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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

ANÁLISE: STRIKEFORCE - Fedor VS Pezão


Num violento e comovente evento, Strikeforce funde esporte e emoção genuína num bom card que se desdobrou em ótimas lutas. O renascimento do Grand Prix, a queda mais funda do maior dos mitos e os primeiros passos de um grande lutador. Esse evento foi tudo o que o UFC sempre tenta ser e na maioria das vezes não consegue.

Fedor Emelianenko VS Antonio Silva “Pezão”

Pezão é um dos melhores pesados do mundo faz tempo, mas um caso mal resolvido de antidoping e a indiferença do UFC o vinham mantendo a margem do topo da mídia e conhecimento da maioria dos fãs. Enorme, pesadíssimo, bom jiu-jitsu, e com a caixa craniana e mãos recheadas de chumbo, é um dos lutadores mais complicados de se enfrentar no planeta. Difícil de derrubar, seja na mão, seja em quedas, assustador de se encarar numa troca franca de golpes e complicado de controlar no chão. Pezão é quase um animal e teve sua noite de gala nesse Strikeforce, brutalizando, sem respeito ou receio, o maior dos lutadores de MMA.

Tirando a realidade prática do caminho, uma questão ainda fica no ar. Teria Pezão conseguido suplantar Fedor se esse ainda estivesse no auge da carreira? Ou será que Fedor ainda está no auge e perdeu para um atleta mais completo? São essas questões que colocam em xeque sua qualidade que me fazem achar que ele deveria parar de lutar. Quando os fãs começam a achar que uma lenda talvez não tenha sido tão boa assim, é hora de abandonar o esporte. O agora é a cabeça do cometa, é o mais visível. È preciso o meteoro de dissipar, cessar o movimento, para podermos voltar a perceber o rastro.

Fedor já está em declínio faz anos, mas mesmo assim venceu lutadores TOP 10 na época como Arlovski, Sylvia e Brett Rogers. Mas luta a luta ele vem aparentemente perdendo a vontade de estar ali. Quando perguntando, anos arás, porque estava invicto, Fedor respondeu que talvez quisesse mais vencer do que seus adversários. Talvez seja isso. Wedum e Pezão pareciam querer muito mais derrotá-lo do que o oposto. O olhar de Pezão era uma mistura de fome, agonia, êxtase, ferocidade. O olhar de um cara que veio da Paraíba e tinha tudo para não contrariar as estatísticas e morrer seco e desnutrido. Esse olhar que diz muito mais do que a pupila mostra, é o olhar que fedor tinha. Mesmo calmo, mesmo frio, mesmo fundo, seu olhar escondia milhões de anseios e desejos e força e poder. Nesse Strikeforce não vi isso. Vi o maior de todos os tempos cumprindo um contrato, lutando apenas pelo esporte e não pela glória.

Fedor começou agressivo e se lançou a estourar as mãos contra a estátua da Ilha de Páscoa que Pezão tem no lugar da cabeça. Um primeiro round intenso, violento, mas que vazou o tanque de gasolina dos dois, que entraram sem gás no segundo. E cansados, o mais pesado e mais faminto se superou e superou o adversário. Fedor apanhou muito e agüentou. Por nós, pela sua religião, pela M-1, pela família, pela Rússia. Sabe-se se lá. O que está em vídeo é que ele agüentou quase 5 minutos e mais de 160 golpes diretos na cara de um lutador quase 30 kilos a mais. Só ele para passar por isso acordado.

Seu espírito agüentou, mas seu corpo não agüenta mais. O Capitão que afunda com o navio ainda está vivo quando sua embarcação, aparentemente tão mais forte, já foi destroçada.

Fedor perdeu aquela que deve ser sua última luta. E mesmo nesse que talvez tenha sido seu último round tivemos brandos lampejos de grandeza. Qual lutador conseguiria sair de um katagatame justo, encaixado e soldado, de Pezão depois de apanhar tanto tempo e possivelmente com os ossos do rosto estilhaçados? Só fedor. E pezão não desistiu da chave, Fedor saiu. Mais uma vez, só Fedor. E quantas vezes já não dissemos isso para nossos amigos, namoradas ou para nós mesmos? Fedor foi maior do que o esporte, foi mais alto que os muros nacionais, em sua bandeira russa tantos de nós viam a nossa própria, foi o incrível, o impossível, foi o “puta merda” que os narradores seguravam para não dizer ao vivo, foi o primeiro vídeo de MMA que mostrei para minha família, foi quem me fez deixar de apenas admirar esse esporte para amar. Para sempre será o maior porque ele transcende o momento e o espaço que respira, nos inspira, nos une, nos faz bem. Fedor é o maior lutador que o MMA já teve, mas hoje em dia já não é mais o melhor. Hoje, Pezão é melhor que Fedor Emelianenko.

As trombetas soaram anunciando o fim de sua carreira. Tomara que ele as ouça tão claramente quanto eu ouvi.

Sergei Kharitonov VS Andrei Arlovski

Arlovski começou a se confundir na carreira quando estreou seu protetor bucal em forma de dentes, que para ele são de pitbull, mas para quem conhece a raça, parecem mais de vampiro. A fama alcançada com o cinturão do pesado no UFC subiu a cabeça do nativo da Bielorússia. Afeito a noitadas, trabalhos como modelo, sonecas até tarde, Andrei não conseguiu fugir dos socos invisíveis que a mídia e o sucesso sempre soltam na linha de cintura das estrelas. Arlovski foi um grande lutador, mas muito menor do que poderia ter sido. Vindo de 6 vitórias até perder duas vezes seguidas para Tim Sylvia e entrar em conflito com Dana White sobre os valores de sua renovação de contrato, que acabou com seu corte da empresa, enfileirou mais 5 vitórias até encarar Fedor no Affliction.

Arlovski poderia ter sido mais do que um grande lutador, é verdade, mas aquele nocaute para Fedor sugou sua alma e a aprisionou em algum lugar remoto e desconhecido até para ele próprio, que hoje em dia entra para lutar vazio. Uma casca sem gema.

Kharitonov que não está nem aí para essas histórias do ocidente, rachou Arlovski ao meio. Verdade que Andrei estava melhor na movimentação, acertando mais golpes, mas um ovo nunca vai quebrar um pedregulho.

Dos grandes lutadores da era do Pride nenhum tem a carreira tão irregular quanto Sergei que parece ter renascido nesse torneio. Feroz, blindado e recheado de má intenção. Kharitonov não diz, mas veio para esse GP com o nervo pinçado pela vingança de ter sido esquecido de todos, isolado lá naquela terra do oriente chamada Japão, fazendo luta contra atletas de baixo nível, como se fosse um lutador qualquer. Alguém vai pagar por isso e ele já fez a primeira vítima.

Shane del Rosario VS Lavar Johnson

Grandes lutadores constroem seu legado vencendo outros grandes ou massacrando os menos qualificados para virar highlight no youtube. Shane está invicto em 11 lutas, apenas um adversário resistiu até o segundo round e o potente Lavar não conseguiu ser exceção. Um lutador veloz, explosivo, moderno e que vai ser bem conhecido em 1 ou 2 anos. Não troca de modo cadenciado, parte pra briga de braço mesmo, não tem medo de ser atingido nem de cair por baixo. Pensa rápido, tem um bom repertório de finalizações, carisma e nome de campeão. Cain Velasquez começou a carreira assim, espancando desconhecidos de modo empolgante.

Gostaria de ver Rosario contra Struve, Schaub, Cro Cop, Pat Barry ou Nelson no UFC. Seria uma aula para os mais jovens que pensam só haver grandes lutadores na empresa de Dana White e que o resto é segundo nível, ver um desses TOP 10 da organização ser facilmente desmantelado. Shane del Rosário é um grande lutador, mas a maioria dos fãs ainda não sabe disso.

twitter.com/nicoanfarri

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

ANÁLISE: UFC 126 - Anderson VS Belfort


Muitos fãs de futebol que viram Garrincha e Pelé jogarem dizem que depois disso ninguém foi realmente tão incrível. Outros dizem o mesmo de Fangio, Senna e Schumacher, Ali e Tyson e milhões dirão o mesmo sobre Anderson silva e Fedor Emelianenko com saudosismo daqui a anos. Num dos três melhores UFCs da década presenciamos mais uma apresentação com a assinatura do maior lutador que já caminhou sobre um octagon, a consolidação de um dos prováveis melhores lutadores de todos os tempos em Jon Jones e ainda Kid Yamamoto e Donald Cerrone escondidos que nem brinde de sucrilho nas preliminares.

Anderson Silva VS Vitor Belfort

Para os mais jovens e desinformados Vitor é um lutador de boa aparência, que aparece no Faustão, fez ponta em Malhação, marido da ex feiticeira e que iria “acabar com a marra” de Anderson. Para os mais antigos ele é bem mais do que isso.

Belfort nunca foi nocauteado, nunca foi posto para dormir. As vezes que perdeu por nocaute técnico é porque seu coração desistiu antes do queixo. Por algum motivo tem como habito se desinteressar pela luta quando ela se estende ou há muito atrito. Simplesmente deixava pra lá. Nunca foi conhecido como um lutador raçudo ou perseverante. Sempre que Belfort foi realmente atingido no rosto, perdeu a luta. Mas quando ele ainda está aceso, quando ainda está querendo estar ali, ele é quase imbatível. Tem o melhor boxe em MMA de todos os tempos, desde quando MMA ainda estava em estágio embrionário sob o apelido de vale tudo ainda não apareceram 3 lutadores com mais poder de nocaute do que ele, em qualquer categoria de peso. Excelente faixa preta de jiu-jitsu, excelente quedas e defesa de quedas, Belfort é o fenômeno. Um atleta completo e devastador enquanto ainda está focado na luta. E ele nunca esteve tão focado, querendo tanto uma vitória, tão ligadão nos reatores, tão vidrado e preparado quanto esteve nos poucos minutos em que coexistiu com Anderson no octagon.

Ele não foi nocauteado quando já tinha dado sua famosa esmorecida, ou quando seu gás ou meta haviam se tornado tênues. Ele foi desmantelado em seu auge, quando adrenalina deslizava veloz por suas veias, quando ele mais queria, mais achava que ia conseguir e com a força dos milhões de fãs junto com ele. Foi nessa hora que Anderson o tirou para quase nada. Anderson nocauteou a melhor versão, mais rápida, mais afiada, mais sedenta, mais preparada fisicamente do Vitor Belfort. Não se deixem enganar por quem disser o contrário.

È normal torcer contra um campeão. Para alguns é divertido vê-lo cair de tão alto. Eu prefiro torcer pelo magnífico, pela grandeza, mas entendo e respeito que alguns se permitam certa mediocridade vez em quando. Torcer contra Anderson é comum. È da natureza do esporte esse fluxo de sensações envolvendo alguém extremamente bem sucedido, mas posso afirmar que todos que o vaiaram no dia da pesagem e na entrada do UFC 126 sofrem de alguma espécie de distúrbio.

Parto da premissa de quem paga mais de mil dólares para ver a luta ao vivo ou pague uma mensalidade ao UFC club para ter direito a, dentre outras coisas, ver as pesagens, deve ser fã de MMA. E MMA só existe hoje dessa forma sólida e bem sucedida por conta de lutadores como Anderson Silva. Muitos que começaram a gostar do esporte hoje, com quase dois UFCs por mês, não sabem que o esporte quase faliu e se arrastava para colocar um evento de três em três meses. Foram lutadores como Anderson, Sakuraba, Fedor, Wanderlei e muito poucos outros que ficaram ao lado do MMA quando ele estava ligado a aparelhos. Foi o magnífico de suas apresentações que ecoavam ao redor do mundo e faziam o esporte parecer muito mais importante do que realmente era na época. Hoje há vários bons lutadores e boas campanhas de marketing, mas tempos atrás só havia performance. A grande propaganda era a qualidade da luta. Era mais cru, mais cruel. Vaiar Anderson, Liddell, Couture e outros é vaiar o próprio esporte que ama. È se chamar de bobão, é não saber quem descobriu o Brasil. Ou é, no mínimo, ser bem ingrato.

Anderson entrou na alma de Belfort logo no dia da pesagem. Vitor não é santo, adora dar desculpa para suas derrotas. Disse textualmente que foi roubado na luta contra Ortiz quando comentarista do SporTV (realmente foi prejudicado, mas a expressão “roubo” mostra que não teve nobreza na derrota), disse que o juiz interrompeu sua terceira luta contra Couture apenas por sangramento, quando na verdade estava sendo espancado sem esboçar reação. Mas é verdade que Vitor é um homem sério, apegado a família, vive fora de baladas e dessas vicissitudes a que muitos esportistas são afeitos. É um atleta profissional. Não ofende de maneira baixa, não xinga, não intimida. È um cara legal. Ele não esperava tanta agressividade e imponência vinda do campeão. Não se intimidou, mas Anderson jogou uma estrela ninja em sua psique.

Na hora da luta Vitor fez tudo o que falou que ia fazer, após um começo hesitante, partiu para cima, acertou dois socos quando Anderson começava a querer dançar, derrubou e já caiu soltando um cruzado cheio de maldade, forçou a luta como um grande lutador deve sempre fazer e teve o mesmo final de todos os que fizeram o mesmo. Acabou nocauteado, dormindo de olhos abertos. Tamanha foi a violência do chute e precisão nos dois golpes no chão que pode ter confundido as luzes do teto do estádio com a passagem para outra vida.

Anderson Silva presenteou mais uma vez uma maioria que insiste em querer vê-lo perder com um diamante. Reflete o insulto e as vaias com o fantástico. Transformou um chute bem conhecido em karatê, tae kwon do, capoeira e outras artes numa coisa única. Como a bola nos pés de Pelé deixava de ter vontade própria por respeito ao mestre.

O impacto desse chute só será realmente sentido daqui a uns dez anos, mas grandes ondas já começaram a sacudir a mídia nacional. Nunca foi tão comentado no Brasil um evento de MMA. Pessoas comentam no salão, na academia, no ponto de ônibus num boca a boca muito saudável antes exclusividade do futebol.

Estamos presenciando o último e mais magnífico ato de uma carreira grandiosa. Podemos assistir de pé, com o olhar fixo, ou sentados e vaiando. Cada um sabe o que mais lhe apetece a alma.

Jon Jones VS Ryan Bader

Da mesma maneira que Jon Jones afirma sentir que esse é seu momento, não sabe explicar, mas é como se sentisse que vai ganhar todas as lutas que fizer, posso afirmar que ainda escreverei muitas coisas sobre ele. Jones é um fora de série, não dá para medir apenas pelas sua credenciais. Já está bem além disso. Bader foi campeão da divisão 1 de wrestling e Jones apenas campeão na universidade. Mesmo assim Bader não conseguiu derrubá-lo e ainda foi dominado no chão como um iniciante. È o equivalente a um campeão estadual faixa azul de jiu-jitsu escovar um campeão mundial faixa preta em MMA. Pode acontecer é claro, desde que ele seja um gênio.

Jones é um caldeirão de influências. Treina e estuda tantas artes que sua mente ainda não consegue criar um padrão de luta. Vai dar um soco, muda de idéia no meio do caminho e vira uma cotovelada voadora. Seu cérebro parece ter mais capacidade de armazenamento que o normal. Parece que fica o dia todo na máquina de upload de habilidades do Matrix com aquela agulha encaixada na nuca. Simplesmente parece veloz demais, grande demais, inteligente demais, calmo demais, para qualquer peso meio pesado do mundo.

Percebi uma expressão de resignação no rosto de Shogun ao aceitar oficialmente a luta. Depois de se preparar para Rashad e saber que antes ofereceram a disputa para Rampage, pegar Jon Jones é como tirarem o sushi da sua frente, colocarem uma feijoada caprichada e deixarem para se virar com dois pauzinhos. Não vou dizer que o brasileiro não tem chances, qualquer pessoa com as valências mentais ainda intactas nunca descartaria Maurício Rua, mas nesse momento, Jon Jones parece simplesmente imbatível.

Bones fez Bader, invicto até então, parecer um lutador qualquer que nem sabia o que fazer no octagon ao finalizá-lo sem esforço no segundo round. Jones fica de pé, coloca as duas mãos junto à boca e abre os braços numa saudação de saltimbanco, de circo de Soleil, de David Coperfield. Ele sabe que o octagon é seu palco e o show está só começando.

Forrest Griffin VS Rich Franklin

Eu possuo extremo respeito por lutadores profissionais. Quem treina entende como esses caras são alguns dos maiores atletas do planeta, submetidos a alguns dos maiores regimes de treinamento suportáveis pelo corpo humano. Estar no topo, ou ter estado, é algo para se louvar e contar para os netos. È mais fácil escrever escrever cíticas num blog do que ser campeão como Forrest e Rich já foram. Mas quem, fora familiares, empresários e treinadores, realmente estava se importando com essa luta? Quem ganhar chega aonde e quem perder cai para onde? Para mim os dois são como o vovô que quer brincar com os netos de pique pega: “café com leite”. È claro que são lutadores competentes que vendem caro as derrotas, deixam o adversário sempre moído, fazem combates movimentados. Mas simplesmente parece que eles saíram do eixo, eles desencaixaram do quebra cabeça. A luta deles deveria acontecer em feiras de MMA como a UFC Fan Expo. Depois tomariam banho e dariam autógrafos rindo, como se nada tivesse acontecido. Até porque para eles vencer ou perder não faz mais diferença. Se apaixonaram tanto pelo processo que perderam uma meta maior.

Foi uma luta movimentada entre um enorme Griffin e um pequeno Franklin. Vitória do primeiro que não tem uma performance a altura de seu nome faz quase dois anos. A melhor coisa que Forrest Griffin fez nesse tempo foi seu excelente livro Got Fight.

ÚLTIMO ROUND

O UFC insiste em trazer estrelas asiáticas apenas quando elas estão em declínio. Kid Yamamoto está longe do auge de sua carreira, mas poderia ter vencido com facilidade Demetrious Johnson. Não venceu. Lutou de modo apático como Aoki lutou no Strikeforce, como Akyiama vem lutando, Gomi e Sakurai. Parece que colocam alguma coisa na água dos japoneses quando lutam nos EUA. Ou será exatamente o contrário? Impossível responder. Dana não ligou já que Kid deve ter sido contratado para fazer as pessoas curtirem a página do UFC no Facebook.

Sobre Donald Cerrone nas preliminares deixarei aqui meu silêncio em protesto. Basta dizer que ganhou o prêmio de luta da noite.

twitter.com/nicoanfarri

CRÔNICA 11 - QUINZE BILHÕES DE ANOS (Publicada na Revista Tatame edição 179)


Quinze bilhões de anos atrás uma explosão chamada pelos cientistas de Big Bang deu origem ao universo, 60 anos atrás Helio Gracie enfrentou Masahiko Kimura no Maracanã, 18 anos atrás Royce estreou no Ultimate Fighting Championship 1 e mudou a lógica do combate para sempre. Nesse ano de 2011 o UFC vem ao Brasil e o MMA vai explodir e fazer todos os outros esportes sentirem o brilho de sua presença.

Falem o que quiserem os detratores, 2010 foi um grande ano, cheio de surpresas e momentos poderosos que vão ser lembrados por décadas. Lamentamos a queda do maior de todos os tempos, Emelianenko Fedor pelas pernas em forma de triângulo multidimensional de Werdum. Fomos comovidos pela brutalidade sincera da maior lutadora de MMA viva, Cris Cyborg. Curtimos, sofremos e testemunhamos juntos o açoite e renascimento da lenda Anderson Silva. Vimos Cain Velasquez despedaçar Brock Lesnar e largar sua carcaça ensangüentada junto às grades para os abutres terminarem o serviço. Vimos a queda mais dramática do mito inabalável chamado Minotauro e o brilho cada vem mais intenso do dínamo José Aldo. Vimos o inatingível Lyoto Machida ser posto para dormir e dois brasileiros fazerem evento principal no Canadá. Barreiras foram derrubadas. Presenciamos desenvolvimento de futuros grandes lutadores como Jones, Erik Silva, Phill Davis, do Bronx e fim do WEC celebrado pelo mais fantástico, super muthafucking-neo-ninja, Van Damme style chute na cabeça do universo mapeado pela ciência, desferido por Pettis. Um golpe eliminador de realidades, de certezas absolutas, que só existe de verdade no MMA.

Nem mencionei a força destrutiva de Cigano, a primeira derrota por finalização de Sakuraba, o reinado infinito de Aoki no Japão, as derrotas de Penn para Edgar, os cinturões de campeão de Jacaré e Feijão no Strikeforce e tantas coisas. Cada um ter para si outros momentos marcantes, mostra como esse ano foi grandioso.

2011 começa em ritmo frenético. Talvez pela absorção do WEC pelo UFC. O melhor agora é também mais veloz. Aditivaram a gasolina. Seria Anderson e Belfort a luta mais esperada de todos os tempos ou seria a revanche de Werdum e Fedor? José Aldo vai trilhar o caminho que parece predestinado e se tornar um superstar, ou vai quebrar sob a pressão? Cigano vai quebrar Velasquez ou será mais um derrotado pelo quase mexicano em sua rota para se tornar uma lenda? Minotauro sairá de Creta mais uma vez ou seu tempo como um dos melhores está esgotado? Ele contra Brock Lesnar seria suficiente para lotar todos os assentos do UFC no Brasil? Será o ano do Dragão ou Lyoto foi decodificado? Tudo indica que St.Pierre subirá de peso definitivamente para clamar o cinturão dos médios. Seu pragmatismo entenderá os movimentos geniais de Anderson? Se Anderson teve dificuldades contra Sonnen, aguentaria Pierre? Será que Anderson ainda será campeão? Jon Jones vai dominar o peso com a facilidade que todos prevêem? Ele é capaz de fazer a divisão mais difícil do esporte parecer fraca? Charles vai alcançar seu possível potencial? O DREAM vai falir? O Strikeforce continuará crescendo e fazendo mega shows? O que é certo é que o UFC virá ao Brasil dia 27 de agosto e eu estarei lá.

Esse será o ano 1 para o MMA nacional. Revistas, jornais e TV sentirão um impacto revolucionário. Somos o coração dessa forma de competição, a luta está na nossa aura, dentro do nosso olhar. Muitos brasileiros ainda nem sabem que esporte é esse, mesmo assim temos grande parte dos melhores lutadores, dos maiores campeões, das maiores lendas e somos um mercado que só cresce. Imaginem quando o país todo souber quem somos nós e que esporte é esse que amamos. Vamos ajudar a desenterrar o tesouro.

IVC, MECA, PRIDE e UFC são os quatro maiores eventos já criados. Descendentes de uma linhagem de grandeza, de megalutas inesquecíveis, lutadores e momentos eternos. Pelé Vs Chuck Liddell, Mariano Vs.Wanderlei, Kerr VS Gurgel, Sakuraba VS Royce, Fedor VS Minotauro e tantas outras lutas que foram, aos poucos, construindo nossa paixão de hoje. Nos cabe lembrar das gerações passadas para entender e respeitar mais a nova. O UFC voltará ao Brasil e o esporte mudará de novo porque voltaremos a ser parte da equação. Voltaremos a ter voz ativa, a tomar nosso lugar de direito como país influente nesse esporte fantástico que criamos quase sozinhos.

Em 2011 grandes lutas vão acontecer, estrelas vão nascer e apagar, vamos nos surpreender, testemunhar e vibrar, sem frescura ou dor de cotovelo. O UFC será bem vindo e que comece a catarse. Que rache a casca da semente. Que exploda aqui essa bomba mágica que só constrói. Todas as partículas da criação convergem para esse momento. Que montem nos cavalos junto conosco, os fãs, ou que sejam atropelados pela manada. O UFC não virá apenas para cá nesse ano, ele voltará pra casa.

twitter.com/nicoanfarri