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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

ANÁLISE: DREAM DYNAMITE 2010 - Overeem VS Duffee


Milênios atrás os japoneses misturaram peixe cru com arroz e deu certo, mas achar que misturar regras e lutadores de eventos diferentes pode salva-los da falência anunciada, é “coisa de japonês”. O maior evento asiático do ano é confuso até no nome. Seria DREAM-Dynamite, K-1-Dynamite, FEG Dynamite, DREAM K-1-Dynamite ou apenas Dynamite? Nem os maiores sites de MMA do mundo chegam a um consenso e isso é reflexo de todo o conceito por trás dessa madrugada de lutas. Um evento enorme, arrastado, com casamento de lutas desnecessárias e 4 variações diferentes de regras. Lutas nas regras do K-1, lutas nas regras do DREAM, luta sem luvas não valendo socos no rosto e luta com um round nas regras do K-1 e outro do DREAM. Aqui seria uma sopa de entulho, lá, podemos chamar de sopa de tofu.

Um card com muitos bons lutadores e lutas por cinturão, arruinado por uma decisão desesperada por parte de seus organizadores. Se a história e o destino estavam esperando um péssimo evento para selar a falência dessas grandes organizações, pode ter sido esse. O DREAM de fim de ano foi um desastre.

Alistar Overeem VS Todd Duffee

Overeem mostrou que quando casam um lutador que sabe bater contra um que não sabe apanhar, o resultado é nocaute em menos de 20 segundos.

Overeem é um dos melhores lutadores de MMA do planeta, só Dana White não acha. E vai continuar não achando até conseguir contratá-lo para o UFC, aí começará a dizer que ele é TOP 10. Muitos dizem que o holandês toma anabolizantes, mas ele passou no antidoping olímpico para a luta contra Rogers no Strikeforce, outros dizem que ele só sabe bater, mas das suas 34 vitórias 19 foram por finalização, alguns ainda dizem que ele tem queixo de vidro, mas é o atual campeão do Grand Prix do K-1. O certo é que Overeem é um espécime que poderia ser saído do mesmo tubo de ensaio de onde um dia saiu Mark Kerr. Um lutador enorme, agressivo e decisivo. Um dos maiores da atualidade em peso e em violência. Uma luta dele contra Junior Cigano seria dinamite. Mas dinamite com pólvora seca para explodir, e não esse Dynamite de fim de ano que só faz puft!

Todd Duffee se divide entre ser lutador de MMA, estudante de direito, modelo fotográfico e garoto propaganda de uma revista de musculação. Como ele não é Georges St. Pierre, acaba meio confuso entre as atividades e não tem performance satisfatória em nenhuma, ou, pelo menos, não na que nos interessa. Nos ringues e octagons de MMA.

Sua vitória por espancamento sobre Assuério Silva no Jungle Fight 11 mostrou um atleta jovem, poderoso, com muitos buracos técnicos, mas que tinha tudo para se tornar um expoente no esporte. Dois anos depois ele continua com as mesmas qualidades e os mesmos defeitos, que um nível mais alto de competição não perdoa. Duffee vem com um botão de “snooze” no queixo. Parece que é só apertar que ele dorme mais 5 minutinhos. Perdeu por nocaute, o segundo seguido, e não pareceu muito abalado. Ele e fãs vão dizer que aceitou a luta em cima da hora e essas coisas, que são verdade, mas um lutador profissional que luta com a desculpa para a derrota na ponta da língua tende a acabar dormindo, debruçado sobre as cordas, com o nariz apontando para o chão.

Hiroyuki Takaya VS Bibiano Fernandes


Os comentaristas devem ter saído com a garganta arranhada de tanto que gritaram para tentar nos convencer que a luta pelo cinturão do peso pena do DREAM estava sendo emocionante. Numa luta sem shoyo, sem socos certeiros, chutes ou qualquer coisa que faça uma luta ser motivante, Bibiano perdeu na decisão para Takaya. Fosse essa luta nas regras do UFC, eu teria dado a vitória para o brasileiro que venceu os dois primeiros rounds, ou um empate, já que o segundo foi bem equivalente. Mas a luta não foi na América e o domínio no último round rendeu os louros ao japonês.

Marius Zaromskis VS Kasushi Sakuraba

Sakuraba já teve o osso do malar afundado, o orbital fissurado, ligamentos do ombro rompidos, várias lesões nos joelhos, fissuras na face e, nessa luta, quase ficou sem orelha. Um dos maiores lutadores de todos os tempos vai se desmantelando e deixando cada vez um pedaço diferente pelo chão, junto aos fragmentos do coração partido dos fãs mais antigos que já o viram até voar.

Sakuraba perde por interrupção médica quando sua orelha parecia prestes a se separar do corpo.

Zaromskis ainda vive da glória dos 3 incríveis nocautes seguidos que conseguiu em 2009 com chutes na cabeça no GP do DREAM para conquistar o cinturão do meio médio. Sua fama meteórica o levou a uma temporada fracassada nos Estados Unidos e retorna vencendo Sakuraba pela defesa de seu título justamente conquistado. Zaromskis sabe dar bons chutes altos e nada mais. Vai se manter campeão do peso no Japão enquanto a organização quiser vê-lo contra atletas asiáticos, independente de qualidade, ao invés de prová-lo contra competidores de melhor nível.

Sergei Kharitonov Vs Tatsuya Mizuno

Mesmo quem está de dieta, pode comer palmito. Não faz mal, não engorda, tem quase zero de carboidrato e etc. Quando os japoneses querem que determinado lutador saia do ringue com vitória certa é só colocá-lo contra Tatsuya Mizuno. Fora Manhoef, que ele venceu num dos resultados mais surpreendentes do século em qualquer esporte de combate, Mizuno fez 5 lutas contra lutadores mais renomados e perdeu as 5 antes do fim do segundo round. Um lutador tecnicamente medíocre que só ganha a vida nesse esporte por ser japonês.

Kharitonov fez sua segunda luta em dois anos. Uma derrota em 2009 e essa vitória em 2010. Só. Porque ele está tão fora circuito super aquecido do MMA é digno de estudos. Talvez o baixo custo de vida do país onde more não faça necessário mais do que isso para viver bem. Quem sabe? Dizer que ele faria frente aos melhores do peso lutando como luta agora, é uma inverdade saudosista. Mas que ele, em forma, seria uma excelente adição a qualquer card, isso é verdade.

Shinya Aoki Vs Yuichiro Nagashima

Eu tinha dado o prêmio de momento mais ridículo do MMA no ano de 2010 para a derrota de Duffe no UFC 114 e para a derrota de Marcus Aurélio para Aoki no Dream 16. Era um empate técnico. O primeiro, um gigante de 120 kilos espancar seu adversário por 3 rounds e acabar sendo nocauteado com um peteleco de raspão, o segundo, um faixa preta de jiu-jitsu ser dominado e colado ao chão por 20 minutos sem esboçar nenhuma reação fora tentar defender o rosto. Mas a derrota de Aoki nesse DREAM arrancou nos segundos finais e pegou para si o prêmio.

Clovis Bornay era Hours concours nos concursos de desfile de fantasias no Rio de Janeiro. Como ninguém conseguia vencê-lo lhe concederam essa honra, o consagraram como imbatível na categoria para outros poderem ter chance também. Por mais que ele continuasse desfilando, ele não competia mais. Essa derrota por nocaute de Aoki recebe a mesma honra. Nada na história do MMA, nenhum nocaute em um segundo, nenhuma fuga pelas cordas vai superar essa infâmia.

O primeiro round da luta era nas regras do K-1, aonde Nagashima é campeão. Aoki rodou, correu, pulou com os pés no peito, subiu nas cordas e fez tudo o que achava divertido na tentativa de humilhar seu adversário e desrespeitar uma outra forma de competição. Contou piada para ele mesmo rir, fez papel de moleque e tirou para bobalhões os milhares de fãs que estavam ali para ver um combate entre dois homens.

No segundo round, nas regras do MMA, Aoki partiu para definir. Já tinha mostrado que esse esporte chamado K1 aonde só vale soco e chute não é de nada mesmo, e entrou de modo amador nas pernas de Nagashima. Tão amador que levou uma joelhada no rosto e caiu dormindo, ridículo e desmoralizado em 4 segundos.

Nagashima vence nas regras do MMA um dos melhores lutadores do peso no mundo. E Aoki mostra que para ser um dos grandes é preciso ter um grande coração, ser homem de dentro pra fora, e apesar de ser um lutador fantástico, isso ele não é.

Último round:

Esse foi um evento de K-1, MMA, os dois ou nenhum? MMA precisa de seriedade para se firmar definitivamente. È um esporte que não para de crescer, mas ainda está na festa dos granfinos sob olhares desconfiados. É super violento, ultra explosivo, cheio de marketing e mídia poderosas, sem seriedade para juntar tudo num pacote profissional, se torna um circo.

Para mim, o ano acabou de modo glorioso no chute de Pettis.

Um comentário:

  1. Nico,

    Tenho que concordar: " Overeem é um dos melhores lutadores de MMA do planeta, só Dana White não acha."

    Ele vê Overeem com os mesmos olhos que olha pra Fedor, um bom lutador, nada mais, isso fora do seu circo, pois lá dentro, faria parte do show principal, comandando a noite.

    *

    O MMA no Japao se ainda nao morreu, ja encomendou seu caixao, nao há mais brilho nos eventos de lá, o sucesso que o Pride trouxe e levou embora, nao irá acontecer novamente...

    Os textos continuam otimo, Nico.

    http://silvamma.blogspot.com/ < MMA, veja tambem, oras.

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