Seguidores

domingo, 17 de outubro de 2010

ANÁLISE - UFC 120: Bisping VS Akyiama


Em 1989, numa partida entre Liverpool em Nottingham, o alambrado do estádio cedeu matando 96 pessoas naquela que é considerada a maior tragédia esportiva em solo inglês. Nesse UFC 120, apesar de nenhuma morte ter ocorrido, mais uma tragédia marcou o esporte na Inglaterra. Num card principal feito a mão para os fãs bretões se deliciarem com vitórias expressivas de seus maiores astros, o que viram foi, um a um, caírem melancólicos diante de adversários supostamente inferiores. Não fosse a vitória de Bisping, teria sido um sábado completamente negro para os ingleses. Mas, se ele salvou o evento para seu país, para nós, fãs, não foi suficiente. Um evento arrastado e sem inspiração que teve seu ponto alto nas vitórias de Fábio Maldonado e Paul Sass, no card preliminar.

Michael Bisping VS Yoshihiro Akiyama

Numa luta que prometia ser explosiva, vimos dois lutadores reticentes em engajar uma real trocação e se limitarem a jabs longos e diretos previsíveis. Era mais uma questão de quem ia se deixar hipnotizar primeiro por esse balé sem graça de antebraços e luvas a ponto de ser atingido, do que quem iria partir para o ataque efetivamente. Akiyama que chegou ao UFC com status de estrela asiática decepcionou mais uma vez. Tem raça para agüentar socos na cara, mas não tem raça para tentar desferi-los. É extremamente conservador na quantidade de golpes que distribui, mas parece bem liberal na quantidade que leva. Akiyama parece confundir disposição e show para os fãs com andar para frente e se deixar atingir. Não será cortado do UFC por ser importante estrategicamente para os planos de inserção no continente asiático. Um main event entre ele e Wanderlei, no Japão, é um dos sonhos de Dana White. Bisping venceu a luta, talvez, por querer um pouco mais. Encontrou um adversário com alcance curto e lento, e mesmo assim fez o suficiente para capturar uma vitória incontestável, mas que ninguém vai fazer questão de ver o replay. Se há um plano de carreira traçado para Akiyama, o de Bisping é menos ambicioso. Continuará como carro chefe do UFC no crescente mercado inglês e só. Pode vencer mais 50 lutas, que não disputará o cinturão do peso enquanto Anderson Silva, ou qualquer lutador realmente top estiver lá. O UFC não permitirá que Bisping seja desmantelado mais uma vez, como aconteceu contra Dan Handerson.

Dan Hardy VS Carlos Condit

Sempre fico admirado com a capacidade que algumas pessoas tem em cair e se levantar como se nada tivesse acontecido. É necessária uma alquimia bem especial, ingredientes como perseverança precisam ser misturados com doses exageradas de cara de pau. Dan Hardy parece saber essa receita de cor. Depois de se auto proclamar um dos melhores do mundo ao vencer o nada especial Mike Swick por decisão, e dizer que nunca um lutador o dominou no octagon, após a derrota para St. Pierre, aonde não conseguiu desferir um jab sequer, Hardy terá um teste de verdade para a eficácia de sua poção. Ser nocauteado, em seu país, no primeiro round, depois de ter registrado em cartório que faria o contrário, poderia ser uma questão desagradável de resolver, mas não para ele. Vai levantar a cabeça, sacolejar o moicano, dizer que ninguém no peso tem coragem de trocar em pé com ele e vida que segue. Carlos Condit, ex super estrela do WEC, aonde dominou o peso leve e se sagrou campeão, continua sua trilha no UFC. Se fizermos de invisível a derrota bem controversa para Martin Kampmann, ele acumula 11 vitórias seguidas. Condit prova que MMA é tão show quanto esporte quando apesar de grande atleta, ocupa apenas tirinhas e breves matérias na mídia internacional por conta de sua falta de carisma. Condit é um bom lutador que precisará mais do que de grandes vitórias para brilhar no mercado feroz do MMA, que consome tanto talento quanto personalidade. Hardy vai ficar um tempo sem lutar, tanto pela suspensão natural aplicada pela comissão atlética por conta do nocaute que sofreu, quanto pela dificuldade que o UFC vai ter em achar um adversário que não vá colocá-lo para dormir de novo.

Cheik Kongo VS Travis Browne

Kongo vem se esmerando na arte de fazer lutas chatas. Seja na vitória sobre Paul Buentello ou derrota para Cain Velasquez. Kongo não faz uma luta empolgante desde sua vitória sobre Mirko Cro Cop em 2007. Que também não foi uma boa luta, mas, pelo menos, foi surpreendente. Tantos outros lutadores com desempenho bem melhor foram cortados por estarem abaixo dos padrões do UFC. Mas Kongo é o lutador francês de maior destaque. Tem sua carreira cuidada com extra cuidado por conta de interesses mercadológicos do UFC com determinados países. O italiano Sakara, o filipino Munoz, o inglês Bisping e o japonês / coreano Akiyama são alguns exemplos de lutadores que independente de performance sempre terão uma segunda chance. Um movimento inteligente por conta do gerenciamento do UFC, mas injusto esportivamente com tantos outros mais talentosos cortados por conta de limites de orçamento. Browne, que não é garoto propaganda de país nenhum, precisa lutar melhor do que vem lutando para manter seu contrato em vigor. Lento, displicente e com preparo físico de amador, conseguiu um empate na medida já que nenhum deles merecia sair de lá com uma vitória no cartel. O resultado mais justo, mas que só pode ser dado no campo da moral, seria uma dupla derrota.

Paul Sass VS Mark Holst

Se o jovem inglês Paul Sass resolver abandonar a carreira de lutador profissional por algum motivo, poderia vir para o Brasil dar aula de jiu-jitsu aplicado ao MMA para muitos de nossos atletas, que insistem em afirmar que é difícil levar a luta para o chão como justificativa para trocarem socos durante 3 rounds. Sass não pegou ainda nenhum lutador de destaque, é verdade, mas é verdade também que sua volúpia e precisão na luta de solo são bem diferenciados. É um dos jovens lutadores que em uns 2 anos estarão no topo de seu peso, mesmo indo contra a tendência do MMA atual de lutar em pé e só derrubar se for para cair por cima. Holst é um lutador de mediano para baixo. Serviu apenas de carvão para a locomotiva de Sass. Vai fazer carreira profissional apenas porque o marcado americano é super aquecido e com infinitos pequenos shows. Mas fossem as possibilidades apenas os grandes eventos como UFC, Strikeforce e Dream, a sua carreira já estaria perto de terminar.

Fabio Maldonado VS James McSweeney

Desafia a biologia como há espaço no corpo do brasileiro Fábio Maldonado para suas artérias e veias e músculos e tripas e tudo mais que compõe o organismo humano, se seu coração enorme já deve tomar tanto espaço. Qualquer ser humano normal sairia com breve perda de memória se fosse atingido pela metade dos golpes limpos que Maldonado sempre leva na cabeça, mas ele parece não se abalar. Talvez seja a fina camada de kevlar que cobre seus ossos faciais e ficam escondidos por baixo da pele, ou seja apenas uma vontade imensa, incontrolável, de vencer. Se nossos sonhos são combustível da alma, ele tem dois tanques cheios. E lutou como quem quer demais uma coisa, como quem peregrina de joelhos até Meca. Resignado, firme e decidido. Apanhou no primeiro round e venceu por nocaute libertador no terceiro um McSweeney egocêntrico e desleixado, que lutou como um milionário que pede lagostas sem saber como abri-las. Esqueceu que estava abrindo o card preliminar e lutou com a empáfia de um campeão que tem certeza da vitoria. Maldonado, aditivado pelo seu sonho de se sagrar campeão de verdade, acordou McSweeney para a realidade com um direto no estômago. Vitória de um brasileiro de corpo e alma. Uma luta entre Maldonado e Thiago Silva seria de quebrar ossos.

TWITTER: @nicoanfarri

3 comentários:

  1. e nico, que vc falou e uma, pura verdade!!

    ResponderExcluir
  2. Oi Nico,

    Parabéns pelo blog, um amigo acaba de me apresentar. Já cubri MMA, mas hoje lido só com boxe.

    Vou dar link do seu espaço. Gostei da sua linha de pensamento foge do lugar comum que toma conta do meio.

    Abraço

    ResponderExcluir