa luta tão parelha que poderia ser descrita somente em movimentos, sem nem citar nomes de atletas, o pé de Pettis resolveu a questão. Rasgou a poesia toda, foi um tufão que transforma o mar em tsunami e submerge a montanha, acordou quem estava dormindo. É o golpe que faz o gordinho querer emagrecer e virar lutador, faz o filho chamar o pai para ver, coloca MMA no highlight do maior canal de esporte do planeta junto com futebol, basquete e todos os outros. È o movimento que cria novos fãs e emociona os mais antigos.

O esporte precisava desse chute, dessa porrada na cara, desse movimento. O vôo de Sakuraba para pisar Royce no chão, o suplex de Randleman em Fedor, o bate estaca de Sapp em Minotauro, o nocaute com um jab de Anderson em Griffin e alguns outros. Não é um mero golpe, é um momento. Um momento que dissolve certezas, invisível para o impossível, quebrador de paradigmas. Um chute que será dado trilhões de vezes nasceu no esporte que mais cresce no mundo, na última luta do ano, no último WEC da história, no último minuto do último round. MMA é assim. Por isso eu amo esse esporte.

Pettis vai disputar o cinturão com o vencedor de Edgar e Maynard. Vamos ver se o pragmatismo técnico de um desses grandes lutadores será suficiente para agüentar a criatividade, violência e entrega total de um campeão forjado na categoria de peso mais disputada do WEC.

Benson Henderson tem tração, coração, ataca, finaliza, resiste e persiste. Foi vencido pelo incompreensível, pelo imponderável, mas não tem muitos atletas que tenham como fazer o mesmo. Ben vai dar muito trabalho a muito lutador TOP no UFC.

Dominick Cruz VS Scott Jorgensen

Cruz abaixa a cabeça e cambaleia pra frente, dá um passo de capoeira e corta pra trás, pendula para um lado, entorta para o outro. Parece que está em pé encima do caiaque. Ele não se move como uma pessoa normal. É uma colcha de retalhos de influências, de pedaços de estilos, e isso o torna um lutador único, indecifrável. Parece que tem imã nas mãos, porque não importa de onde ele as lança, sempre acertam o adversário. Seus golpes tem uma precisão enorme, mesmo disparados de um corpo em movimento tão errático. Parece que acerta o alvo equilibrado na corda bamba. Cruz tem carisma, aparência boa e um estilo peculiar. Ele e José Aldo são os dois campeões das duas novas categorias de peso do UFC. E que grandes campeões.

Scott Jorgensen é um lutador agressivo e dinâmico, mas Cruz não o deixou mostrar nada disso. No UFC, lutas dele contra Dunham, Sherk, Guida, Gomi, já vem com o carimbo de luta da noite.

Donald Cerrone VS Chris Horodecki

Se Cerrone se levasse a sério, coisa que nem seu treinador Greg Jackson consegue convencê-lo a fazer, ele poderia ter lutado pelo cinturão nesse WEC 53 e até saído como desafiante ao título no UFC. Mas Cerrone não quer ser campeão, ele quer lutar, quer ser maneiro, ter estilo e essas coisas. Por mais que seja de se lamentar sua falta de ambição, ele é talentoso demais e os momentos em que fez guarda contra Horodecki poderiam ter sido gravados por Paquetá e mandados secretamente para muitos treinadores de MMA no Brasil.

Jiu-jitsu pode ser uma arte agressiva, e em MMA, com limite de tempo, tem que ser. O rosto de derrota que muitos atletas brasileiros da arte suave fazem ao serem jogados ao chão, chega a ser digna de estudos. Como se cair por baixo fosse estar em posição de desvantagem. Nunca foi desvantagem para Minotauro, Sakuraba, Maia, Sotiropulos, Aoki, Toquinho, Royce e outros que agridem por baixo. Cerrone mostrou porque um faixa preta de jiu-jitsu tem que ser temido no chão. E se não for, se o adversário achar que é só se espatifar de barriga na guarda e ficar lançando socos, pagará o preço. Cerrone abriu a guarda e atacou, justo e preciso, até finalizar o jovem e experiente Horodecki.

Se Cerrone tivesse feito as lutas que fez no WEC, no UFC, já seria um favorito dos fãs. Todas as suas lutas são um barato, pra frente, chocantes. Revejam a primeira contra Ben Henderson ou a segunda contra Jamie Varner . O Cowboy ainda vai laçar e dominar muitos TOP 10 do peso no UFC.

Horodecki periga ser cortado ou fazer uma luta pelo contrato no card preliminar. Tem raça, luta e deixa lutar, mas não parece estar no mesmo nível estelar em que esse peso agora se encontra depois da fusão.

Último Round:

Esse WEC 53 foi o último da linhagem de uma raça em extinção, um evento voraz, faminto, com lutas agressivas e sinceras. O WEC acabou semana passada, mas continuará vivo por décadas influenciando lutadores e empresários, quase um documento assinado e registrado em cartório sobre como MMA deveria sempre ser disputado.

twitter.com/nicoanfarri

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