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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

ANÁLISE: TUF Finale 12 - Brookins VS Johnson


As vésperas da coletiva de imprensa no Rio de Janeiro aonde Dana White anunciará a data em que o UFC virá para o Brasil em 2011, um dos assuntos mais comentados da semana é o erro grosseiro dos juízes laterais nesse TUF FINALE 12. Da mesma maneira que dia 15 de dezembro marcará um momento histórico para o MMA no país, os erros consecutivos e crassos na avaliação das lutas respingam na reputação desse esporte que deveria medir quem é o melhor lutador baseado em qualidades técnicas, táticas ou atléticas, e não quem tem a preferência dos juízes ou quem deu mais sorte naquele dia.

Leonard Garcia VS Nam Phan

Garcia tem raça, coração, uma cabeça de paralelepípedo e nada além disso, mas são características suficientes para ser um lutador empolgante de ver. Todas as suas lutas são movimentadas ou bem disputadas e por mais que nunca vá disputar o cinturão, nos oferecerá seu crânio para impacto até que haja algum dano cerebral. Garcia luta por nós, pelos fãs, faz o melhor que pode sem dar desculpas ou fugir do contato. É um cara para ser admirado ou, no mínimo, respeitado. Mas ele não venceu essa luta contra Nam Phan.

Nam é veloz, tem um bom repertório de combinações em pé e tem um jiu-jitsu razoável em MMA, mas é a sua busca constante pela vitória, pelas brechas deixadas pelo oponente que o fazem um lutador interessante. Ele e Garcia fizeram uma luta bruta e rude durante 3 rounds que deveria ter sido o ponto alto do evento, mas não foi. Na verdade a luta perdeu quase toda importância tendo em vista os acontecimentos do lado de fora das grades.

Se Lyoto teve um pacote de figurinhas roubado na luta contra Rampage, Nam teve sua conta de banco devassada e cartões estourados contra Garcia. Lyoto foi vítima de um sistema complicado de julgamento, Nam foi vítima de incompetência ou má intenção. Phan venceu com clareza os 2 primeiros rounds e sobrou para Garcia o terceiro que, na minha opinião, ele também perdeu. Mas os juízes Adalaide Byrd e Tony Weeks viram diferente. Olharam para o cavalo e chamaram de bode. Nenhum profissional que tenha conhecimento claro das regras erra de modo tão bisonho. No McDonalds quem tentar fritar um hambúrguer sem ligar a chapa é demitido. Não tem conversa. Dana White chegou a pagar bônus por vitória para Phan tamanho o ultraje.

Temos que entender a proporção do problema. Boxe foi o esporte de contato mais rentável durante anos até que, dentre outros fatores, começou a ser acusado de ter lutas compradas e juízes vendidos. Essas suspeitas existem desde que o primeiro esporte foi inventado, mas quando um atleta que espancou seu adversário até quase a inconsciência por 12 rounds perde na decisão dos juízes, a mídia e fãs percebem que há alguma coisa nefasta. Não se trata de uma questão de decisões tendenciosas. Não é mais uma questão de manipulação de resultados controversos, é um roubo descarado. Se esse tipo de questionamento sobre a veracidade das lutas foi matando um esporte milenar como boxe, imaginem o que pode fazer com um esporte tão novo como o MMA. O golpe pode ser fatal.

O comentarista do UFC Joe Rogan disse ao longo da transmissão que há alguns poucos bons juízes cercados de um bando de incompetentes idiotas que não entendem nada do esporte. Deveriam todos ser mandados embora porque eles estão matando o MMA, dando a impressão de que há corrupção, quando o que há é muita incompetência. Steve Cofield, jornalista da Yahoo Sports, acha que Joe está falando demais. Que já está difícil regulamentar o MMA em Nova York por acharem ser muito violento e que declarações de que os árbitros são incompetentes só dificulta ainda mais. Ele foi além e disse que a maioria dos fãs se esquecem de resultados polêmicos depois de uma semana, então, a imprensa deveria bater menos nessas questões.

È verdade que a alta imprensa veicular a opinião de que todo o sistema de julgamento do esporte é falho e cheio de incompetentes não é positivo, mas é menos positivo ainda o que pode acontecer se quem tem visibilidade ficar calado. Primeiro pisam na nossa grama, não dizemos nada, daqui a pouco estão entrando na nossa casa. Todos nós, imprensa ou fãs, que em MMA ainda estão muito misturados, tem que se manifestar frente a demonstrações claras de má intenção ou incompetência nesse nível. Temos que defender o que acreditamos, tomar o remédio amargo antes que a doença se generalize.

Keith Kiser é o responsável pela NSAC. È ele quem contrata e demite os juízes e é verdade que já demitiu vários após erros como esse, mas não adianta mandar embora quem comete um erro por incompetência e contratar outro com as mesmas deficiências. MMA tem que ser julgado por amantes do esporte ou ex lutadores. Tem sutilezas dificílimas de serem percebidas por que não pratica lutas ou realmente amam o esporte.

Houve roubo nesse TUF FINALE 12. Nos roubaram a diversão, nosso momento de curtir o esporte que amamos, nos roubaram a verdade e a tranqüilidade, mas se ficarmos quietos é porque roubaram nossa vergonha na cara também.

Nam Pahn venceu Leonard Garcia nesse FINALE.

Uma curiosidade para quem gosta de teorias conspiratórias: Nos 3 resultados mais polêmicos do ano, os 3 lutadores prejudicados tinham alguma descendência asiática. Lyoto (filho de japonês) VS Rampage, Chan Sun Jung (koreano)VS Garcia, Nam Phan (descendente de vietnamitas) VS Garcia.

Jonathan Brookins VS Michael Johnson

A luta entre os dois finalistas da décima segunda edição do Ultimate Fighter foi uma das melhores lutas do ano. Um grande combate não precisa ser cheio de golpes no rosto até o último round. Em K1 talvez sim, em MMA não. Há vários modos de uma luta se desdobrar de modo emocionante. Apesar de alguns comentaristas terem como maior referência de Brookins a surra que ele tomou de José Aldo, eu prefiro ver pelo lado de como ele agüentou quase três rounds de espancamento nas mãos de um dos melhores do mundo.

Brookins saiu da derrota certa pelos punhos explosivos de Johnson para virar a luta nos dois últimos rounds. Quem diria que Michael, tão mais baixo e com menor alcance, acertaria tão claramente o rosto de Jonathan, quem diria que ele agüentaria a explosão com tamanha violência dessas luvas tão pequenas e cheias de mão dentro no meio da cara, quem diria que a chave para a reviravolta seria Brookins derrubar um excelente wrestler uma, duas, três vezes? Grandes lutas são assim. Diferentes do que antevemos.

Brookins tem um cartel sólido, é muito alto para o peso, muito competente no chão, sabe dar quedas, sabe agüentar adversidades, sabe apanhar sem perder a calma, é preciso, sabe quando golpear, sabe controlar o ritmo da luta e, quando tem a chance, quando consegue uma posição de domínio, raramente cede. Mas sua maior característica não é nenhuma dessas. É ser um cara muito legal. É feio pra caramba, mas é um excelente porta voz do esporte. Educado, humilde de verdade, tanto na derrota quanto na vitória, tem discursos sobre amizade e respeito. È importante para o MMA, que ainda é visto como esporte bárbaro para tantos, um atleta como esse. Um cara comum no dia a dia, uma pessoa agradável, que tem seu destaque aonde atletas de verdade tem que ter, dentro do octagon.

Michael Johnson é apenas um lutador esforçado e com um cartel irregular demais. Me surpreendeu St.Pierre e Koscheck apostarem tanto nele como o vencedor dessa temporada do TUF. Se Johnson quiser fazer carreira no UFC como é seu sonho, deverá começar por ajustar seu peso. Pequeno demais para o peso leve, ele deveria descer, da mesma maneira que Brookins acertou seu peso ao subir para os leves.

Demian Maia VS Kendall Grove

O domínio tranqüilo de Maia no solo mostrou que faixa preta gringa é azul aqui no Brasil. Grove, que é considerado um bom lutador de chão, se limitou a ficar por baixo e parado, encolhido dentro da toca com medo do bote da serpente. Sem um ataque ou qualquer coisa que provasse ser ele um lutador conhecedor jiu-jitsu. Parecia um amador com medo de ser finalizado no primeiro treino. Um desempenho constrangedor de um lutador que já almejou estar entre os 10 melhores do peso. Ninguém parece mais muito interessado em ver Grove lutar e acho que ele já percebeu isso.

Demian Maia sofre do mesmo mal que Okami e Condit. Não tem carisma e não voltará a disputar o cinturão fazendo lutas mornas como essa contra Grove e anterior contra Miranda. Não fossem os acasos da derrota de Sonnen e contusão de Belfort, ele não teria nem disputado o cinturão do peso contra Anderson. Se Maia quiser outra chance precisa terminar as lutas antes do tempo regulamentar. Mostrar que ele apesar de não concorrer ao prêmio de Mr. simpatia, ainda é um dos melhores lutadores do peso. Mas ganhando lutas, por pontos, de modo lento e sem emoção, isso não vai acontecer tão cedo.

Stephan Bonnar VS Igor Porkrajac

Bonnar não agüenta mais. Se ofereceu para espancar e ser espancado tendo os fãs como testemunhas por muito tempo. Seu corpo quebrou. Os ossos da sua cara devem estar cheios de rachaduras. Ele sabe disso. Um golpe bem dado por rachar sua cabeça como uma casca de ovo. O Bonnar impetuoso de antes, desmontou. O que vimos nesse Finale foi um lutador que ainda quer muito fazer uma coisa que não consegue mais. Era claro seu desconforto ao tomar golpes no rosto e sua vontade de levar a luta para o chão. Porkrajac tem socos fortes, retos, mas Bonnan já resvalou porradas muito mais fortes que essa sem andar pra trás. Bonnar está bem perto do fim da carreira no MMA e Porkrajac perto do fim do contrato com o UFC. Uma última luta entre Bonnar e Griffin, uma terceira revanche, poderia agradar aos americanos e finalizar de modo lógico sua curta e interessante carreira. Porkrajac vai acabar em eventos de menor expressão e por lá vai ficar.

twitter.com/nicoanfarri

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